“A história é escrita pelos vencedores”, assim como diz o escritor George Orwel, os acontecimentos históricos possuem muitas nuances. Curiosidades, detalhes e o outro lado da história são desconhecidos na maioria das vezes por boa parte da população. Na história de Passo Fundo não seria diferente, e diversos acontecimentos que influenciaram a vida dos antigos moradores, hoje são desconhecidos dos atuais passo-fundenses. Para falar sobre o tema e discutir sobre alguns fatos históricos desconhecidos de Passo Fundo, nós conversamos com os historiadores membros do Instituto Histórico de Passo Fundo, Alex Vanin e Djiovan Carvalho que esclareceram alguns pontos sobre a história da cidade. Na reportagem de hoje, os historiadores tratam sobre a emancipação de Passo Fundo.
Protagonismo desde antes da emancipação
Passo Fundo possui uma posição comercial e estratégica muito grande na região Norte do estado do Rio Grande do Sul. Hoje, cidade referência nas áreas da saúde, educação e agricultura, Passo Fundo assumiu essa posição de protagonismo regional há muito tempo, ainda antes da sua emancipação em 1857. Devido a sua localização, diversas tropas de diversas regiões do estado precisavam passar pela região para se deslocar para Santa Catarina e outras regiões do estado. Além disso, a vila de Passo Fundo como era conhecida, era um ponto de escoamento de produtos e do comércio muito importante para o estado. “É uma rota de comércio que no século 19, se estabelece com muita força. Então isso vai fazer com que Passo Fundo esteja em um lugar privilegiado”, lembra o historiador Alex Vanin. Essa posição estratégica para as tropas se deslocarem e o comércio que surgia na região levou que a vila se tornasse um município em 1857. “É um município muito grande, Passo Fundo ia até o Rio Uruguai, em direção norte; em direção leste até Vacaria; oeste até Cruz Alta; e no sul até Rio Pardo”, explica Vanin.
Motivos para emancipação
Anteriormente, a vila de Passo Fundo pertencia ao município de Cruz Alta, responsável por boa parte do território da região norte do estado. “Era um município muito grande e por toda essa grandeza era muito difícil de ser administrado.” salienta o historiador. Nessa época, o governo do estado e o império do Brasil decidiram avançar no controle sobre as questões indigenistas. A vila de Passo Fundo era considerada um território difícil de ser controlado, com diversas aldeias indígenas espalhadas pelo território. “Passo Fundo tinha a fama de ser um distrito perigoso, porque tinha grandes hordas de indígenas”. Para tentar conter essas as comunidades indígenas, e como Cruz Alta não conseguia possuir um controle em todo o seu território, Passo Fundo passou a ter a sua administração própria. “A presença indígena no século 19 é muito forte e isso justifica também em partes essa emancipação e essa necessidade de se ter uma administração mais voltada para esse território”, destaca o historiador.
Durante esse período surgem os chamados “aldeamentos provinciais” para manter os índios em um único local e confina-los em um único território impedindo movimentos nômades comuns em algumas culturas indígenas. “Os aldeamentos vão surgir nesse período para controlar os índios e para que eles não representem mais nenhum perigo para a civilização ocidental que se instalava. Milicianos surgiram para mantê-los em um único lugar e impedir que eles se mobilizassem e circulassem pelo território tentando barrar todo esse movimento cultural e imigratório que era próprio dos índios Kaingang” complementa Alex. Algumas dessas aldeias estavam localizadas em locais como Campo do Meio, Nonoai e Ligeiro, que no século vinte se tornaram reservas indígenas.
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