Mulheres

14 de junho de 2011

Você me Pertence...

Você me pertence não é somente mais um título de filme que buscava chamar a atenção do publico e os olhares daqueles que circulavam nas salas do Cine Imperial em Passo Fundo, mas condensava a repressão e a mentalidade que circundava as mulheres na década de 40.  

Eram poucas as mulheres retratadas nos jornais e nos filmes que extrapolavam os limites da casa. O modelo de boa esposa,  mãe carinhosa e dona de casa dedicada adotados pela sociedade em geral como mentalidade corrente à época escondia a realidade, pois a pluralidade étnica e a conseqüente diferença de culturas das mulheres do sul não favoreciam a identificação do sexo frágil com esses papéis familiares. 

No centro urbano de Passo Fundo, no contexto da Segunda Guerra Mundial, a delimitação do papel social da mulher começou a orientar-se dentro dos moldes do projeto de uma elite burguesa dominante. Consistia esse modelo em fixar a mulher no recesso do lar, e esse pertencimento aos afazeres era justificado, pois era ela  a mestra que gestava o futuro da nação. Esse enclausuramento não era verdadeiro, pois atingia somente aquelas frágeis criaturas de condições econômicas propícias que circulavam nas lojas, adotando  caricaturas de uma sociedade francesa, expressa na belle époque. Em contrapartida, as que labutavam com seu suor para complementar o rendimento familiar, não são mostradas. Essas “trabalhadeiras” faziam parte de uma indústria nascente, onde foram importante mão de obra barata e explorada. Na maioria das vezes alem dos afazeres domésticos, exerciam outras atividades, tais como capinar na roça e trabalhar como empregadas de famílias ricas, cuidar dos pacientes nas enfermarias, tomar posições político-partidárias, dar aulas e também atuaram como operadoras de maçaricos nas funilarias industriais.

Essa diversidade de funções caracterizou um contraponto de valores. Se de um lado a mulher que trabalhava era desmerecida pela sociedade – cujo papel principal era o resguardo ao recesso lar, aos cuidados do marido e dos filhos – por outro, a necessidade de complementação do rendimento familiar induzia a que elas buscassem atividades paralelas às domésticas. 

Condicionada em sua inferioridade, acreditava na superioridade do homem, não reconhecendo em suas ocupações uma competência igual a do homem, apesar de entender que cultivava sentimentos mais humanitários, uma vez que a eles era dado esquecê-los.

Podemos ter como fundamental que é importante compreender que as relações entre mulheres e homens passam por diferentes construções históricas e não devem ser naturalizadas (ser algo pertencente à natureza das mulheres ou à natureza dos homens), essas questões concernem às diferentes culturas. 

Estas relações de gêneros traduzem sutilmente as contradições do sistema de valores estabelecido. Valores estes que atravessam décadas e ainda estão enraizados no nosso cotidiano.

Ariella da Silva de Albuquerque
Acadêmica do Curso de História da UPF
Imagem: Jornal O Nacional - 1943
(Mulher soldadora)
Fonte: Acervo AHR
* Os artigos expressam a opinião de seus autores.

INSCREVA-SE