Protesto Estudantil
09 de novembro de 2011
Turma de Cafajestes
As lutas que os movimentos estudantis travaram ao longo do tempo marcaram o cenário político brasileiro. No período mais marcante – a ditadura militar nas décadas de 1960 – 1970 os estudantes foram às ruas dar a cara e reivindicar por mudanças sociais. Apesar das grandes organizações terem se fortalecido com a redemocratização, os ideais mais importantes foram perdendo força e prestígio e declinando gradativamente com os grupos estudantis que se mobilizavam pelas causas políticas e educacionais.
Mas, em 1946 o jornal O Nacional noticiou uma “greve branca” organizada pelos estudantes secundaristas, hoje ensino médio. Esses seriam os primeiros passos que mais tarde organizariam os movimentos estudantis em Passo Fundo. Num contexto de abertura política, com o fim da ditadura de Vargas e a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, iniciou-se uma época de novas esperanças no futuro, ideais de liberdade, era chegada a hora dos estudantes terem voz e vez.
A ação mobilizadora era por uma mudança do preço da entrada nos cinemas de Passo Fundo, na época cine Coliseu e cine Imperial. Às 19 horas do dia 24 de outubro cerca de 400 estudantes pertencentes ao Ginásio Nossa Senhora da Conceição, Instituto Educacional, entre outros estudantes, rumaram á frente dos cines. Formaram uma enorme fila. Eles se deslocavam ao guichê apresentando Cr$ 2,00 cruzeiros para o ingresso, mas como a nova direção – sob os cuidados de Nestor Pinto – tinha mudado o valor para Cr$ 3,00, o bilheteiro atualizava o novo preço e os estudantes discordavam persistentemente até o funcionário negar-se a vender pelo antigo preço. Então, não conseguindo entrar o estudante voltava ao final da fila para o colega prosseguir o plano “50% ou a bicha continua” - que foi o slogan da mobilização estudantil. Assim, a enorme fila nunca terminava. Os proprietários vendo a impossibilidade de combater os estudantes grevistas obrigaram-se a fechar as portas, ocasionando um quebra no fluxo do caixa nos dois cines.
Essa manifestação perdurou por alguns dias até que o diretor Nestor Pinto teria encontrado o presidente da UGES (União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas) Pedro Portella e lhe proferido palavras de baixo calão “o senhor não tem autoridade para frear essa turma de cafajestes ?” essas palavras a queima-roupa foram o gatilho para que a população hipotecasse solidariedade com os estudantes que reivindicavam um preço justo para todos que freqüentavam os cines. Pelo agravamento das questões e pela mobilização pública e pressão da imprensa, a “greve branca” cessou no dia 25 de outubro, quando o empresário Arthur Pretto proprietário dos cinemas atendeu às aspirações estudantis quanto ao abatimento de 50% nas entradas. A classe estudantil conquistava uma de suas primeiras vitórias. O comunicado do sucesso foi proferido pelo Coronel prefeito Arthur Ferreira Filho ao jornal pela parte da tarde.
Sendo este um movimento isolado de estudantes secundaristas que se fizeram porta-vozes da exigência de seus direitos, não podemos esquecer que a luta pelos direitos de cidadania caracterizaram as primeiras pautas reivindicatórias dos movimentos estudantis. A participação política dos jovens não é algo dado, mas que se construiu e se constrói na prática. Assim, o engajamento e a participação se fazem na consciência de pertencimento a uma sociedade ou a um momento no qual somos atuantes e não meros espectadores da situação.
Ariella de Albuquerque
Acadêmica do Curso de História
Fonte: Acervo AHR
* Os artigos expressam a opinião de seus autores.