Educar é nossa ação: assim como o tempo, o ensino também precisa ser transformador
14/10/2022
16:00
Por: Assessoria de Imprensa
Fotos: Caroline Lima e Divulgação
No Dia do Professor, conheça iniciativas inovadoras que buscam dar protagonismo ao estudante, assim como oportunizar o aprendizado no tempo de cada um
As transformações do mundo estão, de todas as maneiras, dentro da sala de aula. Essa realidade desafia os professores na busca por ferramentas que sejam capazes de não apenas distribuir o conhecimento, mas fazer com que ele seja construído junto com os próprios estudantes. Essa capacidade de buscar alternativas é um dos destaques do corpo docente da Universidade de Passo Fundo (UPF).
É o compromisso que a Universidade tem com o educar. Por meio da campanha “Educar é a Nossa Ação”, lançada neste 15 de outubro, Dia do Professor, a UPF reforça esse compromisso, com o objetivo de inspirar e valorizar a educação que tem o poder de transformar realidades, mudar o mundo, construir conhecimento, ampliar horizontes e possibilitar novas oportunidades.
Assista à mensagem da Reitoria da UPF:
Essa importância dos elementos inovadores, interdisciplinares e interativos e a qualidade formativa que a Instituição oferece por meio dos seus professores está presente nas mais diversas atividades. Recentemente, algumas dessas iniciativas foram premiadas em um concurso interno realizado pela Pró-Reitoria de Graduação. Também para marcar essa data tão significativa para a Instituição, apresentamos algumas delas, que buscam dar protagonismo ao estudante, assim como oportunizar o aprendizado no tempo de cada um.
Conheça três iniciativas inspiradoras
Uma imersão interdisciplinar
Uma proposta de Simulação Realística Interdisciplinar desenvolvida pelos professores Dr. Carlos Bondan, Dra. Graciela de Brum Palmeiras, Dra. Maria Isabel Vieira Botelho, Me. Sandra Maria Vanini e Dra. Thaís Dresch Eberhardt buscou romper com o ensino tradicional. O grupo planejou uma nova metodologia de ensino-aprendizagem que permitiu aos acadêmicos de Enfermagem e Medicina Veterinária aplicarem os conhecimentos adquiridos em sala de aula em um cenário que simula um ambiente clínico que futuramente fará parte do cotidiano profissional. A aula prática foi realizada durante as disciplinas de Estágio Curricular I, da Enfermagem, e de Clínica Médica de Ruminantes, da Medicina Veterinária.
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A ideia foi realizar uma simulação de atendimento em uma propriedade rural, com atividades envolvendo acadêmicos dos dois cursos, no intuito de promover um processo mais humanizado que incluiu tanto cuidados com os animais, quanto aos moradores da propriedade. O cenário utilizado para a simulação foi o Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária (Cepagro) da UPF. “Usamos dois residentes como atores que se passaram por um casal de produtores rurais e usamos os animais para fazer uma encenação. Nessa primeira simulação consideramos doenças que são zoonóticas, ou seja, que afetam tanto os animais quanto os humanos”, explicou o professor Dr. Carlos Bondan.
“A partir da encenação, os estudantes tiveram o desafio de fazer o diagnóstico e encontrar uma solução para os problemas do casal e da propriedade”, afirma o professor, ao pontuar que a prática ajudou a enriquecer o conhecimento e o amadurecimento profissional dos acadêmicos. Assim como Bondan, a professora Thaís, do curso de Enfermagem, entende que a atividade proporcionou aos estudantes enxergar a propriedade como um todo e atender necessidades dos produtores que vão além do cuidado com os animais e que muitas vezes estão relacionados com outros problemas, como a saúde das pessoas, questões financeiras, entre outros. “A partir da interdisciplinaridade, os acadêmicos começam a ter uma visão do todo e passam a aprender a conversar entre as diferentes áreas, atendendo a outras necessidades dos produtores, que, às vezes, só o médico veterinário fazendo essa visita na propriedade rural, não consegue enxergar”, observou.
O acadêmico do curso de Enfermagem, Leonardo Mendes Santos, foi um dos estudantes que participaram da atividade. Segundo ele, quando recebeu o convite para fazer parte se sentiu animado e, num primeiro momento, um pouco receoso, pois nunca havia trabalhado em conjunto com a Medicina Veterinária. “É muito gratificante ver o resultado de um trabalho conjunto. A enfermagem e a medicina veterinária são profissões que, apesar de públicos diferentes, utilizam-se de dinâmicas de trabalho muito similares e que acabam por se complementar. Foi uma experiência de grande aprendizado que mostra o quanto a interdisciplinaridade é essencial durante a graduação”, disse. Para os próximos encontros, a ideia é ampliar as atividades, inserindo a prática em uma propriedade rural real.
Uma proposta formativa e humanizadora
Os professores Dr. Ivan Penteado Dourado, Me. Giovana Henrich, Dra. Patrícia Ketzer e Alexandre Sagioratto enxergaram, nas disciplinas da graduação Sociologia dos Processos Socioeducativos e Educação, Escola e Sociedade, uma oportunidade para possibilitar aos estudantes a vivência, na prática, do tripé ensino, pesquisa e extensão.
Ao aproveitar o ensino híbrido, potencializado durante a pandemia da Covid-19, os docentes perceberam que existia uma identidade pedagógica comunitária e interdisciplinar entre os temas. Como as disciplinas estavam isoladas nos currículos dos cursos, a união dos conteúdos e das práticas permitiu criar uma proposta com potencial formativo e humanizador. Para isso, promoveram uma série de ações efetivas durante as aulas. Conforme relata Dourado, foram aulas presenciais interativas, construídas coletivamente por meio da metodologia “Grupo de Debatedores”, proporcionando uma discussão mobilizadora e instigada pelos próprios estudantes, partindo do entendimento das leituras e vídeos de aulas anteriores e pela interação entre estudantes e professores.
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autonomia nos estudos e aulas presenciais interativas, construídas coletivamente
O que se pretendeu, segundo o docente, foi a autonomia de estudo a partir de aulas gravadas, com partes do conteúdo mais expositivas, que auxiliaram a preparar os estudantes para o momento presencial posterior. Dessa forma, os conhecimentos foram aprofundados em aula. “Construímos um conjunto de aulas e práticas que resultaram na mobilização de conhecimentos mais significativos, utilizando diversas ferramentas, como um cronograma interativo onde o aluno em um documento só acessava link de vídeos, documentários, livros filmes, músicas. Tudo foi utilizado como instrumento didático em diferentes momentos da disciplina, juntamente com avaliações inovadoras baseadas na interdisciplinaridade e formas de integrar o ensino, a pesquisa a extensão”, explica, ressaltando que a ideia surgiu da partilha da trajetória de prática pedagógica diferente de cada um dos docentes envolvidos.
Como resultado, Dourado destaca que eles puderam acompanhar estudantes que, mais do que terem contato com a sociologia e antropologia no campo da educação, foram motivados a pensar a escola e a sociedade de uma forma fundamentada, com objetividade pedagógica e científica, promovendo uma mobilização na forma de pensar e sentir, enquanto sujeitos. “É fundamental que repensemos nossa prática. Principalmente depois da pandemia, as aulas precisam ser acontecimentos, onde os estudantes se sintam parte, protagonistas, onde eles ensinam aprendendo, efetivando uma pedagogia comunitária e um ensino transformador e humanizador”, afirma o professor.
Os princípios metodológicos apresentados tinham como objetivo colocar no centro do processo de aprendizagem o protagonismo do estudante em seu processo formativo, a participação horizontal do grupo na significação dos conhecimentos, aliando metodologias ativas. Isso foi sentido pelos estudantes. No 4º semestre do curso de Música, Icarus Conrad Machado destaca que o aprendizado teve um outro sentido com a metodologia apresentada pelos professores. “Sendo uma disciplina híbrida, tivemos tanto momentos presenciais quanto remotos. Os momentos remotos eram dedicados à leitura de textos, vídeo-aulas explicativas produzidas pelo próprio professor e documentários, todos relacionados aos principais autores e conceitos da sociologia. Nos encontros presenciais, discutimos o conteúdo estudado em casa através de grupos de debatedores pré-definidos. E ao invés de uma avaliação tradicional, realizamos um Seminário Final sobre os últimos textos, em que a turma se dividiu e revezou em debatedores e observadores”, relata.
A maneira como as aulas foram conduzidas foram os diferenciais mais importantes para o acadêmico. “Consegui recuperar e compreender autores conhecidos e inéditos, e também observei a vantagem do modelo educacional híbrido, que nos permitiu gastar menos com as aulas e exercitar nossa autonomia nos momentos de estudo”, finaliza.
Conhecer os territórios e as diferentes realidades
A união das áreas de Farmácia, Psicologia, Educação Física, Antropologia e Filosofia resultou em uma nova metodologia que teve como foco dois temas: Leitura de realidade; e Gênero, Sexualidade e Saúde. A soma de esforços contou com o trabalho dos professores Dra. Carla Beatrice Gonçalves, Dr. Frederico Santos dos Santos, Dr. Luis Francisco Fianco Dias, Me. Marina Pitagoras Lazaretto e Roger Ghidini Dias.
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em territórios e instituições da cidade em que eles não se deslocam cotidianamente
As aulas foram desenvolvidas duas vezes por semana, dividindo as temáticas por períodos. Foram feitas visitas aos territórios da cidade e às instituições e lideranças, proporcionando aos estudantes a socialização em outros lugares da cidade para onde não se deslocam cotidianamente.
O professor Frederico dos Santos explica que a prática está ancorada em uma perspectiva de compreensão do mundo e de suas relações, denominada de relativismo cultural. “Nessa abordagem preconiza-se olhar para a realidade a partir de outras lentes, diferentemente daquela que fomos criados ou que estamos acostumados a orientar nossa vida cotidiana”, afirma.
Segundo ele, o processo de criação foi e constantemente é desafiador tanto para os professores, quanto para os estudantes. “Ao tentar compreender as outras culturas e suas formas de se relacionar com as pessoas e o mundo, necessitamos rever nossas práticas e valores. Desta forma, nós, professores e estudantes, nos reposicionamos na sociedade com outras perspectivas a fim de sermos cidadãos melhores”, ressalta.
De acordo com o professor, a avaliação pode ser compreendida a curto prazo, como percorrer lugares da cidade e formas de vida em contato direto com seus moradores; em médio prazo, voltado para uma formação em saúde que considere os valores e a vida das pessoas que moram nesses territórios; e a longo prazo, relacionando que os futuros médicos e médicas atuem com uma perspectiva de saúde pautada pelo desejo e condições das pessoas desses territórios.
Para a estudante do segundo nível de Medicina, Nathalia Milesi, a atividade realizada no bairro Valinhos II a fez abrir novos olhares e adquirir aprendizados que levará para a vida pessoal e profissional. “Fomos recebidos pelas lideranças do território, que nos contaram um pouco sobre o surgimento dessa comunidade, sua organização e suas principais conquistas e demandas. Ao conversar com alguns moradores pudemos compreender melhor a importância da luta diária para que a Ocupação Valinhos II seja reconhecida pelo município, e como essa questão impacta em todas as esferas de vida dessas pessoas”, disse ela, ao destacar.
“A proposta dessa atividade não é ir lá e transformar a comunidade, até porque, mesmo querendo, sozinhos não seríamos capazes disso, mas parar e ouvir o que os moradores têm para nos contar e, com isso, provocar em nós, estudantes, uma análise pessoal. Essa experiência fez com que eu refletisse sobre o tipo de profissional que quero me tornar, fez com que eu enxergasse que o paciente não é só composto pela doença, ele tem sentimentos e tem uma história que deve ser escutada e respeitada. Com certeza foi um aprendizado que levarei para a minha vida pessoal e profissional”, afirmou a acadêmica.
A líder comunitária da Ocupação Valinhos II, Edivania Rodrigues, pontua a importância de receber os acadêmicos da UPF no território. “Essa é uma possibilidade de eles saírem da zona de conforto e nos perceber como gente integrada no seu contexto, para romper com a crença de que todas as pessoas têm direitos garantidos. Nós, moradores das ocupações, ficamos felizes de ter os estudantes presentes na nossa ocupação, com um olhar de humanização e sensibilidade, além das orientações que eles nos dão. Às vezes, ter alguém que lhe escuta com empatia já resolve boa parte dos problemas. Nos sentimos fortalecidos e nada melhor do que ser enxergado como gente para evoluir humanamente”, finaliza Edivânia.
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