Fotonovelas
17 de setembro de 2012
Fotonovelas e o consumo do amor na revista Grande Hotel (Parte I: uma intriga para o amor)
O amor, como uma representação socialmente construída, encontra suas repercussões e atinge as massas. Com efeito, consolida-se o investimento que incontáveis declarações, outros tantos sonhos, algumas frustrações e eufemismos baratos, causaram em mentes e corações humanos. Essa constatação inicial e aparentemente conclusiva apresenta, no entanto, desdobramentos desconcertantes, localizados no impulso dos desejos fugazes ou na solidez dos sentimentos mantidos. Apreendemos a ideia do amor ao ponto de transformá-lo em algo biológico e, portanto, passível de manifestar-se de forma patológica. "Morrer de amor" é uma máxima repetida por diversas gerações. Em outras formalidades, também é levada a cabo, quando esquecida de sua expressão casual e tomada por uma mortífera e fiel literalidade.
Essas concepções, repetidamente demonstradas, encontraram um meio de expressão formal, através do desenvolvimento da literatura cortês, por volta do século 12, e a sua vigilância diante do imaginário romântico. Tristão e Isolda, Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta. Casais trágicos e apaixonados, que usavam os obstáculos para catalisar e intensificar seus desejos (quase sempre, proibidos). As transgressões desse amor romântico, identificado na sublevação das pulsões carnais reprimidas e na concretização dos desejos ideais, através do matrimônio, encontraram um veículo de difusão por diversos meios. O mais exemplar deles, talvez, tenha sido a fotonovela, uma forma de combinar a imagem fotográfica com textos e diálogos, apresentados em uma narrativa sequencial, através de intensas intrigas sentimentais e pontos de atrito entre os personagens. Além desse teor dramático, as fotonovelas não traziam o desfecho de suas histórias em apenas uma edição, havendo sempre um capítulo para a continuação e desfecho da trama.
As fotonovelas acompanharam o sucesso dos folhetins, presentes durante o século XIX em muitos jornais, inovando, porém, na apresentação visual e na abrangência dos temas abordados. No Brasil, esse gênero literário ganhou destaque a partir da década de 1950 e conquistou as páginas de diversas revistas especializadas em "assuntos de mulher". Uma delas foi Grande Hotel: a mágica revista do amor, impressa pela editora Vecchi, alcançou destaque juntamente com demais revistas do gênero, como Capricho e Sétimo Céu. Histórias de amor em quadrinhos ao estilo cinematográfico, buscando enquadramentos fotográficos de rostos expressivos e conciliados a diálogos sentimentalistas. Diante disso, um público leitor sedento por histórias de amor possíveis, mesmo que no papel. Eis a mágica do consumo.
É fundamental identificarmos a importância e expressão que essas revistas assumiam na vida das leitoras. Tais como as telenovelas atuais, seu alcance está relacionado aos modelos de conduta e beleza que ditavam, e também à construção de um imaginário sentimental e ilusório, encerrado na plenitude das relações homem - mulher. As fotonovelas nos fornecem inúmeros elementos sobre essa tendência, configurando consensos sobre o modelo feminino, através de personagens que também desempenhavam padrões sociais e morais vigentes. As histórias narradas em fotodramas na revista Grande Hotel, buscavam explorar essa temática: Direito ao amor, Amor à primeira vista, A intriga contra o amor, O amor desafia o ódio e tantas outras, que recorriam a fórmulas certeiras na conquista do amor idealizado.
Continua...
Camila Guidolin
Graduada em História pela UPF
Fonte: Acervo AHR
* Os artigos expressam a opinião de seus autores.