A UPF e a concretização da Ferrovia do Trigo

Renan Pezzi
Mestre em História/UPF

A construção de uma nova linha férrea, para um melhor escoamento da produção de trigo e soja na região de Passo Fundo, foi um dos temas que recebeu coberturas especiais na imprensa passo-fundense durante a primeira metade do século XX. As obras para a construção da linha férrea estiveram paralisadas muito por conta da instabilidade política dos anos 60. Em março de 1968 o chefe do 6º Distrito Ferroviário, cumprindo ordem superior, decretava a paralização dessas obras, segundo ele, “a fim de aproveitar os recursos deste ano para acertar as contas”. A partir disso, o Departamento Nacional de Estradas de Ferro contratou uma empresa para que fosse feito um estudo de viabilização econômica, desse modo possibilitando a sua inclusão no quadro de aplicações de recursos do governo. A empresa ASPLAN averiguou e constatou que o projeto não seria viável.

Discordando dos resultados obtidos na pesquisa feita pela ASPLAN, em 1971, um grupo formado por professores e acadêmicos da UPF participaram da Comissão Especial de Estudo da Viabilidade Econômica da Ferrovia L-35. Juntamente com a comunidade elaboraram um estudo contrário ao parecer da ASPLAN.

Segundo o estudo feito pela Comissão, liderada por Salim Buaes, os dados apresentados pela ASPLAN não correspondiam a realidade. A análise da produção foi feita em uma zona de influência muito menor, apresentando dados estatísticos de safra muito abaixo do que realmente a região poderia produzir. Os números que foram apresentados pela ASPLAN divergiam muito dos exemplificados pela Comissão de Estudo, sendo que esses os dados que primeiramente foram entregues para o chefe do 6º Distrito Ferroviário, interferindo na justificativa para a paralização das obras por conta de sua “inviabilidade econômica”. Com a conclusão desse estudo, que refutava o trabalho apresentado pela empresa paulista, o 6º Distrito Ferroviário e o Governo Federal aprovaram a retomada dos trabalhos para a conclusão dessa Estrada de Ferro.

O jornal O Nacional, pouco antes da inauguração da ferrovia, destacou: “É inegável que a posição corajosa da UPF, rebelando-se contra a paralização e contra um parecer de uma empresa especializada, foi o fator fundamental para que o ato que hoje estamos vivendo fosse possível.”

A inauguração da Ferrovia do Trigo ocorreu no ano de 1978, momento em que a cidade recebeu com grande festividade o então presidente Ernesto Geisel para a viagem inaugural até a capital do Rio Grande do Sul, com parada na cidade de Guaporé. Infelizmente a linha de passageiros não foi consolidada, encerrando suas atividades em 1980, fato que levou parte de suas construções ao abandono. 

 

 

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