Chafariz da Mãe Preta

CHAFARIZ DA MÃE PRETA

Nickolas Eric Tomasini, Matheus Schneider da Rosa, José Victor M. Sperling, Fabio Lucas Spasin

História da África e da Cultura Afro-brasileira | Turma 2023.01 | Curso de História | Universidade de Passo Fundo

 

Introdução

O Chafariz da Mãe Preta é um monumento localizado na esquina entre a Rua Uruguai e a Rua Dez de Abril, no centro da cidade de Passo Fundo - RS. A fonte teve a construção de uma primeira estrutura de canalização em 1863, época em que o Chafariz cumpria a missão de abastecer as casas que se concentravam na região, e consequentemente tornou-se um ponto de convivência entre os negros escravizados, os quais buscavam água para consumo próprio e de seus senhores. Registros da Câmara Municipal de Passo Fundo, datados da década de 1860, demonstram a reivindicação por um guarda fixo vigiando o local, a fim de evitar desentendimentos e brigas entre os escravizados que ali permaneciam a trabalho, lazer ou em busca de atividades. Posteriormente, já no século XX, foram também instalados tanques no local, onde as lavadeiras passaram a realizar as suas tarefas de rotina com mais estrutura.

Existem duas principais lendas que buscam explicar a história sobre a vertente que abastece o Chafariz passo-fundense, uma de origem indígena e outra que mistura elementos africanos com crenças de origem católica, o que demonstra tanto a significância do local, especialmente para as comunidades indígena e negra do município, como também a riqueza da cultura regional e a presença e importância dessas comunidades para a construção da história passo-fundense.

O apagamento da história tanto indígena quanto negra é recorrente na história local, sobretudo por uma visão preconceituosa acerca dessas comunidades, que não os considera como agentes ativos na construção da realidade em que vivemos. Por isso, acreditamos na importância do relembrar e registrar os saberes sobre o Chafariz da Mãe Preta. Registrar para não esquecer, pois é apenas lembrando que se pode dar valor.

História

A região onde atualmente está localizada a cidade de Passo Fundo, até as primeiras décadas do século XIX, era habitada por povos originários e caboclos. Considera-se que a ocupação oficial, por um indivíduo de origem luso-brasileira, ocorreu por volta dos anos de 1827-1828. O indivíduo em questão é Manoel José das Neves, também conhecido como Cabo Neves, que recebeu essas terras por meio de doação, e chegou à região acompanhado de sua família, escravos e gado. Inicialmente, Cabo Neves estabeleceu-se próximo à nascente do arroio chamado Goiexim pelos Kaingang, onde construiu uma moradia temporária. Mais tarde, ele construiu sua residência permanente nas proximidades da atual Praça Tamandaré, dando origem a uma fazenda modesta.

É a partir da história de uma escrava de Cabo Neves, supostamente chamada Mariana, que surge a lenda da "Mãe Preta", que se tornou parte do imaginário coletivo da população de Passo Fundo [i].

Lendas da Mãe Goieixim e Mãe Preta 

Duas narrativas evidenciam a importância histórica e social do local onde foi edificado o Chafariz denominado de Mãe Preta, quando da ocupação mais sistemática de brancos na região do noroeste, especificamente no que atualmente é a cidade de Passo Fundo. Uma, derivada de matriz indígena, evidencia a presença dos povos originários na região, afora seu apagamento de muitos estudos sobre o local. A segunda, como que atualizando a primeira versão, altera os personagens da narrativa contextualizando-os a partir da presença afrodescendente, derivada de escravizados, livres e libertos no século XIX, ainda adicionando elementos cristãos.

A lenda da mãe indígena narra que havia uma certa mãe indígena chamada Goiexim ou Goigoim. Ela teria um filho que foi guardar os ervais nas matas da região, porém jamais voltou, o que a fez chorar tanto que o Urubu Rei a transformou num pé de milho, que arrancado, deu origem ao córrego do arroio Lava Pés. O nome gogoim significa erva-mate.

Já a narrativa vinculada aos grupos afrodescendentes, indica que a mãe preta era uma escrava do Cabo Neves, senhor destas glebas. Mãe preta, conhecida por Mariana, tinha um filho único, que era sua alegria. Certa vez o jovem fugiu de casa e não mais voltou causando muita dor em sua mãe, que copiosamente chorou pelo filho desaparecido, sendo que das lágrimas da Mãe Preta teria brotado uma fonte, antes dela morrer. Mãe Preta foi visitada por Jesus Menino, o qual lhe disse que não chorasse porque seu filho se encontrava na mansão celeste. Jesus ter-lhe-ia dito ainda que em recompensa de sua dor, ela poderia pedir o que quisesse, que lhe seria concedido. Mãe Preta então pediu: “Dai-me a felicidade de ir para junto de meu filho, mas como lembrança quero deixar esta fonte para aqueles que dela beber retome sempre a este lugar.” [ii]

Referências

BACCIN, Diego José; BATISTELLA, Alessandro. História, Memórias e Representações: uma análise dos monumentos em Passo Fundo. Passo Fundo: Saluz/IFIBE, 2016.

TEDESCO, João Carlos; BATISTELLA, Alessandro; VANIN, Alex Antônio (Orgs). Capítulos da História de Passo Fundo. Passo Fundo: Acervus, 2022.
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[i] BACCIN,2016, p.111-113; BATISTELLA,2016, p.111-113.

[ii] BACCIN,2016, p.111-113; BATISTELLA,2016, p.111-113.

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