Seminário Literatura Gaúcha: Cena Contemporânea
Autores
Christopher Kastensmidt - A ficção interativa e sua aplicação na sala de aula
A ficção interativa é um gênero de literatura onde o leitor consegue interagir dinamicamente com o texto através de tecnologias digitais. Os livros de ficção interativa encontram-se em fase de pleno crescimento comercial. Devido à sua característica interativa e as possibilidades de inclusão social, a ficção interativa pode ser uma ferramenta poderosa na formação de leitores. Oferecemos nesta palestra uma descrição do gênero e sugestões para sua aplicação na sala de aula."
Marcelo Spalding - Literatura digital x literatura digitalizada
Literatura digital X Literatura digitalizada: por que e-books não são um bom exemplo de literatura digital; a criação literária em tempos de mídias digitais.
Spalding é editor do portal www.literaturadigital.com.br
Rodrigo Rosp - A influência digital na literatura em papel
Muito se discute qual será o futuro do livro e da literatura a partir da chegada de certas tecnologias. É igualmente importante, no entanto, observar o movimento contrário: como a literatura em meio impresso absorve a tecnologia, como ela se comporta em um mundo digital. Através de exemplos contemporâneos e de referenciais teóricos, buscaremos, portanto, verificar e entender a influência digital na literatura em papel.
Vitor Diel (mediador) - Divulgação de literatura em mídias digitais
Desde o final da década de 1990, a internet tem oferecido uma sucessão de recursos para aproximar autores de seus leitores. Ferramentas como os blogs, os sites coletivos, as redes sociais, a popularização da edição de vídeos, a publicação independente e o crowdfunding estabeleceram novas formas de relacionamento ao redor da literatura. Dentro dessa perspectiva, escritores têm sido incentivados a pensarem em si mesmos como marcas que precisam diferenciar-se do que já é oferecido no mercado editorial. Quais são as demandas que recaem sobre um escritor que pretende criar um público em torno de seu nome e construir uma marca no mundo literário em 2017? O jornalista Vitor Diel, assessor de imprensa da Feira do Livro de Porto Alegre, destaque literário do Prêmio Açorianos de Literatura de 2016 com a fanpage Literatura RS, aborda estes e outros assuntos em sua fala
Lilian Rocha - Da oralidade à escrita do mundo feminino e da literatura negra
"Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo." (Clarice Lispector)
A trajetória de uma mulher multifacetada na criação de sua poesia cadenciada, melodiosa, ornamentada com a sua corporeidade. A mulher contemporânea comprometida com a cidadania e engajada com uma proposta de transformação da sociedade através da sua criação literária. A importância do protagonismo negro na literatura: Sarau Sopapo Poético.
José Eduardo Degrazia - Poesia e Tempo
Poesia e tempo: aborda a grade poesia como sempre contemporânea. Através da poesia somos contemporâneos de Hesíodo e de Homero, e quando os lemos eles se tornam culturalmente presentes e vivos e através de nós, seus leitores, influenciam o futuro.
Ronald Augusto - O debate crítico na poesia contemporânea
Segundo alguns intérpretes, a poesia contemporânea, como fenômeno inconcluso, filha e protagonista de um presente contínuo, signagem realizada dentro do “horizonte do provável” do nosso tempo, não estaria em situação de ser mapeada “cabalmente”, pois como coisa viva, algo de sua efemeridade escaparia pelas beiradas do escalpelo crítico consagrado. No entanto, há aí um problema de distorção, melhor, de superestimação. Parece estar-se exigindo, para o caso, uma crítica monumental, ou um olhar telescópico que, enquadrando o mais ínfimo e distante exemplar dessa poesia, capturasse num mesmo golpe o mundo e o tempo conhecidos que o envolvem. Mas o fazer, o saber e o julgar inextrincáveis à atividade crítica, devem ser colocados numa perspectiva provisória, menor. Em outras palavras, crítica é leitura aplicada; uma forma de interpretação ou de abordagem. Isto nos faz supor que tal atividade também se relaciona ao possível, ao impermanente das limitações e das parcialidades do sujeito. Desta maneira, a leitura, ou a crítica, condizente com a poesia contemporânea, deve ser, tal como ela, uma expressão em construção, ainda não canônica e não canonizada. Sequência de interpretações e uma constante confrontação entre elas. Uma crítica, por assim dizer, “câmera-na-mão”, ou para usar outro lugar-comum, crítica mais como transpiração do que como inspiração. Leitura interessada, severa e experimental embrenhada na nervura do dissenso.
Luis Coronel - A poesia como essência de todas as artes
A literatura, consciência e encantamento, com destaque na poesia e na musica social e regional do escritor.
Guto Leite (mediador) - De 90 para cá: poesia contemporânea gaúcha
A produção poética gaúcha a partir dos anos 90 à luz da história recente no RS. As semelhanças que aproximam certas poéticas de outras, iluminando o conjunto pelas diferenças que esses grupos de poetas apresentam entre si. Não se trata de pensar em movimentos literários, mas de, com base num substrato histórico, identificar tendências na produção recente da poesia gaúcha contemporânea.
Antonio Schimeneck - A ausência da literatura infantil e juvenil em livrarias e eventos literários
O Rio Grande do Sul é reconhecido nacionalmente como um dos estados da federação que mais promove eventos literários, tanto em escolas públicas e particulares, como em municípios. No entanto, a oferta de obras nas feiras resume-se a best-sellers para adultos e jovens e livros com conteúdo visivelmente pedagógico e com personagens midiáticos para crianças. Há que se pensar no porquê da literatura reconhecida pela crítica como o melhor para crianças, jovens e adultos não figurar nesses eventos e se existem saídas possíveis para sanar essa situação.
Dilan Camargo - A poesia para crianças: na família e na escola
A poesia é o modo estético em que uma língua se expressa e se realiza em todas as suas potencialidades metafóricas, recriando-a e atualizando os seus significados históricos. Apresentar a poesia para as crianças, na família e na escola, é um dever estético dessas instituições. A poesia, para a idade da infância, é uma espécie de leite materno que imuniza a sua capacidade cognitiva, fortalece a sua estrutura emocional e abre a porta da imaginação criativa.
Glaucia de Souza - O objeto livro: arte em texto e em imagem
O livro endereçado à infância vem-se consolidando enquanto um gênero em que palavra e imagem dialogam com a finalidade de construir múltiplos sentidos. Através da análise de alguns títulos premiados recentemente (quer de escritores, quer de ilustradores, gaúchos ou residentes no Rio Grande do Sul), pretende-se tecer uma reflexão acerca deste tema.
Jacira Fagundes (mediadora) - A literatura infantil e juvenil dentro e fora da escola
A expansão da literatura infantil e juvenil é comprometimento social e político que cabe à escola como tal, dentro do processo ensino-aprendizagem, mas não restrito a esta. Tal reconhecimento se traduz no compromisso da sociedade no assegurar espaço e tempo para a literatura infantil e juvenil para além das paredes escolares.
Airton Ortiz - Jornalismo de aventura
Gênero jornalístico onde o jornalista é ao mesmo tempo repórter e protagonista da reportagem. Escrito na primeira pessoa e focando mais na emoção do que na informação, o texto é escrito com técnica literária.
Marcello Campos - O jornalista-escritor: desafios e oportunidades*
Em um cenário profissional de constante retração para o trabalho nas chamadas “mídias tradicionais” (rádio, jornal e televisão), uma das possibilidades menos exploradas pelos profissionais da área é a atuação no mercado editorial, ao menos em âmbito gaúcho. Não se trata, nesse caso, da sempre oportuna prestação de serviços como revisor, diagramador de livros ou mesmo como assessor de imprensa, mas do envolvimento direto produção de obras que incluam relatos de episódios históricos e biografias de personalidades locais, dentre outros temas cuja transposição para o formato “livro” contista ou poeta exigem o emprego de técnicas de reportagem, tais como o pesquisa e a entrevista – já que a abordagem aqui apresentada não inclui o jornalista que assume o papel de romancista, cronista.
A dedicação exclusiva à atividade literária, entretanto, ainda se mostra financeiramente inviável para a maioria dos profissionais da imprensa no Brasil – ou mesmo para os oriundos de quaisquer outras áreas. Apesar de fatores positivos como a multiplicação de editoras independentes, há entraves como a crise econômica, o encolhimento do mercado editorial (20% nos últimos três anos) e atual incerteza sobre leis e outras iniciativas de fomento. Há o exemplo do tradicional Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural da prefeitura de Porto Alegre), que já viveu dias melhores.Considerações econômicas à parte, impõe-se também o aspecto da realização individual. Havendo identificação com o assunto e afinidade à prática editorial em si, escrever um livro pode representar para o jornalista uma oportunidade de ignorar limitações conceituais, temporais e formais do texto jornalístico propriamente dito: sem prazos tão urgentes, “pirâmides invertidas” (a redação da notícia em ordem decrescente de relevância) e outras exigências, o autor encontra em capas, contracapas, orelhas e miolos literários um ótimo espaço para o livre exercício da grande reportagem.
* Jornalista, publicitário, pesquisador e autor da biografia de Lupicínio Rodrigues
Rafael Guimaraens - Jornalismo Literário
A expressão Jornalismo Literário adquire diversas definições e fronteiras. Não existe um acordo entre os estudiosos que possa precisá-lo. Pode ter os nomes de literatura não-ficcional, jornalismo em profundidade, jornalismo diversional, reportagem-ensaio, jornalismo de autor ou jornalismo histórico. O escritor gaúcho fica com a expressão cunhada pelo grande Gay Talese, um dos nomes mais destacados do new journalism, que define seu trabalho como “literatura de realidade”. Trata-se de construir uma narrativa sobre fatos reais, utilizando variados graus de elementos literários que enriquecem o texto e estimulam a leitura. É um gênero em expansão, o que é visível pela proliferação, nas últimas décadas, de livros-reportagem, livros históricos escritos com viés jornalístico e biografias, constituindo-se em uma sólida alternativa para a democratização do conhecimento e a conquista de leitores. Em seu trabalho, Rafael procura exercitar esta forma de narrativa, buscando dar mais sabor às histórias que escolhe para contar, sempre obedecendo à fidelidade dos fatos, cronologia e a papel desempenhado pelos personagens. Em termos práticos, o trabalho é fornecer uma ambientação consistente, dar vida aos personagens, ritmo à narrativa, criar expectativa para o desenrolar da trama, e construir elementos para que o leitor forme seu próprio juízo. A liberdade proporcionada ao autor que envereda pelo Jornalismo Literário permite que ele possa, por exemplo, reconstituir diálogos com base nas informações que apurou, descrever motivações dos sujeitos envolvidos no episódio retratado e preencher vazios narrativos com sua própria imaginação, a partir de uma pesquisa exaustiva e obedecendo critérios de ética, de plausibilidade e verossimilhança.
Luis Dill(mediador) - Batido, mexido e misturado
A vontade de ser escritor o levou ao Jornalismo e, mais tarde, o Jornalismo o auxiliou – e auxilia – a ser escritor. Tal equação teve sempre como denominador comum a leitura. Os livros, dos mais variados autores e gêneros, tiveram papel fundamental na sua formação de escritor e de jornalista. Interessante destacar como o Jornalismo, sobretudo o registrado nos jornais diários, oferece grande manancial de substância própria à criação de matéria ficcional. Ao fim, será possível responder a pergunta proposta no título do Seminário: sim, é possível misturar.