Pesquisa e Inovação

Pesquisa da UPF identifica variações genéticas associadas a resistência à febre-aftosa em suínos casco de mula

01/06/2022

15:24

Por: Caroline Simor / Assessoria de Imprensa

Fotos: Camila Guedes

Estudo, desenvolvido ao longo de seis anos, chamou a atenção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. A raça estudada tem ainda melhor qualidade na carne

A ciência tem entre os seus objetivos a busca pelo melhor entendimento dos mecanismos e processos para a sua implementação, na área da veterinária, também pela segurança alimentar. Com esses aspectos em mente, o Dr. Ricardo Zanella, professor do curso de Medicina, Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação da UPF, deu início a um trabalho investigativo que, depois de seis anos de dedicação, recebeu a atenção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A pesquisa, feita com a parceria de acadêmicos, mestrandos, doutorandos e com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, fez o resgate de raças de suínos localmente adaptados, ou seja, animais que tiveram uma importância cultural e econômica, mas que deixaram de ser comercializados por alguns motivos. Ao resgatar suas genéticas, os pesquisadores descobriram que, além de terem uma melhor qualidade na carne, também possuíam alelos (variações gênicas) que conferem resistência a doenças como a febre-aftosa.

O professor explica que algumas raças acabam desaparecendo em função do mercado, que busca cada vez mais animais mais prolíficos com uma menor deposição de gordura, e que a ideia nasceu da necessidade de se ter uma carne com melhor qualidade para ser utilizada em sala de aula.

Ele lembra que há seis anos, o curso ganhou um reprodutor suíno da raça Moura e um casal de suínos da raça Piau Casco de Mula. A partir disso, eles iniciaram os cruzamentos, que foram trazendo resultados positivos em várias áreas. “Aqui na UPF só tínhamos animais comerciais, cujas características organolépticas da carne são inferiores às dos animais locais, que tem maior quantidade de gordura. Motivados pelo ex-professor Elci Dickel, que desejava ter animais com uma carne de melhor qualidade para o ensino em sala de aula, nas disciplinas de Inspeção e Tecnologias de produtos de origem animal, como os embutidos linguiça, salames e copas, começamos a trabalhar para resgatar alguns animais”, observa Zanella.

Perguntas e respostas ajudaram a evoluir a pesquisa

Ao fazer os cruzamentos entre as raças, a equipe verificou a característica predominante chamada “Casco de Mula”, que confere ao casco uma aparência uniangular, com apenas uma falange, idêntica à uma pata de mula. A incidência estava aparecendo em mais de 50% dos animais que estavam nascendo na Universidade. O trabalho rendeu alguns artigos publicados e chamou a atenção da FAO. “A Organização tem dado importância ao artigo, uma vez que ele busca entender esses animais localmente adaptados, bem como resgatar e preservar essas raças que tiveram peso na história do Brasil e do mundo”, pontua, ressaltando que a pesquisa segue em andamento.

Com diferentes variações do gene na resposta imunológica, o professor Ricardo e seus colaboradores observaram uma variação alélica que estava associada tanto com a característica casco de mula era a mesma associada com resistência a febre-aftosa. Após identificar essa variação no gene eles verificaram os mecanismos dele via rotas metabólicas para entender como essa característica quais os componentes do genoma estavam envolvidos com elas. Realizando estas análises foi possível caracterizar um gene de grande efeito com resistência a febre aftosa além da característica visual de casco de mula.

O projeto teve várias etapas, que resultaram na mentoria de vários acadêmicos de graduação e em várias publicações. A primeira etapa do projeto, explica Zanella, teve como foco a compreensão dos mecanismos da transmissão das características. “Realizamos um cruzamento endogâmico de Back-Crossing para entender a forma de segregação destes alelos nas populações de suínos. Depois nos perguntamos quais os genes envolvidos no aparecimento desta característica. Para esta etapa, coletamos amostras de pêlo para extração de DNA e realizamos a genotipagem, numa plataforma de alta densidade, com mais de 60 mil marcadores genéticos do tipo SNP. O resultado é muito interessante devido a importância dessa raça e as novas informações e conhecimentos nascidos delas poderão ser aplicadas na produção animal”, ressalta o pesquisador.

Reconhecimento internacional e sequência da pesquisa

Outros artigos estão sendo produzidos pelos pesquisadores, analisando a caracterização de raças localmente adaptadas no Brasil. O trabalho foi reconhecido internacionalmente no mês de março pelo Hollaender International Outreach Committee, da Environmental Mutagenesis and Genomics Society, da Florida.

Zanella ressalta que para a realização deste projeto foi fundamental o engajamento e participação dos membros do laboratório, pontuando que, em função de terem sido várias etapas no processo, todos participaram direta ou indiretamente do trabalho. “O próximo trabalho é tentar identificar como esse gene vai agir nos animais para entender os suínos a doenças. Sabemos que a raça pode ajudar a agregar valor para o pequeno produtor rural, uma vez que a carne com mais sabor, tem mais inserção em mercados que investem em produtos diferenciados, o que proporciona maior rentabilidade”, considera. 
 

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