Geral

Em casa, sim. Parados, jamais

07/05/2020

08:37

Por: Caroline Simor

Fotos: Raphael Borges

Com academias fechadas e a recomendação para não sair de casa, o período de isolamento pode ser o momento para colocar o corpo em movimento

Novos tempos exigem novas posturas e com a pandemia do novo coronavírus, a sociedade viu a necessidade de adaptar comportamentos, ações, trabalhos e atividades para seguir com a vida diretamente de casa. Entre as situações, estão as atividades físicas. Comprovadamente benéficos para a saúde, os exercícios físicos sofreram uma adaptação. Com as academias fechadas, as casas tornaram-se os novos espaços e os profissionais da área apresentam dicas para que, mesmo em isolamento, as pessoas não fiquem paradas. 

Para o professor Me. Raphael Loureiro Borges, coordenador do curso de Educação Física Bacharelado da Universidade de Passo Fundo (UPF), em confinamento, as pessoas estão tendo que lidar com muitas questões: o trabalho, as dificuldades, desafios, as informações que chegam de todas as partes, e o exercício pode ser um aliado no combate à ansiedade, além de ser uma importante ferramenta para a manutenção da saúde. 

A fórmula perfeita para praticar não existe. Segundo Raphael, falar que o exercício físico faz bem à saúde soa quase como um clichê, uma informação óbvia que é de conhecimento de todos. Basta uma breve pesquisa na internet para encontrar métodos, orientações, sugestões e planos milagrosos que, em tese, seriam ideais para qualquer um. Contudo, para o professor, o tema é mais complexo do que se apresentam nestas pesquisas e, em tempo de confinamento, há que se ter um cuidado para falar com os diversos públicos que estão em casa.

Não existe fórmula pronta
Onde fazer? O que fazer? Como e quantas vezes praticar? São questões que precisam ser respondidas por cada indivíduo, levando em consideração suas peculiaridades. De acordo com Raphael, é necessário dividir a sociedade, com relação às práticas corporais, e sem juízo de valor, em dois grupos: os sedentários e os praticantes regulares de atividades físicas. 

Para o primeiro grupo, os sedentários, o coordenador lembra que é preciso manter o mesmo discurso utilizado pelos meios de comunicação para enfatizar a importância de hábitos saudáveis e a prática regular da atividade física. “Uma pequena mudança nesta direção já pode trazer inúmeros benefícios como a perda de peso, prevenção de doenças, combater doenças graves como diabetes, colesterol elevado, hipertensão, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, entre muitos outros. Alguns benefícios podem ser rapidamente sentidos como a diminuição de dores ósseas e articulares, melhora do humor, do sono e da concentração, diminuindo assim, as sensações de stress e ansiedade causadas pelo isolamento”, pontua.

Ainda de acordo com o professor, é preciso destacar que uma alimentação saudável, manutenções da rotina e higiene devem ser pensadas, sendo importantes aliados para diminuir os efeitos nocivos da reclusão. “Não podemos esquecer que, quanto mais jovem iniciamos as práticas de atividade física (crianças e adolescentes), diminuímos muito as chances de nos tornarmos adultos sedentários e idosos com problemas. Por isso, é de suma importância estimular estas práticas, independentemente da idade, pensando e estimulando atividades para nossas crianças também. Pessoas que têm um histórico de prática de exercícios tendem a ter menos problemas com dores crônicas quando já estão mais velhas”, ressalta.

Na opinião do professor, o segundo grupo, aqui chamado de praticantes regulares de atividades físicas, certamente são aqueles que estão sentindo de maneira mais intensa os efeitos do isolamento. Para ele, enquanto para o primeiro grupo destaca-se a importância de iniciar uma prática de atividade física, para este, deve-se pensar nos efeitos nocivos da privação das atividades esportivas. 

Raphael frisa que é preciso entender os efeitos fisiológicos e psicológicos da privação de exercícios de quem estava acostumado a receber diariamente doses de endorfina (responsável pela sensação de alegria), serotonina e noradrenalina (que atuam na estabilização do humor), além de muitas outras reações químicas que alteram o metabolismo durante e após a pratica da atividade física, provocando uma sensação de bem-estar e prazer. “Independentemente das práticas com maior ou menor esforço, diferentes volumes e intensidades, aeróbios ou anaeróbios, os organismos são expostos a estímulos produzindo uma porção neurotransmissores e outras substâncias químicas que fazem com que o organismo das pessoas ativas tenha outra reação com a diminuição de suas práticas esportivas. A falta desses estímulos pode gerar transtornos como ansiedade, estresses, depressão, influenciar em questões relacionadas ao humor, concentração e qualidade de sono, interferindo de forma negativa no seu cotidiano”, sinaliza.

Praticar exercício sem prejuízos à saúde
Para as pessoas que não praticam nenhuma atividade, Raphael salienta  que é muito importante que procurem por atividades que gostem, sintam prazer, que tenham uma certa afinidade com os movimentos exigidos para a prática dos exercícios. De acordo com ele, não é um momento para treinos que exijam demais do organismo, principalmente para quem vem de um processo de inatividade, pois podem gerar lesões e esforços muito intensos podem baixar a imunidade. 

O professor explica que realizar os treinos em casa pode ser muito efetivo se forem executados e orientados de forma correta. “Devemos ter muito cuidado com a intensidade dos exercícios e não podemos esquecer que a monitoração é essencial para atingirmos nossos objetivos. Quem tem condições, é muito importante que procure orientação de um professor de educação física para a preservação da saúde. O grau de intensidade, assim como a grau de dificuldade e complexidade dos movimentos, tem relação direta com a necessidade da orientação de um profissional da área”, afirma. Para aqueles que não possuem recursos ou não têm condições de procurar uma orientação, Raphael pontua que é importante limitar-se e priorizar escolhas de atividades mais simples, sem muita complexidade na execução dos movimentos e de baixa intensidade, para não causar lesões. “Devemos cuidar com a enxurrada de treinos exibidos na internet, pois muitos são meras reproduções irresponsáveis de exercícios, sem levar em consideração as posturas corporais, históricos de lesão, condicionamento físico e doenças”, alerta.

Respeitadas as orientações dos órgãos públicos de saúde, o professor sinaliza que treinos ao ar livre, como caminhadas, passeios de bicicleta ou outras modalidades nas quais tenham habilidades para executar, podem ser realizados, sempre optando pelos horários de menor fluxo e evitando ao máximo o contato com outras pessoas. “Como última dica, tenha sempre traçado seus objetivos. Eles serão seus maiores motivadores para continuar persistindo. É importante que eles sejam viáveis, estruturados e comprometidos com sua saúde, por que da mesma forma com que eles te estimulam, podem ter efeito contrário, principalmente quando são impensados, com conquistas e resultados mirabolantes em um pequeno período de tempo. Ninguém terá seu corpo sarado em 10 minutos de treino por dia, mas é um importante passo para melhorar sua saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), bastam 30 minutos cinco vezes por semana para que você comece a sentir os benefícios da atividade física e manutenção da saúde”, contextualiza.
Outro ponto fundamental, de acordo com o professor, é a regularidade. “Para os praticantes assíduos de atividade física, é importante que tentem aproximar-se ao máximo possível da rotina de treino que tinham antes da pandemia. Isto refere-se principalmente a regularidade (frequência) e intensidade. Se hoje podem aumentar o tempo de treino ou o número de vezes por semana, não precisam ficar receosos, desde que avisem seus treinadores para realizarem as devidas modificações nas prescrições”, sinaliza.

Os exercícios físicos, assim como a vida em sociedade, terão novos significados ao findarmos esse período, conforme Raphael. “Infelizmente, nesse momento o futebolzinho com os amigos, o vôlei com a turma da escola, o basquete da turma do colégio e os passeios com a galera de bicicleta terão que esperar mais um pouco, mas tenho certeza de que ao retornarem, terão outros significados”, conclui.