Doença que afeta a linguagem foi destaque nos conteúdos desenvolvidos no curso de Letras da UPF
A afasia é uma doença definida como um distúrbio de linguagem, o qual prejudica a capacidade de comunicação do indivíduo, podendo envolver deficiência na compreensão e expressão de palavras ou seus equivalentes não verbais. No curso de Letras da UPF, a disciplina de Linguística é a que se atém à temática. O conteúdo recebeu destaque recentemente.
De acordo com a professora Dra. Marlete Diedrich, o tema tem visibilidade na área a partir dos estudos de um dos grandes linguistas, cuja obra é trabalhada no curso, Roman Jakobson. “Ninguém nasce afásico. Pode-se desenvolver o distúrbio após uma lesão cerebral, geralmente no hemisfério cerebral esquerdo, causada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), um Traumatismo Cranioencefálico (TCE), um Tumor Cerebral, uma anóxia ou hipóxia cerebrais, que é ausência ou diminuição da oxigenação cerebral”, ressalta ela.
Segundo as acadêmicas Diana Elisandra Buscke Pains, Eduarda Becker de Castilhos e Nicóli Tombini Schiefelbein, as quais têm estudado as questões envolvidas na afasia, sob o olhar da Linguística, o autor Roman Jakobson é um dos linguistas mais importantes do século XX. Ele apregoa, em sua obra Linguística e Comunicação, que os linguistas devem habituar-se com os termos e procedimentos técnicos da medicina acerca da afasia, caso queiram se aprofundar nesse assunto, submetendo os casos clínicos a uma análise linguística completa. De acordo com o autor, o ponto principal para descrever e classificar as perturbações da doença é conhecer quais características da linguagem são prejudicadas em cada caso.
As acadêmicas do curso de Letras explicam que a combinação entre palavras e frases está sempre relacionada ao vocabulário, desta forma, uma pessoa não afásica consegue criar contextos totalmente novos com as palavras que possui. “Já um sujeito afásico não chega, muitas vezes, a usar a palavra específica pretendida, mas usa substitutivos. Exemplo disso é o que ocorre quando o afásico quer dizer a palavra garfo e acaba selecionando no sistema da língua as palavras faca, colher, talher. Saber o tipo e a classificação da afasia não basta para conhecer e entender a linguagem do afásico, embora ajude a identificar onde se encontrarão suas maiores dificuldades. Um mesmo tipo de distúrbio pode ter características diferentes para cada indivíduo, afinal, cada paciente é único e tem experiências de vida distinta em diferentes grupos sociais”, destaca a professora Marlete, que ministra a disciplina.
De acordo com as pesquisas realizadas no curso, há quem evite conversar com o afásico e prefira falar com seu acompanhante, como se ele não estivesse presente, entretanto, é muito importante que o médico oriente a família a não fazer com que o paciente se sinta excluído, lembrando que ele não deixou de ser inteligente, apenas não consegue expressar corretamente o que pensa.
Os estudos pontuam que certos conhecimentos – o tipo de afasia, a localização da lesão – são importantes, mas não são suficientes para dar conta da linguagem na interação com a pessoa afásica. Tendo em vista a dificuldade do afásico em se expressar corretamente, há maneiras de ajudá-lo. Uma dessas maneiras, conforme as acadêmicas, é esperando a conclusão de suas ideias bem como o encontro da palavra adequada para se comunicar. “É preciso entender que o afásico se expressará como for possível, com palavras, gestos e imagens, podendo também, trocar ou não os nomes de familiares, objetos e ações comuns de seu cotidiano. Tempo e escuta são fundamentais para a interação com qualquer pessoa! Comumente, com o intuito de tentar ajudar o afásico a realizar a comunicação, as pessoas sugerem palavras que nem sempre terão relação com o que, de fato, deve ser manifestado e por isso o cuidado com expressões e gestos fazem a diferença dentro do contexto”, observam as estudantes.
Formular frases curtas e diretas, com tópico determinado e informações relevantes facilitam a compreensão, assim como modular o tom de voz de uma forma tranquila e articulada. “Tudo ajuda. Essas pessoas podem e devem ser incentivadas a usar todas as formas de comunicação disponíveis além da fala, pois a linguagem não. É importante que o interlocutor do afásico tenha paciência e calma para saber esperar e interagir, falar por ele ou tentar mudar de assunto. Assim, a comunicação será mais fácil. Empatia significa saber se colocar no lugar do outro”, ressalta Nicóli.
Para conhecer mais sobre questões linguísticas, conheça a história de Hamilton, um paciente afásico que responde a seguinte pergunta: “O que é afasia para você?” Confira o vídeo aqui.