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Jornalismo, enchentes e a cobertura feita por egressos da UPF

21/05/2024

17:13

Por: Luís Henrique de Melo

Fotos: Palácio Piratini e Arquivo Pessoal

Débora Padilha e Maria Eduarda Ely são jornalistas formadas na UPF e compartilham com nossa equipe o dia a dia das coberturas no RS

Quando os portugueses chegaram à foz da Laguna dos Patos, no século 16, avistaram uma imensidão de água doce não documentada antes. Impressionados, nomearam as terras como Rio Grande. Com quase 300 km de extensão, o gigantesco reservatório de água faz jus ao nome carregado pelo Estado, onde centenas de rios se conectam e formam um engenhoso e aprimorado sistema aquático.

Voltando ao século 22, em setembro de 2023, chuvas volumosas ocasionaram a cheia dos rios na região dos vales, e várias cidades foram inundadas. Passado um curto período de tempo pelo qual a população mal pode finalizar a limpeza de suas casas e a compra de novo mobiliário, uma potente frente fria, turbinada pelo El Niño e pelas mudanças climáticas ocasionou uma sequência de chuvas torrenciais que despejou água na bacia do Guaíba. Os gaúchos então vivenciaram uma catastrófica enchente, que varreu cidades inteiras e inundou Porto Alegre, que antes apenas temia imaginariamente a fabulosa e folclórica enchente de 1941.

Só na capital gaúcha, mais de 30 mil pessoas estão desabrigadas, conforme levantamento do prefeito Sebastião Melo. Em todo o Rio Grande do Sul, em torno de 600 mil pessoas estão desalojadas ou desabrigadas, vivendo na casa de familiares, amigos ou abrigos montados às pressas. Esse número é maior do que a população inteira de Florianópolis.

Lagoa Guaíba inundou Centro de Porto Alegre. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Nestas devastadas terras, profissionais qualificados exercem um papel fundamental na reconstrução da civilidade, não só material, mas também no social e humano. A Universidade de Passo Fundo (UPF), ao longo de 55 anos, formou mais de 100 mil profissionais. Hoje, parte dessas pessoas estão ali, empenhadas em descobrir soluções e reunindo esforços e tempo para ajudar a levantar um estado tão abalado.

Em meio à angústia, todo o Brasil ligou a televisão e sacou o smartphone do bolso para entender o que estava acontecendo em terras gaúchas. Por meio das notícias, investigadas e verificadas, jornalistas mostram in loco o caos que se instaurou por dias em parte do Estado. Estes mesmos profissionais também ajudam a levar, para além das questões geográficas, os fatos, as dores e as formas de ajudar a quem precisa. 

Duas jornalistas egressas da UPF, assim como centenas de outros profissionais que atuam em tantos veículos pelo Estado, ganharam destaque em rede nacional: Débora Padilha e Maria Eduarda Ely. Entre uma pausa e outra do trabalho, as duas, por mensagens, nos atualizaram sobre o dia a dia da profissão. Entre um respiro e outro, a cobertura da maior tragédia climática do Brasil.

Fazendo jornalismo em uma enchente

Casas, empresas, fábricas, comércio, parques e serviços. Tudo foi, literalmente, água abaixo. As chuvas que afetaram o Estado requisitaram das equipes de jornalismo agilidade e precisão na cobertura e no fazer notícia. Grupos do país todo foram deslocadas para as regiões mais atingidas, especialmente a dos Vales e a Metropolitana. Dos locais, profissionais levavam o drama vivenciado pelos gaúchos a todos os brasileiros.

Débora Padilha está na Serra Gaúcha.
Foto: arquivo pessoal.

“A situação de calamidade que milhares de pessoas enfrentam faz com que o jornalismo seja ainda mais essencial, por ser uma informação confiável e devidamente apurada, para levar conhecimento ao público e mostrar o direcionamento de resgates e doações”, nos conta Débora Padilha, que está desde o início de maio em cobertura ao vivo.

Débora Padilha se formou em Jornalismo pela UPF em 2012 e há sete anos atua na RBS TV em Caxias do Sul. Diante da tragédia, entra ao vivo quase diariamente no Jornal Nacional e Jornal da Globo, da TV Globo, e nos jornais da filiada. A Serra Gaúcha foi uma região muito afetada com desmoronamentos, e o deslocamento ficou prejudicado. Com esforços, ela e a equipe chegaram a Bento Gonçalves e Gramado para acompanhar as necessidades das famílias.

Na Serra, Débora fornecia as últimas informações aos telespectadores. Seu volume de trabalho aumentou nas últimas semanas, já que a programação estendeu os horários de jornalismo. “O fluxo de informações muda muito rápido, então é preciso ficar atento para levar ao público os últimos acontecimentos. As demandas de trabalho aumentaram muito nas últimas semanas, já que o jornalismo ganhou maior espaço na programação”, reforçou ela.

Responsabilidade em informar

Maria Eduarda Ely se graduou em Jornalismo na UPF em 2018. Repórter da RBS TV em Porto Alegre, foi uma das primeiras escaladas para cobrir as cheias na capital, e ganhou notoriedade ao entrar ao vivo todos os dias no primeiro bloco do Jornal Nacional, da Rede Globo. “Desde o primeiro dia estou trabalhando na cobertura. A nossa rotina muda conforme a notícia, estamos acompanhando e atualizando as informações a todo momento. Nosso papel enquanto jornalistas é o de levar a informação, mas numa cobertura como essa, das chuvas e das cheias, essa missão se intensifica”, nos contou Maria Eduarda.

Maria Eduarda Ely é repórter em Porto Alegre.
Foto: arquivo pessoal.

Por vezes, a sensação que tenho é de que estamos vivendo o mesmo dia há semanas. - Maria Eduarda Ely, jornalista

A jornalista revisita suas passagens por esses dias e descobre que todos os dias se confluem em um só. Para ela, o papel central de um profissional de comunicação neste momento é o de ter responsabilidade de mostrar às pessoas a dimensão do que está acontecendo, especialmente em um caso onde mais de meio milhão de pessoas estão fora de casa. “Nós temos a responsabilidade de dar a dimensão do que está acontecendo aqui no Rio Grande do Sul e do tamanho da tragédia que atingiu o nosso estado. Estamos vivendo situações que vão ficar marcadas na história, mas também na minha história pessoal e profissional. Por vezes, a sensação que tenho é de que estamos vivendo o mesmo dia há semanas”, conta.

Empatia em meio a água

Débora e Maria Eduarda, bem como vários outros colegas de área, se empenharam em levar credibilidade em um momento tão sensível para centenas de milhares de pessoas. 

Do acordar ao encerramento das pautas, situações difíceis e impactantes mostraram uma realidade sofrida e jamais vista antes às profissionais. “Isso nos torna seres humanos mais empáticos e com desejo ainda maior de promover o bem por meio da informação e trazer mudanças sociais positivas, nosso papel como jornalistas”, pontua Débora.

Ela, como profissional, distribui o racional e o emocional dia após dia. Uma geração de jornalistas, segundo Débora, fica com um aprendizado sem precedentes na carreira. “A todo momento somos desafiados, temos de buscar um equilíbrio mental, emocional e racional para fazermos nosso trabalho da melhor forma”, salienta. 

“O contato com editores de diferentes telejornais e a frequência que estamos no ar para muitos públicos enriquece nossa trajetória, e com certeza será uma experiência marcante e histórica nas nossas carreiras”, finaliza Débora.

Como várias áreas tão importantes neste momento, jornalistas também desempenham importante papel ao informar e mostrar os fatos ocorridos no sul. Além deles, médicos, enfermeiros, psicólogos, arquitetos, engenheiros e outra gama enorme de profissionais formados na UPF também estão por aí, a campo, ajudando a reconstruir o Estado.