Literatura pode ser aliada durante o período de distanciamento social

Em tempos de distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19, os livros podem ser grandes aliados para enfrentar a solidão. Independente do gênero, dedicar alguns minutos do dia à leitura de suas obras preferidas, ou mesmo para descobrir novas leituras, pode ajudar a enfrentar de forma mais leve a situação, além de ser uma ótima forma de passar o tempo, que muita gente tem de sobra nesse período.
 
Na opinião da professora do curso de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF) Dra. Ivânia Campigotto Aquino, a ficção é parte integrante da nossa formação como sujeitos. “Se bem analisarmos, em meio à rotina diária de trabalho e compromissos pessoais, surgem, mesmo que inesperadamente, momentos em que nos retiramos do real e nos transportamos ao universo fabulado”, inicia explicando que essa capacidade forma nosso caráter e integridade espiritual. De acordo com Ivânia, textos que têm de poético, ficcional ou dramático ajudam a equilibrar o cotidiano. “A experiência de isolamento social que estamos vivendo pode ser mais leve e equilibrada, se incluirmos a leitura literária em nossas atividades diárias. Com poesias, contos, crônicas, romances, peças de teatro, podemos ampliar nossa capacidade de reflexão, desmitificar certezas, revigorar a capacidade de sermos solidários, cultivar ou redescobrir a importância da conexão entre as pessoas”, comenta.
 
Mas mais do que sua capacidade de transportar para diferentes realidades, o livro é também uma excelente companhia, segundo a professora, especialmente considerando o papel humanizados da literatura. “Encontrar companhia nos livros é encontrar, ao mesmo tempo, a companhia dos próprios pensamentos e uma forma de criar novos. Nesse sentido, conhecer os universos ricos, criados por tantos escritores, além de ser prazeroso, possibilita ao leitor acessar orientações inusitadas de tempo e espaço da criatividade humana”, explica Ivânia. Para ela, os livros também ajudam a elaborar opiniões que se pretende compartilhar. “Ler em casa, portanto, ajuda a não se deixar envolver em demasia com o vazio mental ou com o tédio. Afinal, tornar o dia produtivo é um desafio grande”, completa.
 
O poder inovador da leitura
Para viver o que a professora chama de “experiência do poder inovador da leitura”, a dica é escolher obras com temáticas do seu interesse e gosto. Para ela, isso é requisito essencial para a leitura valer a pena, pois facilita ao leitor interagir com o texto. Outra dica de Ivânia é dar preferência a autores reconhecidos pela crítica, pois eles têm muito a oferecer, pelos textos, em termos de qualidade literária. “Cabe lembrar que a expressão ficcional, com toda a sua potência à arte, compõe uma necessidade básica do indivíduo. Assim, a literatura é entendida como uma experiência humana e para o humano, numa forma estético-política”, acrescenta.
 
Dicas de leitura
Para ajudar quem está buscando pela próxima obra ou quem pretende conhecer o poder da literatura em tempos de quarentena, a professora Ivânia deu algumas dicas de leitura. Confira:

K. relato de uma busca, de Bernardo Kucinski, e Amaral: crónica de una vida, de Álvaro Barros-Lémez: “São obras que não deixam a memória enfraquecer. Tratam das experiências humanas difíceis, ou até mesmo insuportáveis, que a ditadura produziu às nações. Trazem relatos e aflições que ajudam a refletir sobre momentos da história recente”.

Dom, de Tony Bellotto: “O romance de Belloto é uma narrativa baseada na vida de Pedro Dom, um indivíduo da classe média alta do RJ que se transforma em assaltante e acaba sendo morto pela polícia no começo dos anos 2000. Com a base no mundo real, a obra apresenta um perturbador retrato das desigualdades sociais brasileiras”

Voz ao verbo, de Allan Dias Castro: “O poeta oferece textos lindos, que conduzem o leitor pelo caminho do autoconhecimento, algo que surge como muito importante em meio à atmosfera de ansiedade e, às vezes, tristeza, que estes dias têm produzido em nós. Pelos versos, o leitor vai experienciando sonhos, encontros, caminhada e, sobretudo, boa poesia. Gostaria de dizer que o autor, que, hoje, reside no RJ, foi meu aluno na terceira série do Ensino Fundamental, denominada, hoje, quarto ano, num colégio da nossa cidade, na década de 1990. Alegra-me, imensamente, acompanhar a sua trajetória de poeta. Seu trabalho é reconhecido e elogiado por escritores referenciais da atualidade, como Martha Medeiros e Luís Fernando Veríssimo”.

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