O anticomunismo na imprensa: Revista Seleções e Guerra Fria

Em 1959 a Guerra Fria adquiriu uma forte tensão nas Américas, gerada pela Revolução Cubana, que se iniciou em janeiro do referido ano.

A adoção do regime socialista em uma república localizada na América Central e estrategicamente próxima da costa leste dos EUA gerou tensão e medo de que o regime socialista  e sua área de influência se ampliassem especialmente em território americano e se configurassem em ameaça ao domínio capitalista.

O papel da imprensa tem especial importância neste contexto. Através de anúncios publicitários, artigos, colunas e notícias, os veículos de comunicação investiram na persuasão como forma de manter e fortalecer o regime capitalista na maioria das nações americanas. A revista estadunidense Seleções do Reader’s Digest é especialmente utilizada neste sentido.

Veiculada no Brasil desde 1942, a revista era somente traduzida para a língua portuguesa, conservando todo o seu conteúdo original da edição veiculada nos Estados Unidos. Sendo assim, toda a propaganda e os apelos anticomunistas publicados na versão estadunidense eram disseminados por todas as Américas. Como a própria revista anunciava em 1959, mais de 20 milhões de exemplares em 13 diferentes línguas eram vendidos em todo o mundo.

Em fevereiro de 1959, na primeira edição após a Revolução Cubana, a revista publicou dois artigos condensados criticando diretamente o regime socialista, além dos demais artigos e informes publicitários exaltando o modo de vida capitalista e o consumismo, em especial na edição citada, a descoberta do detergente em pó.

Um dos artigos, intitulado “Como se Controla o Pensamento de 650 Milhões de Chineses”, destacava a forma como o socialismo se conserva ou se mantém através do controle do pensamento das pessoas, as quais geralmente são intelectualmente frágeis, ou mesmo analfabetas, o que as torna alvos fáceis de um doutrinamento. Através das próprias palavras do autor do artigo (David Chipp, correspondente da Reuters), percebemos que o mesmo, seguindo os parâmetros da revista, critica veementemente o modo de vida socialista: “O sinal externo do êxito dos comunistas de controlar o país é um sombrio manto de uniformidade, visto na docilidade ordeira das multidões, na facilidade com que o povo pode ser organizado. É um manto urdido com os fios do medo e da cautela, e os teares em que é tecido são os grupos em que quase todos os chineses estão agora organizados”.

Afirmações como estas, trazidas por testemunhas de uma realidade socialista, juntamente com os apelos pelo consumo de produtos cada vez mais modernos, fortaleciam a convicção da adoção do modo de vida capitalista.

Desta maneira, ao analisarmos veículos da imprensa de época, é preciso que tenhamos o cuidado de identificarmos a data, o contexto histórico, o posicionamento do jornal/revista, os interesses dos patrocinadores, enfim, todos os elementos que poderão caracterizar o discurso que será contemplado nas suas páginas.

Cláudia Regina Schäffer
Professora de História
Fonte: Acervo AHR

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