Por: Tainá Binelo - AI/UPF
Fotos: Arquivo Pessoal
Após duas semanas no nordeste, participantes do Projeto Rondon retornam a Passo Fundo
Quando imergimos em culturas diferentes, o sentimento de inquietação é o primeiro a ganhar espaço. Queremos entender as novas gírias, os costumes locais, experimentar os alimentos tradicionais e, claro, integrar-se ao desconhecido enquanto o conhecemos. Essa foi a oportunidade que oito acadêmicos da Universidade de Passo Fundo (UPF) tiveram entre os dias 26 de janeiro e 12 de fevereiro no município de Anguera, na Bahia, cidade sede da operação “Portal do Sertão” do Projeto Rondon.
Promovido pelo Ministério de Defesa Federal, a iniciativa convida universitários de onze diferentes estados brasileiros a colocarem em prática o conhecimento adquirido em sala de aula. Acadêmica do curso de Enfermagem, a carazinhense Milena Beffart foi uma das selecionadas para a experiência. “Foi incrível! Uma imersão cultural e emocional, que proporcionou um vínculo com a comunidade, possibilitando trocas de saberes. Aprendi principalmente que não precisamos estar no controle de tudo a todo tempo e também a dividir tarefas para não sobrecarregar, além de que em equipe rende muito mais e que podemos contar uns com os outros”, conta.
Integrando o conjunto A (Saúde, Educação, Direitos Humanos, Justiça e Cultura), os acadêmicos de Filosofia, Direito, Medicina, Enfermagem, Odontologia e Psicologia da UPF ministraram oficinas para a comunidade local, multiplicando saberes. “Pude ensinar um pouco sobre cuidar de si mesmo, sobre se valorizar, e sobre como isso influencia nosso ambiente de trabalho, nossa casa e também a nossa vida. Para mim, o momento mais marcante foi o que ministrei a oficina para os trabalhadores do hospital e do CRAS, um desafio enorme, porque a temática era saúde mental, algo que não domino muito, mas no fim deu tudo certo, os participantes trouxeram reflexões importantíssimas referente a temática e foi muito gratificante”, ressalta Milena.
Entre as atividades realizadas por Milena, estavam oficinas sobre biossegurança ocupacional, atualização dos agentes de saúde, vacinação, saúde do homem e práticas integrativas e complementares em saúde. “Ter participado do Rondon agregará no sentido do cuidado com o outro, de saber os limites de cada um, o respeito com os colegas e a harmonia dos ambientes onde estamos inseridos. Além disso, fazer as coisas com amor nos traz o carinho e agradecimento de quem recebe”, complementa a futura enfermeira ao falar sobre como a sua participação no projeto ampliará sua formação.
Construindo um legado
Assim como Milena, o professor Dr. Andrei Lodéa também embarcou nessa missão. Com um olhar diferente, próprio de quem é docente da área da Filosofia, Lodéa entende o Projeto Rondon como uma forma de deixar um legado importante. “Nós filósofos trabalhamos muito com a pesquisa, com a sala de aula, mas vivenciar o sertão da Bahia agrega muito na nossa prática pedagógica. É lá que aprendemos que existem muitas realidades e que elas também precisam ser assistidas, ouvidas e levadas a todos os locais. Parece ser distante, mas o mesmo problema que temos no Rio Grande do Sul, eles, muitas vezes, também tem por aqui”, comenta.
Considerando a realidade local, diversos tópicos foram abordados pelos rondonistas em atividades com a comunidade local em parceria com professores, agentes de saúde, agricultores e trabalhadores da área da saúde. “Não seremos nós a modificar Anguera, mas sim eles, que, a partir de agora, compartilharão esses novos conhecimentos. Existe uma história lá que os moradores dizem que quem bebe da Fonte Nova não deixa Anguera, por óbvio volto fisicamente para Passo Fundo, mas a cidade que se encontra no Portal do Sertão, próximo a Feira de Santana, ficará na minha memória, assim como as pessoas dela”, conta o docente.
Com cerca de 12 mil habitantes, a cidade oportunizou experiências únicas para o grupo. “Voltamos para Passo Fundo com muito mais do que trouxemos em nossas bagagens, coisas que serão aplicadas em nossas família, nas relações interpessoais, na vida profissional. É uma mudança de percepção, de entendimento da realidade, que vai além do que muitos sabiam e imaginavam sobre o sertão da Bahia, do nordeste. Aqui, todos aprendem também sobre respeitar a realidade de cada pessoa, de cada indivíduo que chegar para buscar conhecimento e cuidado”, finaliza o professor rondonista que ressalta a entrega simbólica de uma minuta de lei ao prefeito e vereadores para a criação do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a constituição de comissão para dar continuidade a proposta.
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