O suicídio de Getúlio Vargas pelo olhar da imprensa
O suicídio de Getúlio Vargas marcou a história do Brasil e abalou as estruturas políticas e aguçou a imaginação e a inquientação sobre o verdadeiro significado desta atitude extrema do presidente do Brasil: a opção pela morte. Isso sem dúvida alguma pode ser constatado ao longo dos 56 anos subsequentes, através de obras literárias, historiadores, cientistas políticos, etc., que tentam buscar uma explicação plausível para este acontecimento.
Segundo a historiadora Maria Celina D’Araujo a morte de Vargas: "foi um ato político, o maior já concebido por ele", pois após a divulgação da chamada Carta Testamento pela imprensa nacional, houve uma mobilização geral que afetou os opositores do presidente Vargas em todo o país. Também a população passo fundense ficou estarrecida com o ocorrido e foi às ruas protestar pela morte do seu líder, ateando fogo em bonecos representativos dos principais adversários de Vargas. Essas agitações e protestos contribuíram de forma significativa para o impedimento de um golpe arquitetado pelos militares do exército que no dia anterior ao suicídio, quando vinte e sete generais do Exército brasileiro assinaram um manifesto exigindo sua renúncia.
Em Passo Fundo nas edições de 24 a 27 de agosto de 1954 de O Nacional, noticias do pós-suicídio foram recorrentes, com destaque às matérias relacionadas a Carta Testamento do Presidente tratando-o como uma figura heróica e com saudosismo. Nas páginas destas edições existem notas e colunas abordando o suicídio de Getúlio Vargas assinadas por populares, líderes sindicalistas, operários, políticos, entre outros, o que demonstrava a grande popularidade que o presidente obteve, especialmente com a criação de benefícios e políticas socias destinadas aos trabalhadores nacionais. Cabe ainda destacar a posição política e ideológica getulista do jornal O Nacional, tal vínculo se sobressaiu com a ênfase e a dedicação da cobertura ao suicídio de Getúlio Vargas. Esta postura também ajuda a explicar a iniciativa dos operários gráficos do jornal que, em meio a situação caótica e dramática vivenciada pelos brasileiros, buscaram angariar fundos para a construção de monumento em homenagem a Vargas em uma das praças de Passo Fundo.
Para finalizar, destacamos que coube a imprensa um importante papel no sentido da manutenção da ordem constitucional, ou seja, do respeito à legislação. Em suas edições, pediam constantemente a renúncia de Vargas, muito antes de seu suicídio, mas também a continuidade constitucional através da posse do vice-presidente. E foi exatamemente o que aconteceu, assumindo a presidência o vice Café Filho. No conturbado contexto político de 1954, os principais órgãos de imprensa nacional atuaram decisivamente na formação de um consenso a respeito da inviabilidade política e moral da preservação do mandato de Getúlio Vargas, uma das formas de pressão que o levaram ao suicídio que tanto abalou a nação.
Jair Ghisolfi e Odair Lorenzetti
Acadêmicos do Curso de História UPF
Fontes: Acervo AHR