No mapa das Cruzadas
Cenário: Europa, Oriente Médio, e norte da África, século XI. Um dos grandes acontecimentos da Idade Média se inicia. As Cruzadas. De onde surgiu inspiração para escrever um artigo sobre esse tema? De um velho - digo, antigo – mapa. Seria um mapa comum, não fossem alguns detalhes: Não é atual, pois retrata o século XI, portanto não havia países, e sim reinos, além da divisão entre reinos cristãos e muçulmanos. Como pode se observar nesse mapa que está exposto no Arquivo Histórico Regional de Passo Fundo, são mostrados todos os trajetos e batalhas feitos durante as Cruzadas – movimentos militares de inspiração cristã -. Para compreender melhor o que levou milhares de “fiéis” por esses caminhos no mapa , o que fizeram durante as jornadas, e o porquê, é recomendado o velho livro - desculpe, antigo - História Universal de H.G. Wells do ano de 1942, que quase passa despercebido nas prateleiras do AHR. Livros e mapas, mapas e livros. Uma excelente combinação para compreender e se localizar na História. Pois bem, vamos às Cruzadas.
Segundo Wells, vários motivos resultaram nas Cruzadas. Igreja Latina querendo subjugar a Bizantina (ortodoxa); Normandos querendo saquear o rico mundo do Islã; Propaganda de ódio aos “infiéis”; Monopólio de Constantinopla no comércio oriental; e o estopim: fome, peste, e desordem social no centro e leste europeu no ano de 1094 e 1095. A 1º Cruzada não foi oficial, pois foi a “Cruzada do Povo”, onde mendigos, ladrões, monges, e comerciantes estavam atrás de oportunidades de riqueza no oriente. Seguiram a margem do rio Danúbio e na região da Bulgária, rumaram para o sul até chegarem em Constantinopla. Porém antes de chegarem lá, tiveram problemas com os húngaros. Devido ao idioma ininteligível, foram confundidos com infiéis, então cometeram alguns abusos com os mesmos, e por eles foram massacrados. Mais duas ondas de fiéis vieram, e ao atravessarem o estreito de Bósforo em Constantinopla, foram massacrados pelos turcos. Isso ocorreu pois não era um exército cristão, e sim uma grande multidão sem líderes e que eram guiadas por um ideal.
A 1º Cruzada, a Cruzada dos Nobres, foi convocada em 1096 para “proteger fiéis que peregrinavam à Terra Santa”. Nobres da Normandia, Inglaterra, e Itália, partiram para o oriente pela rota que pode ser vista no mapa. No ano de 1099 se encera a 1º Cruzada com uma carnificina cometida pelos cristãos na conquista de Jerusalém. Como escreveu Wells: “O sangue dos vencidos correu pelas ruas a ponto dos cavalos resvalarem em sua marcha... Ao cair da noite, os cruzados foram ao Santo Sepulcro, e juntaram suas mãos manchadas de sangue em oração”. Resultado: surgem diversas colônias cristãs no Oriente Médio, e o clero latino subjuga o ortodoxo.
Em 1147 Saladino, sultão do Egito inicia a Jihad contra os Cruzados, e então é convocada a 2° Cruzada para defender Jerusalém dos muçulmanos. Em 1187, os mesmo Saladino toma Jerusalém dos cristãos, e então é convocada a 3º Cruzada – A Cruzada dos Reis – pois contou com Filipe da França, Frederico da Germânia, e como mostra o mapa, o famoso Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra. Não retomaram a cidade, mas se firmaram em importantes cidades nos arredores.
A 4º Cruzada, como se pode ver, nem chegou a Jerusalém, pois seu interesse comercial foi saciado quando conquistaram Constantinopla em 1204. Antes, em 1202, ocorre um fato que poucos livros registram: a “Cruzada das Crianças”. Segundo a Igreja, os cruzados eram impuros e pecaminosos, por isso tantas derrotas. A solução foi enviar crianças para lutar, pois eram puras e livres do pecado. Partiram da França, porém ao chegarem na Península Itálica, foram vendidas como escravas no norte da África.
A 5º Cruzada em 1217, foi uma tentativa de conquistar o Egito, porém depois de inúmeras batalhas perdidas, tiveram de se retirar em 1212, levando inúmeros “tesouros de consolação”. Em 1228 se tem início a 6° Cruzada, que mais uma vez, tem o intuito de tomar Jerusalém. Devido a discórdia entre muçulmanos, os cristãos retomam a cidade, sendo que conseguem assegurá-la até 1244 quando os muçulmanos, agora unidos, a reconquistam.
Como mostra o mapa, a 7º Cruzada vai ao Egito, em 1248. É liderada pelo excomungado rei da França, Luís IX, que conquista diversos territórios na região. Entretanto, devido a duras batalhas, seu exército se rende e ele é pego como prisioneiro pelos egípcios. Os cristãos tiveram de arcar com um pesado tributo para libertá-lo, em 1254.
A 8º Cruzada tem o mesmo intuito, o de conquistar o Egito e todo o norte africano. Luís IX parte em 1270, e a tragédia foi tão grande quanto as outras Cruzadas. Não tendo sucesso, firmou um tratado de trégua com o sultão egípcio, e voltou à Europa em 1271. E assim se encerraram as Cruzadas. Seu ideal foi corrompido pelo uso frequente e por muitas vezes fútil, seguido de fracassos militares.
Ficou de legado, a anarquia religiosa e a luta entre as próprias ordens cristãs, que desde o início as enfraquecia gradualmente. Os cavaleiros cruzados foram de grande influência para as cavalarias que surgiram posteriormente na Idade Média. Além disso, a Europa passou a conhecer e utilizar novos produtos, como a seda, algodão, açúcar, e diversos outros que contribuíram para o Renascimento Comercial. No entanto, isso é outra história.
E lembre-se: sempre que tiver oportunidade, tenha em mãos um mapa para estudar História, pois além de compreender o “por quê”, irá compreender o “onde”.