“Quereis Alcançar o Paraíso ? Deveis procurar o táxi”
O transporte de pessoas, existente desde a antiguidade e popularizado no século XVII em países como a França e a Inglaterra, começou a utilizar veículos motores somente nos últimos anos da década de 1890, na Europa.
Já no início do século XX, Passo Fundo, uma cidade em franco desenvolvimento e um centro reconhecido no norte do Rio Grande do Sul, passa a ter, a partir de empreendedores locais, serviços de transportes de pessoas com veículos motorizados.
No início da década de 1920 chama nossa atenção à publicidade desse ramo de atividade como é o caso do senhor Antoninho Marques que propunha à comunidade os serviços da Cocheira do Telésforo que atendia “serviços na cidade e viagens”, para o que dispunha de “bons animais e sólidos carros”. Do mesmo modo que em outras épocas, aqueles primeiros anos de 1920 também foram momentos de transição, mesclando, pelas ruas da cidade, os seus táxis, carros e autos – os primeiros, de tração animal e, os segundos, motorizados.
Se por um lado, buscava-se a clientela, também se criavam negócios indiretos como eram os casos da venda de carros. No Jornal A Época, podemos ver que se vendia “excelente carro de praça, completamente novo, sendo toda a ferragem patente, capota de couro da Rússia, os arreames e os respectivos cavalos”. Nos anos entre 1921e 1923 encontramos apenas uma oferta, em Passo Fundo, de auto de praça à disposição de seus clientes junto ao Hotel Popular “a qualquer hora do dia ou da noite” para passeios na cidade ou viagens. Entretanto, eles encontravam-se à disposição em estações de trem como nas paradas dos distritos de Carazinho e Boa Vista do Erechim – atual cidade de Erechim. Em alguns casos oferecia-se os dois tipos de transporte, motor e a tração animal.
Portanto, podemos depreender dos jornais locais, como é exemplo O Nacional, que este era um efervescente ramo de serviços, pois já a partir de 1925 temos outras empresas atuando na cidade. Proporcionavam seus serviços aos usuários as Garagens Farias, Escobar e Coliseu, para os mais diversos tipos de atividades que iam do traslado da estação férrea aos hotéis da cidade, para piqueniques ou casamentos.
São poucas décadas entre a normatização dos Autos de Praça na Europa e nos Estados Unidos e a criação e regulamentação desta atividade em nossa cidade. Em 1926 era criada a Associação dos Chauffers de Passo Fundo, ligada à Associação Internacional de Chauffers de Porto Alegre. Esse fato demonstra o nível de atividade e organização em que se encontrava este grupo de empreendedores. Entre as reuniões e eventos desenvolvidos pela Associação, também se preocupava o grupo com a regulamentação do trabalho e assim, em janeiro de 1929 entra em vigor, depois de aprovada pelo prefeito municipal Nicolau de Araújo Vergueiro, a primeira tabela de preços de transporte de pessoas da cidade, e a partir da qual a hora de trabalho comercial era tabelada em 15$000 Réis , traslados na chegada dos trens de Santa Maria e do noturno de São Paulo custavam 8$000 no verão e 10$000 no inverno, e deslocamentos para casamentos, velórios e passeios ficavam entre 15$ e 20$000 por hora. Ressaltavam os periódicos a importância desta medida pois a mesma iria “por certo, evitar discussões, sempre desagradáveis entre chauffers e passageiros”.
No entanto, o anúncio mais interessante e atrativo e, podemos dizer motivador deste texto, é o que fazia a Garagem Coliseu: “Quereis alcançar o Paraíso ? Devereis, quando precisar fazer uma viagem ou passeio procurar os autos...”, dando então nomes e endereço da empresa. A nota ainda anunciava que seu pessoal era competente e criterioso e atendia pelo telefone ou pessoalmente no Bar do Coliseu – que era o cinema àquela época.
Uma das origens do que são, atualmente, as empresas de transporte intermunicipal foi o trabalho da Garagem Farias que em 1926 colocava em funcionamento o que seria uma das primeiras linhas de transporte na região: a linha regular de transporte em auto-caminhão entre Passo Fundo e a vila de Nonoai, saindo desta cidade às segundas-feiras e regressando às quartas-feiras. Fazia também outras viagens e passeios com seus “automóveis de luxo” e bons caminhões.
Assim, confirmava-se a vocação passo-fundense como centro regional, já a partir do início do século XX. Inovando em diversas áreas, a cidade no norte do estado possuía boa estrutura comercial e de serviços. Proporcionava, desse modo, aos moradores e visitantes, a comodidade do transporte colocando-se nos mesmos níveis da comentada “modernidade” dos grandes centros e capitais do país.
Benhur Jungbeck
Mestre em História
Fonte: Acervo AHR