Por: Assessoria de Imprensa
Fotos: Arquivo UPF
Enquanto a geração atual enfrenta uma situação até então desconhecida, a proximidade humana é ressignificada
Nos dias atuais é difícil abordar algum tema sem fazer referência ou relação à pandemia de Covid-19 que impacta, em maior ou menor medida, em toda a sociedade. A busca por explicações e formas de minimizar o sofrimento gerados por tal situação é constante, seja por meio da ciência ou da espiritualidade. Mas há, nesse momento turbulento, um apoio bem conhecido e de fácil acesso: os amigos. Neste que é o Dia do Amigo, buscamos na psicologia algumas respostas sobre a importância destas pessoas na vida de todos.
A professora Me. Dirce Teresinha Tatsch, coordenadora do curso de Psicologia da UPF, explica sobre a importância destas relações, especialmente em momentos como os vividos atualmente. "Falar sobre amizade, Dia do Amigo, em plena pandemia do Covid-19, talvez traga significados diferentes para cada leitor(a). Nosso grande poeta Mário Quintana dizia: ‘Amizade é um amor que nunca morre’. Ele tem lá suas razões para esta afirmação. Mas como disse acima, acredito que nestes tempos de distanciamento social e restrições involuntárias devamos aproveitar e refletir sobre estes conceitos", introduz.
O que é ser amigo(a)?
Para responder à pergunta, a professora recorre à escritora Judith Viorst, em seu livro “Perdas Necessárias”, num texto de 1986. "Penso que segue atual. Registra a autora que nossos relacionamentos voluntários, como são as amizades, entre outros, nos permitirão tanto alegrias, quanto desapontamentos. São relações também chamadas de 'conexões imperfeitas'”, define. Sendo assim, continua a professora, mesclam sentimentos divergentes. "Isto é: amamos e invejamos, amamos e competimos. Indica a autora, e eu concordo, que o grande desafio das amizades é estar sincera e completamente junto do(a) amigo(a) nos momentos mais felizes da sua vida. Situação na qual estaríamos de fato, abertos a celebrar, espontânea e sinceramente as conquistas de nossas pessoas amigas", pontua.
Indo além, a professora apresenta ainda outras referências. "O grande mestre Sigmund Freud nos disse que em nossas relações interpessoais vivemos os atravessamentos simultâneos de sentimentos de amor e de ódio. E, assim como vivemos estes sentimentos com nossas primeiras figuras de afetos, os pais, as mães e/ou cuidadores, seguimos na vida, repassando às nossas demais relações, isto é: irmãos, cônjuges, filhos e amigos. Estamos conectados, por óbvio, pelas distinções sexuais que fazemos no exercício destes papéis, o que irá nos permitir amadurecimento e riqueza de vida emocional, multifacetada e satisfatória. Serão as nossas relações de amizade que nos permitirão a vivência da intimidade emocional", acrescenta.
Uma relação multifacetada
Retomando a escritora Judith, a professora Dirce destaca que a amizade pode ser compreendida em diferentes formas e categorias. Ela cita os principais, conforme a escritora, abaixo:
- Amigos por conveniência - (...) Vidas que rotineiramente se cruzam com as nossas. São as pessoas com quem trocamos pequenos favores. Emprestam as xícaras e os talheres para uma festa. Levam nossos filhos ao futebol quando estamos doentes. Ficam com o gato uma semana quando saímos de férias. O mesmo fazemos por eles.
- Amigos de interesses pessoais - (...) dependem de haver alguma atividade ou interesse comum. Amigos do esporte, do trabalho, da ioga, da ameaça nuclear. Reúnem-se para jogar bola de um lado para o outro na rede, ou para salvar o mundo.
- Amigos históricos - (...) Os anos passaram, cada um seguiu seu caminho, pouco têm em comum agora, mas são ainda uma parte íntima do passado de ambos.
- Amigos de encruzilhada - (...) como os históricos, (...) são importantes por causa do passado – pela amizade compartilhada numa época crucial da vida: (...) companheiros de quarto na universidade, (...) trabalharam em determinado local, (...) passaram juntas pela gravidez (...). Com amigos históricos e amigos de encruzilhada, forjamos elos com força suficiente para durar. Sem maior contato do que um cartão por ano, no Natal, mantemos uma intimidade especial – pouco ativa mas sempre pronta para ser reativada -, nas raras mas carinhosas ocasiões em que nos encontramos.
- Amigos de gerações diferentes - (...) intimidade carinhosa – terna, mas desigual – (...) O mais jovem dá ânimo ao mais velho, o mais velho orienta o mais jovem. Cada papel, de mentor ou de aprendiz, de adulto ou de criança, oferece seu próprio tipo de gratificação.
- Amigos íntimos - Emocional e fisicamente. São amizades de profunda intimidade. E, embora não se revele a mesma intensidade – nem o mesmo tipo de problemas – a cada um dos amigos íntimos, essas amizades implicam a revelação de aspectos do eu particular – de sentimentos íntimos e pensamentos, desejos, temores, fantasias e sonhos.
A partir desta contextualização, surgem novas questões como, por exemplo, se é possível identificar os tipos de amigos que cada pessoa tem."Talvez sim, talvez não. Mas acredito que seja importante, em tempos pandêmicos, nos apropriarmos dos conceitos e aprendizagens que a ocasião nos permite. Possivelmente saindo de visões otimistas e romantizadas, do que sejam as amizades de fato: o quanto podemos contar com aqueles(as) amigos(as), de ocasião, de interesses distintos, os históricos, os de encruzilhada, os de gerações diferentes e quiçá os íntimos? O que nos permitiria de fato, neste dito ‘Dia do Amigo’, nos livrarmos das armadilhas consumistas e propagandistas da felicidade eterna nas curtidas das redes sociais, reflexos marcantes destes nossos tempos?", questiona a professora. Para ela, conseguindo isso pode-se buscar celebrar as relações de afeto, sentimentos ambíguos, disputas, conquistas, confianças, partilhas, com aquelas pessoas que marcam a existência e protegem da solidão infinita. "Até mesmo porque, os amigos íntimos, conseguirão respeitar, nossos também necessários, momentos de encontros com nós mesmos. Precisamos, ainda, perder necessariamente algumas fantasias do que se pensa e propaga como sendo as amizades ideais", reitera.
Para encerrar, a professora retoma Judith: “(...) entre os amigos mais íntimos, pode haver aqueles a quem jamais se pede dinheiro – são encantadores e brilhantes, mas irremediavelmente mesquinhos. Pode haver amigos com os quais não se pode discutir um livro, ou amigos cujo modo de educar os filhos nos dá vontade de chorar. Pode haver também amigos íntimos com uma consciência por demais indulgente, na nossa opinião; amigos cujos atrasos compulsivos nos irritam; amigos íntimos cujos gostos quanto a comida, roupas, cachorros e políticos são incompreensíveis para nós – a preferência na escolha do cônjuge é pior ainda. Queremos que nossos amigos íntimos compartilhem nossas paixões e valores, nossos heróis e vilões, nossos amores e nossos ódios. Mas, na verdade, podemos ter amigos a quem temos de perdoar com complacência pelas nossas diferentes preferências. E, às vezes, por falharem conosco”, conclui.
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