Eleições
02 de junho de 2014
ATENÇÃO AO VOTO!
Em ano de eleições o tema do cenário político, das articulações partidárias, das opções de candidatos, dos índices de rejeição de alguns líderes, dos programas eleitorais gratuitos, entre outros, tornam-se cotidianos. Todavia, esse cenário decorrente da democracia brasileira nos é recente. Em virtude do voto censitário e do governo militar instaurado em 1964 e vigente até meados dos anos 1980, temos ainda pouca tradição continuada de escolha de lideranças via voto universal dos brasileiros na República que foi instaurada em 1889. Cem anos depois tivemos um pleito histórico: “vamos poder escolher o próximo Presidente da República. Isto significa o fim da era ditatorial, onde o Presidente era escolhido nos quartéis e, mais recentemente, no “colégio” eleitoral.” (Anormal, n. 02, p. 02)
Após o fim do governo ditatorial a primeira eleição direta para presidente do país foi realizada em 15 de novembro de 1989. Período paradigmático de um propalado “retorno” da democracia que coincidiu com a rememoração do centenário da instauração da República Federativa do Brasil, naquele aniversário o “país foi às urnas”. Aquele ano também foi de início da publicação Anormal, jornal publicado sob direção de Paulo de Tharso Mendonça via Palhaço Editorial de São Paulo/SP. O periódico destacou-se pela sua irreverência e criticidade, em especial no contexto eleitoral vigente naquele ano de fundação do jornal. O Arquivo Histórico Regional possui duas edições desta folha dedicada “Para adultos” em sua capa. Dessas, destacamos o número 02, publicado em novembro de 1989, mês das eleições presidenciais que, tal como atualmente, mobilizam a sociedade e perpetuam-se cotidianamente em ambientes de divulgação e discussão.
Com tom satírico, irreverente e ricamente ilustrado com fotomontagens ousadas e contando também com desenhos de Glauco e Laerte, Anormal dedicou amplo espaço em sua segunda edição para informar e alertar os eleitores acerca do pleito presidencial. Em reportagem especial intitulada “Guia do voto inútil” os articulistas expressam sua preocupação com o cenário contemporâneo e caracterizam alguns dos candidatos participantes da “corrida eleitoral”. Da “brincadeira séria” proposta pelos editores de Anormal chama a atenção o texto introdutório de seu guia pelo tom comprometido, crítico e também preventivo – crítica essa que ainda tem validade ante o pleito deste ano: “As eleições presidenciais estão aí e a grande maioria dos eleitores ainda está indecisa. (...) A televisão leva a todos os lares, cortiços, malocas, a notícia pasteurizada, filtrada, de acordo com a ideologia que mais interessa a essa elite”, entendida aqui como a classe dominante que se beneficia da alienação da população. Sua atenção ao discurso televisivo/midiático evidencia que a força do uso político dos meios de informação não deveria ser desconsiderado. Seu temor deriva de sua postura editorial e de um receio com os rumos do país ante uma vitória do que denominam de “bloco sujo, da ditadura, cheira a velho”: “Escolhendo-se mal o candidato nestas eleições, corre-se o risco de repetir o passado e interromper o curso da história por mais 30 anos”.
Hoje, 25 anos depois, vemos muito da mensagem de Anormal como atual. Sua advertência acerca da força midiática e seu uso político, assim como do cuidado em relação à escolha dos candidatos que auxiliamos a eleger são situações presentes, cotidianas. Visando um “voto útil”, finalizamos esta reflexão e convidamos a todos a pesquisarem e depararem-se incessantemente com as riquezas do acervo AHR.
Gizele Zanotto
Professora do Curso de História/UPF
Fonte: Acervo do AHR
* O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores.