Teses defendidas
TESES PPGH/UPF
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1 – Título: “O oscilar da balança: o processo decisório na extradição de fugitivos nazistas em uma análise histórico-jurídica”
Autor: Felipe Cittolin Abal
Orientador: Profa. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Claudio Pereira Elmir (Unisinos), Adelar Heinsfeld (UPF), Ironita Adenir Policarpo Machado (UPF), Ricardo Jacobsen Gloeckner (PUCRS)
Defesa: 08/09/2016
Resumo: O objetivo desta tese é analisar e compreender o processo decisório dos julgadores em dois casos de pedidos de extradição contra criminosos nazistas. O primeiro diz respeito a Gustav Wagner, ex-membro da Schutzstaffel (SS) e segundo em comando no campo de extermínio de Sobibor onde foi responsável, direta ou indiretamente, pelo assassinato de centenas de milhares de pessoas de origem judaica. Após a Segunda Guerra Mundial Wagner fugiu da Europa e chegou ao Brasil na década de 1950, sendo descoberto e sofrendo pedidos de extradição julgados pelo Supremo Tribunal Federal entre 1978 e 1979, decidindo o Tribunal por maioria negar a extradição do nazista. O segundo caso é referente a Erich Priebke, exmembro da SS que exerceu atividades em Roma durante a Segunda Guerra Mundial e tomou parte no assassinato de 335 civis italianos no que ficou conhecido como o “massacre das Fossas Ardeatinas”. Depois de ser detido Priebke fugiu da Europa passando a viver na Argentina, sendo descoberto em 1994 e tendo sua extradição solicitada pela República da Itália. O pedido de extradição chegou à Corte Suprema de Justicia de la Nación em 1995 e foi deferido pela maioria dos julgadores. As semelhanças entre os casos e os desfechos diversos gerou o questionamento acerca dos motivos que influenciaram o processo decisório dos julgadores. Assim, foi criado um instrumento científico para a análise do processo decisório e das decisões judiciais: a prática histórico-jurídica. Segundo esta prática outros elementos além da própria decisão devem ser estudados para a compreensão dos julgamentos, sendo eles: os julgadores e suas instituições, as partes, as regras aplicáveis e o contexto histórico em que os julgamentos transcorreram. Diante desta prática foram analisados os extraditandos (Wagner e Priebke), os tribunais (o Supremo Tribunal Federal e a Corte Suprema de Justicia), os julgadores, as principais normas jurídicas observadas (princípio da legalidade, prescrição penal, tratados internacionais e o crime de genocídio), além dos julgamentos e do contexto histórico e político em que estes transcorreram. Após o estudo envolvendo os elementos propostos pela prática histórico-jurídica foi possível concluir a respeito do processo decisório nos casos analisados. No caso Wagner fatores pessoais dos julgadores e institucionais tiveram importância, uma vez que o Tribunal se encontrava em um momento de transição em que o Brasil estava prestes a sair de um governo ditatorial para uma democracia, passando a decisão obtida uma ideia de soberania das normas nacionais, do país e também do STF, que deveria se legitimar como instituição. Ainda, foi destacada a ideologia do positivismo jurídico visível nos votos dos julgadores. No caso Priebke, a CSJN também sofreu influência do contexto histórico-político, alinhando-se à necessidade do poder Executivo de passar uma imagem de um país democrático e moderno, alinhado com os países de primeiro mundo. Assim, a linha de raciocínio jurídica utilizada pela maioria dos julgadores foi voltada ao pensamento jurídico pós-Segunda Guerra, permitindo a extradição do nazista. Através da prática criada e dos elementos analisados foi possível concluir a respeito dos elementos que influenciaram os julgadores em ambos os casos e compreender os resultados em sentido diverso obtidos.
2 – Título: “Tribunais consulares dos Estados Unidos no Japão: extraterritorialidade, poder e justiça (1859-1899)”
Autor: Emannuel Henrich Reichert
Orientador: Profa. Dra. Ironita Adenir Policarpo Machado
Banca: Amado Luiz Cervo (UNB), Estevao Chaves De Rezende Martins (UNB), Adelar Heinsfeld (UPF), Helder Volmar Gordim Da Silveira (PUCRS)
Defesa: 21/03/2017
Resumo: Esta tese tem por objetivo analisar a implantação e funcionamento dos tribunais extraterritoriais dos Estados Unidos no Japão durante seu período de existência, entre 1859 e 1899. Em decorrência da expansão do capitalismo e dos impérios ocidentais no século 19, o Japão, como outros países (Turquia, China, etc.), foi submetido a uma condição semicolonial: em vez de arcar com os altos custos da conquista e administração de uma colônia, os países imperialistas optavam, quando possível, por uma dominação informal e mais simples. Esta se baseava na influência, cooptação de elites e pressão econômica e militar, tendo como objetivo principal a preservação do livre comércio. Um dos mecanismos responsáveis pela efetivação do imperialismo informal era o regime de extraterritorialidade. No interior dos países ocidentais, vigorava como regra básica a territorialidade: no território de um Estado aplicavam-se sempre as leis daquele Estado, não as de qualquer outro. Esse princípio era uma das bases do chamado sistema internacional de Vestfália, então em vigor no Ocidente: a igualdade formal entre os Estados e a soberania de cada um deles sobre seu território. Entretanto, em países africanos e asiáticos semicolonizados, as regras eram diferentes, e tratados desiguais impunham a extraterritorialidade, pela qual comunidades inteiras (como todos os americanos no Japão) estavam isentas da jurisdição local e sujeitas às leis de seu país de origem. Para a aplicação extraterritorial das leis americanas, os cônsules e diplomatas recebiam poderes judiciários, criando os chamados tribunais consulares e ministeriais. À primeira vista, os tribunais extraterritoriais americanos tinham como razão de ser a manutenção do imperialismo, protegendo seus concidadãos das leis e autoridades locais enquanto difundiam normas apropriadas às relações sociais capitalistas. Inegavelmente essa foi uma de suas funções, mas não a única, pois os tribunais se relacionavam a variados campos da sociedade, grandes e pequenos: afetavam as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Japão, mas também de ambos com países europeus, também beneficiados pelo regime extraterritorial e possuidores de seus próprios tribunais consulares; afetavam a vida das cidades abertas à presença estrangeira no Japão, onde se formaram vibrantes comunidades plurinacionais em constante contato e tensão; afetavam o poder do governo federal americano diante de seus cidadãos e sua capacidade em controlá-los além de suas fronteiras; afetavam a política interna americana, onde consulados eram distribuídos aos políticos influentes e seus protegidos; e estavam sujeitos à influência de todos esses setores. Os múltiplos objetivos daí decorrentes frequentemente estavam em conflito, o que tornava necessário conciliar o projeto de expansão imperial-capitalista com os demais interesses em jogo.
3 – Título: “Ajustando as peças do tabuleiro: a cooperação da Misereor em comunidades agrícolas do Sul do Brasil (1959-1979)”
Autor: Douglas Orestes Franzen
Orientador: Prof. Dr. Joao Carlos Tedesco
Banca: Jose Carlos Radin (UFFS), Gizele Zanotto (UPF), Rosane Marcia Neumann (UPF), Rogerio Luiz De Souza (UFSC)
Defesa: 27/09/2017
Resumo: A tese busca compreender projetos de cooperação para o desenvolvimento da instituição episcopal alemã Misereor na Região Sul do Brasil entre os anos de 1959 e 1979. A Misereor foi fundada no ano de 1959 na Alemanha Ocidental num contexto de ressignificação da geopolítica mundial pós Segunda Guerra Mundial e mais especificamente num contexto de abertura à modernidade por parte da Igreja Católica no cenário do Concílio Vaticano II e de sua Doutrina Social. Sustenta-se a tese de que a Misereor se fortaleceu no cenário da cooperação internacional com uma proposta de desenvolvimento e disseminação dos ideais católico-cristãos de sociedade moderna, como elementos que convergiram na proposta da Igreja Católica para a constituição de um mundo de paz e equilíbrio baseado numa profilaxia e na integração dos países vistos como subdesenvolvidos na dinâmica do capitalismo ocidental. Para tanto, as hipóteses consideradas são 1) O princípio da subsidiariedade representou uma ferramenta de ação social do catolicismo baseado no princípio do indivíduo diante da sua condição social, do bem comum e da solidariedade; 2) a cooperação foi assumida como elemento convergente com a geopolítica do capitalismo ocidental; 3) o desenvolvimento foi institucionalizado pela Igreja Católica visando manter um padrão e uma profilaxia de vínculos e intencionalidades; 4) nesse contexto, a agricultura recebeu um olhar singular da cooperação católica; 5) no caso específico da Misereor, houve uma aproximação com a política externa da Alemanha Ocidental, que buscava construir uma nova imagem mundial e se inserir na dinâmica geopolítica pela via da cooperação para o desenvolvimento. Para a análise considera-se a metodologia da História Política como uma proposta que considera as relações de cooperação para o desenvolvimento compostas por variadas relações de poder e de intencionalidades, compondo uma teia de acontecimentos históricos constituída por sujeitos e instituições inseridas num contexto social e político diverso, vislumbrando essa realidade como um jogo de escalas, onde a região se reconfigura a partir do foco de análise. Para a análise, consideram-se os projetos de cooperação desenvolvidos em áreas agrícolas dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná num cenário de modernização da agricultura e da formação de um cenário político no espaço rural. A análise parte de duas perspectivas: a) a produção de alimentos e a geração de renda; e b) a formação/instrução do produtor rural. Conclui-se com essa análise que o ideal de desenvolvimento representou um esforço de integração dos povos subdesenvolvidos na dinâmica do capitalismo ocidental com base em princípios de indivíduo e de sociedade defendidos pela Igreja Católica como elementos de uma justiça e de uma paz mundial.
04 – Título: “Freies Deutschland: o antinazismo na América em perspectiva transnacional (1933-1945)”
Autor: Wanilton Tadeu Dudek
Orientador: Prof. Dr Adelar Heinsfeld
Banca: Dennison de Oliveira (UFPR), Marionilde Dias Brepohl de Magalhães (UFPR), Ana Luiza Setti Reckziegel (PPGH/UPF), Felipe Cittolin Aba (UPF)
Defesa: 27/09/2018
Resumo: O objetivo desta tese é compreender a acepção das lutas políticas dos movimentos dos alemães antinazistas que atuaram no continente americano, tendo como perspectiva de análise os grupos organizados por exilados de fala alemã no Brasil, Uruguai, Argentina e Estados Unidos, buscando a reconstituição das ideias que circulavam entre eles durante os anos de 1933 e 1945. A tese central é de que estes grupos antinazistas que se estabeleceram nas Américas formaram um complexo movimento político, com objetivos ora convergentes, e ora divergentes, atuando decisivamente na esfera pública e na construção das ideias que combateram o nazismo, sem ater-se exclusivamente às ideologias de esquerda, mas compondo um quadro complexo de ideologias políticas. Importa mencionar que a composição desses grupos políticos não era feita por imigrantes ou descendentes, mas sim de pessoas que buscaram fugir das perseguições do governo de Adolf Hitler, que tinham como atividades a política, as artes, o universo intelectual, planejando o seu regresso para o país de origem. Para tanto, utilizou-se a produção literária, como revistas, jornais e artigos e correspondências pessoais dos exilados, bem como materiais da imprensa e dossiês das polícias do Brasil e dos Estados Unidos, que tinvestigaram essas atividades. O uso destas fontes foi possível por meio das pesquisas realizadas em arquivos brasileiros, uruguaios e estadunidenses, que permitiram compreender como as conexões entre os antinazistas no continente americano contribuíram para trazer um debate global para espaços nacionais, entrelaçando-se com as conjunturas regionais. Na América do Sul, os exilados formaram o Das Andere Deutschland, na Argentina, o Movimento dos Alemães Livres e o Movimento dos Anti-Nazis Alemães, ambos no Brasil e organizaram o Congresso dos Alemães Antinazistas da América do Sul, em Montevidéu. Nos Estados Unidos, as atividades foram intensas na região de fronteira com o México, formando uma rede de atividades polítcas entre Los Angeles, na Califórnia, e os editores da revista Freies Deutschland, na Cidade do México. Desta forma, as perspectivas da história transnacional, aliado aos conceitos da chamada nova história política, são os aportes metodológicos utilizados para compreender como as atividades dos movimentos de alemães livres transbordaram fronteiras, formando um espaço de circulação de ideias, sem ater-se necessariamente à questões de Estado.
05 – Título: “Excessos de patriotismo”: terrorismo de estado e os grupos de onze companheiros – 1964/1965”
Autor: Marli De Almeida
Orientador: Profa. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Enrique Serra Padrós (UFRGS), Tatyana De Amaral Maia (PUCRS), Mário Maestri (UPF), Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 05/10/2018
Resumo: Esta tese tem como objeto central os Grupos de Onze Companheiros ou Comandos Nacionalistas, organizados por Leonel Brizola a partir de outubro de 1963 para a “defesa das conquistas democráticas do povo brasileiro, pelas reformas imediatas e pela libertação nacional.” Houve extraordinária adesão ao movimento, especialmente no Rio Grande do Sul, demonstrando a vontade de participação popular e o engajamento político existente no momento, além de uma expectativa de mudanças pela realização das reformas de base, especialmente da reforma agrária. Pelo contexto de Guerra Fria, essa mobilização foi vista e alardeada como subversão e avanço da guerra revolucionária que instauraria o comunismo no Brasil. A formação desses grupos municiou os grupos conservadores, que temerosos com a expansão esquerdista e com a mobilização popular, já conspiravam para a deposição de João Goulart da presidência. Com o golpe civil-militar de 31 de março de 1964 foi instaurado um governo ditatorial que, visando eliminar toda e qualquer oposição ao regime, utilizou-se de práticas de terrorismo de Estado (TDE), atingindo diretamente as pessoas que participaram dos Grupos de Onze ou que eram suspeitas de envolvimento com essa mobilização. A principal fonte para esse estudo são os processos de pedido de indenização por perseguição política, tornados possíveis pela Lei 11.042, de 18 de novembro de 1997, por meio da qual o Estado do Rio Grande do Sul “assumiu a responsabilidade por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos e estabeleceu normas para que sejam indenizadas”, disponibilizados para consulta pública no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Foram selecionados, para fins dessa pesquisa, 440 processos, em que os requerentes à indenização alegam prisão, perseguição e/ou torturas por envolvimento com os Comandos Nacionalistas ou estão citados em outros processos como membros dos referidos grupos. Pela análise desses processos, busca-se estabelecer um perfil dos envolvidos com os grupos, as motivações para sua adesão ao movimento, os locais onde houve maior formação dos grupos, a extensão da repressão desfechada ainda em 1964 e os efeitos da violência estatal na vida dos perseguidos políticos e na de seus familiares.
06 – Título: “Entre Campos – O intercâmbio espírita Brasil-Portugal e a (re)construção do movimento espírita português (1940-1980)”
Autor: Túlio Augusto Paz e Albuquerque
Orientador: Profa. Dra. Gizele Zanotto
Banca: Andre Victor Cavalcanti Seal da Cunha (UERN), Artur Cesar Isaia (UniLasalle), Marcos José Diniz Silva (UECE), Gerson Luís Trombetta (UPF)
Defesa: 26/10/2018
Resumo: Na França, em 1857,era lançado O Livro dos Espíritos por Allan Kardec, conectado com o contexto “cientificista” do século XIX, que pretendia trazer respostas aos fenômenos tidos como “sobrenaturais”. Poucos anos após o lançamento da primeira obra, há relatos da inserção do Espiritismo no Brasil e em Portugal. Em ambos os cenários religiosos, o Espiritismo foi acolhido principalmente por uma elite local letrada.Sua difusão evidenciou-se a partir de uma imprensa opositora, a qual despertava a curiosidade popular. A expansão espírita em Portugal e no Brasil teve suas especificidades: enquanto que em Portugal foi visto um espiritismo mais ligado às bases científicas; no Brasil, o movimento espírita foi se fortalecendo através de um viés mais social e cristão. No Brasil, essa ênfase se consolida com a atuação principalmente de Francisco Cândido Xavier e da Federação Espírita Brasileira (FEB), quando da publicação de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho(1938). Essa obra fundamentou a construção de uma tradição espírita brasileira. A partir dela, o Brasil era tido como um país dotado de uma “missão espiritual”, uma ressignificação espírita do mito fundador do Brasil “Terra do por vir”. Apoiados nessa “missão espiritual”, algumas autoridades espíritas brasileiras, principalmente após o Pacto Áureo em 1949, intensificaram sua atuação no campo religioso português. O movimento espírita português teve uma expansão significativa principalmente no início do século XX. Porém, entre os anos de 19331974, o regime salazarista, apoiado pela Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR dominava o campo político. Em 1953, o Governo português suspendeu as atividades da Federação Espírita Portuguesa - FEP, pois não a reconhecia enquanto uma instituição pedagógica e científica. Diversos centros espíritas também tiveram suas atividades suspensas, restringindo o movimento espírita português a poucos centros espíritas e a cultos familiares. Apenas a Revista Estudos Psíquicos, fundada por Isidoro Duarte Santos (1939), esteve em circulação durante quase todo esse período. Essa revista foi a principal fonte utilizada neste trabalho para compreender historicamente o encontro entre esses dois campos religiosos (BOURDIEU, 2004), Brasil e Portugal, na ação do processo de (re)construção do movimento religioso espírita português (1940-1980). A fundamentação teórica se norteia em Arribas (2014) para compreender o papel das autoridades espíritas brasileiras, portuguesas e lusobrasileiras, suas atuações nos tipos específicos de autoridades: intelectuais, institucionais e carismáticas, as quais fortaleceram o intercâmbio e direcionaram referências históricoreligiosas de experiências consolidadas no movimento espírita brasileiro para Portugal, apontadas por Bernardo Lewgoy (2008) e acrescida a categoria transcendental “missão espiritual”. A conexão histórica entre Portugal e Brasil foi ressignificada culturalmente e lhes permitiu construir para si representação(ões) específica(s) do espiritismo em seus campos. O intercâmbio de suas ideias uniu convicções que se reafirmaram historicamente, conectadas “espiritualmente”, trazendo para o Brasil um protagonismo no campo religioso, com um tipo de discurso representativo de um espiritismo “religioso” (social e cristão) que, acreditamos, influenciou não só o campo religioso português, mas que avança na atualidade no campo religioso internacional.
07 – Título: “Índios, Jesuítas e Bandeirantes no Alto Jacuí: implicações históricas e geopolíticas da redução de Santa Teresa Del Curiti”
Autor: Fabrício José Nazzari Vicroski
Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Tau Golin
Banca: Józef Szykulski (Uniwersytet Wroclawski), Klaus Peter Kristian Hilbert (PUCRS), Jairo Henrique Rogge (Unisinos), João Carlos Tedesco (UPF), Luíz Carlos Tau Golin
Defesa: 05/11/2018
Resumo: A redução jesuítica de Santa Teresa del Curiti foi fundada no ano de 1632 pelo padre Francisco Ximenez na região noroeste do atual Estado do Rio Grande do Sul. No ano seguinte o incipiente povoado foi transmigrado para uma posição mais ao sul. A nova localização permitiu a articulação com as demais reduções e atenuou os riscos de ataques de índios Jê. Ambas as localizações situavam-se na bacia do alto Jacuí, então denominado Igaí. Tratava-se de um povoado próspero e de localização estratégica. Sua população superou quatro mil pessoas. Seduzidos pelo lucrativo comércio escravagista, os bandeirantes paulistas lançaramse sobre as missões do Tape. Em 1637 uma tropa comandada por André Fernandes invadiu a redução de Santa Teresa. Os indígenas foram capturados e remetidos a São Paulo onde foram comercializados como escravos. Plenamente cientes da localização estratégica da redução, os bandeirantes estabeleceram ali um posto de aprovisionamento. Durante mais de três décadas o local serviu como base de apoio para a penetração luso-brasileira em direção ao interior do território sul-rio-grandense, auxiliando na tomada dos demais povoados missioneiros e também em campanhas militares. A partir dessa base os paulistas lançaram-se em investidas para o oeste, sul e sudoeste. Transcorridas pouco mais de três décadas, a manutenção dessa importante posição tornou-se então insustentável. A interpretação dos fatos históricos relacionados à fundação da redução de Santa Teresa e o posterior estabelecimento de um posto de apoio às investidas bandeirantes permitem extrapolar os limites geográficos da zona do Tape. O arraial do Igaí se consolidou como o polo irradiador dos exploradores escravocratas luso-brasileiros do Rio Grande do Sul do século XVII. Estima-se que cerca de 30 mil indígenas tenham sido subjugados. A dinâmica de povoamento tradicional das populações nativas foi desarticulada. A disputa territorial alçou um novo patamar. Os embates regionais refletiam o contexto geopolítico das potências ultramarinas. A problemática vislumbrada é decorrente do esquecimento desse passado, raramente ou superficialmente abordado. Através do desenvolvimento da presente pesquisa, pretende-se evidenciar a importância histórica dos fatos arrolados, defendendo-se a tese de que os acontecimentos resultantes da fundação da redução tiveram profundas implicações históricas e geopolíticas na formação do Rio Grande do Sul.
08 - Título: De Volta às Trincheiras - O revisionismo histórico paraguaio e a Guerra contra a Tríplice Aliança (1870-1930)
Autor: Silvania De Queiroz Pfluck
Orientador: Mario Jose Maestri Filho
Banca: Jorge Luiz Prata de Sousa (Universo), Paulo Marcos Esselin (UFMS), Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Janaína Rigo Santin(UPF)
Defesa: 27/11/2018
Resumo: A escrita da história é um processo complexo, envolvendo inúmeros aspectos, sobretudo ideológicos, políticos e econômicos. Após a Guerra da Tríplice Aliança com a República do Paraguai [1864-70], esse país saiu destruído e o poder encontrou-se nas mãos das forças vencedoras aliancistas, apoiadas pelos legionários, paraguaios que combateram contra seu país. Após a guerra, as representações historiográficas e culturais dos vencedores se tornaram hegemônicas no Paraguai. Elas não impediram a existência de visões destoantes sobre a história paraguaia, em geral, e, a guerra, em particular. Antes da guerra já existia no Paraguai uma elite intelectual que refletiu e escreveu sobre o país, de forma direta ou indireta. Entre esses intelectuais pré-guerra, podemos destacar Alfred Demersay, Carlos Antonio López, J.R.Rengger, Manuel Pedro de Peña, Mariano Antonio Molas, Juan André Gelly, Francisco Wisner, entre tantos outros. No pós-guerra, se destacou a chamada geração dos Novecentos, que foi uma das mais importantes promoções de intelectuais do país, um dos primeiros grupos de pensadores que se dedicaram, com grande destaque, ao estudo da cultura e da história paraguaia. Entre eles, destacaram-se Blas Garay (1873-1899), Cecilio Báez (1862-1941), Juan Emiliano O’Leary (1879-1969), Manuel Domínguez (1868-1935), Juan Silvano Godoi (18461926), Gregorio Benites (1834-1909), Fulgencio Moreno (1872-1933), Arsenio López Decoud (1867-1945), Ignacio Pane (1879-1920), Eligio Ayala (1879-1930), Manuel Gondra (1871-1927) e José Segundo Decoud (1848-1909). A chamada Geração dos Novecentos teve papel central na construção da historiografia paraguaia. Por muitas décadas a visão historiográfica hegemônica no Paraguai foi a visão dos aliancistas, onde a culpa do conflito era atribuída unicamente ao “tirano” Solano López; o Paraguai seria um país sem glórias, marcado pelo despotismo e que a guerra teria contribuido para “introdução” da civilização no Paraguai. De outro lado, parte dos intelectuais acima citados começaram movimento de resgate da história e do nacionalismo paraguaio, entre eles Blas Garay, Juan Silvano Godoi, Juan Emiliano O’Leary e Manuel Domínguez teriam exaltado aos feitos do povo paraguaio muito antes do surgimento do lopismo positivo em 1930. Podemos perceber que, desde o fim da guerra, houve um surdo movimento de simpatia para com o mariscal Francisco Solano López, entre a população do país. Em visita ao Paraguai, em 1887-8, o político argentino liberal-mitrista Estanislao Zeballos declararia, sobre a constituição já praticamente orgânica de movimento lopista, que explicava como revivência de tendências atávicas regressivas paraguaias. Através das obras produzidas pelos quatro intelectuais acima citados, dos manuais escolares e dos jornais do pós-guerra analisaremos o início do revisionismo histórico e buscamos compreender como a historiografia paraguaia se constituiu, quais suas influências, semelhanças e diferenças.
09 - Título: Qua comando mi. Coronelismo na região colonial italiana: práticas de cooptação e coerção do Cel. Agilberto Attílio Maia no município de Guaporé (1912 – 1930)
Autor: Giovani Balbinot
Orientador: Joao Carlos Tedesco
Banca: Helder V. Gordim da Silveira (PUCRS), Vania Beatriz Merlotti Herédia (UCS), Adelar Heinsfeld (UPF), Alessandro Batistella (UPF
Defesa: 27/11/2018
Resumo: Esta tese de doutorado objetiva analisar, através da atuação do cel. Agilberto Attílio Maia, no município de Guaporé, as práticas de cooptação, de coerção e a formação da rede de compromissos que sustentaram os coronéis atuantes na região de colonização italiana durante as três primeiras décadas do século XX. Analisando a trajetória desse indivíduo em especial, estranho à região, que se eternizou à frente da direção da Intendência municipal entre 1912 e 1937. Desejamos delinear o perfil do coronel que atuou nessa região percebendo as peculiaridades e similaridades adequadas à realidade colonial com o coronelismo manifestado nas demais regiões do Rio Grande do Sul e no restante do Brasil. Ao mesmo tempo, buscamos abranger a inserção dos imigrantes e os descendentes na dinâmica política do Estado durante o período borgista, descartando análises simplórias que orbitam comentos de “massas de manobra”, mas sujeitos conscientes e ativos mesmo que nesse momento com limitado horizonte político de ascensão. Para esses objetivos, analisaremos as práticas de uso da educação na nomeação de professores e a abertura de aulas públicas; a estruturação e conservação da malha viária do município como forma de cooptação dos colonos, das lideranças econômicas e sociais para a hierarquia do PRR municipal. E no âmbito da coerção na nomeação de promotores, juízes de distrito, Comarca e Superior Tribunal que edificaram um aparelho jurídico em benefício dos componentes da rede de compromissos em detrimento dos opositores, com a organização de uma estrutura policial que reunia Brigada Militar, Guarda Nacional, Polícia Administrativa e Judicial. Por fim, os corpos armados, oficiais ou não, empregados nas próprias fraudes eleitorais, compras de votos, intimidações e violências contra indivíduos recalcitrantes a ingressarem na rede de compromissos estabelecida pelo coronel. Assim, compreendemos a existência do fenômeno coronelista, no entanto, adaptadas as condições e especificidades culturais, econômicas, sociais e políticas da região de colonização italiana.
10 - Título: TERRA BRASILIENSIS. La región histórica del Norte uruguayo en la segunda mitad del siglo XIX- 1850-1900
Autor: Eduardo Ramón Palermo Lopéz
Orientador: Mario Jose Maestri Filho
Defesa: 28/11/2018
Banca: Ester Judite Bendjouya Gutierrez (UFPEL), María José Lucía Becerra (UNC - ARGENTINA), Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Luiz Carlos Tau Golin (UPF)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo determinar a existência de uma região histórica na fronteira norte do Uruguai, cujo processo de territorialização começei a estudar na tese de mestrado. Portanto, este trabalho é a sua continuação no período de 1850 a 1900. Analisamos o espaço que chamamos de "Banda Norte" - formado pelos actuais territórios do Rio Grande do Sul, norte do Rio Negro e fronteiras com o Brasil - descrevendo os processos de territorialização na medida em que analisamos o contexto sócio-económico e político em que eles estão sendo reconfigurados como uma região histórica diferente dos outros espaços existentes no Uruguai. É importante estabelecer as diferenças com os processos que ocorrem no sul do país, na região de influência de Montevidéu. Para efeitos de determinação da região histórica, foi realizada uma reflexão teórica sobre os conceitos de espaço, território, limites, fronteiras e região, demonstrando que é possível identificar a existência de uma região histórica, ainda desconhecida pela historiografia nacional cujos processos sócio-históricos são diferentes da narrativa nacional hegemônica centralizada em Montevidéu. Consideramos, assim, gerar uma contribuição consistente para a historiografia do Uruguai e da regiao na midida que descrevemos uma região histórica abrangente como aos territórios de dois Estados nacionais. Partimos da presença demográfica e económica dos proprietários sulriograndenses num censo de propietarios de 1850, caminhamos pelo comércio regional de escravos (1850-1880), analisamos os tratados de 1851 com o Império e suas consequências nefandas em termos diplomáticos e económicos, em funçao deles foi possível manter uma escravização dissimulada pela suposta legalidade dos contratos de serviços, aceitos pelo governo uruguaio como validos. Estudamos o processo que denminamos de orientalização dos territórios de fronteira, em desacordo com o conceito de desbrasileración desses territórios contando com as estatísticas demográficas e econômicas disponíveis, bem como os relatórios dos atores sociais que operam no território, como professores, inspetores, políticos e representantes do governo.
11 - Título: Contra todos: a crítica positivista ortodoxa à Guerra contra o Paraguai (1889-1930)
Autor: Fabiano Barcellos Teixeira
Orientador: Mario Jose Maestri Filho
Defesa: 14/12/2018
Banca: Paulo Marcos Esselin (UFMS), Jorge Magasich-Airola (IHECS), Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Gerson Luís Trombetta (UPF)
O trabalho não possui divulgação autorizada
12 - Título: O agronegócio da soja brasileira e a sua internacionalização na ordem econômica global, entre 1990 e 2018
Autor: Tiago Dalla Corte
Orientador: Joao Carlos Tedesco
Banca: Edson Talamini (UFRGS), Ezequiel Redin (UFVJM), André da Silva Pereira (UPF), Adelar Heinsfeld (UPF)
Defesa: 30/07/2019
O trabalho não possui divulgação autorizada
13 - Título: O HABITUS DA VIOLÊNCIA NO CAMPO DAS RELAÇÕES SOCIOCOTIDIANAS – NORTE DO RIO GRANDE DO SUL (1900-1945)
Autor: Felipe Berte Freitas
Orientador: Ironita Adenir Policarpo Machado
Banca: Arlene Renk (UNOCHAPECÓ), Maíra Ines Vendrame (UNISINOS), Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 25/09/2019
Resumo: Esta tese tem por objetivo interpretar o habitus da violência nas relações sociocotidianas, tomando como base empírica os processos criminais que tramitaram nas comarcas de Passo Fundo, Cruz Alta e Soledade entre os anos de 1900 e 1945. A pesquisa foi conduzida de forma a entender como esse habitus se constituiu e se manifestou em vários espaços da sociedade Norte-Sul-Rio-Grandense, em especial, nos ambientes de sociabilidade/lazer; nos espaços da produção econômica; no exercício do poder coercitivo das autoridades da polícia e do judiciário; na esfera das relações político-partidárias e nas interações entre homens, mulheres, familiares e parentes. A partir da análise dos crimes de homicídio, lesão corporal, defloramento, estupro, sedução, furto, roubo e incêndios a propriedades, os quais foram cometidos por uma variedade de agentes como agricultores, lavradores, jornaleiros, criadores de gado, fazendeiros, comerciantes, policiais militares, dentre outros, interpretamos que em uma sociedade marcada por intensas transformações estruturais e por valores e códigos de conduta, como honra, masculinidade e vingança, as tensões geradas pelas contradições da conjuntura potencializaram a configuração e a incorporação da violência como parte do cotidiano de indivíduos e grupos sociais. Da confluência desses fatores, é que se caracteriza a legitimidade sociocultural e jurídica do habitus de agir de forma violenta, uma vez que as agressões físicas e verbais, assassinatos, prisões e incêndios a propriedades, constituíram-se como um recurso legítimo para resolução de conflitos e para ampliação/manutenção/reparação do capital simbólico, econômico e político dos diferentes agentes em disputa. Do ponto de vista historiográfico e teóricometodológico praticamos uma História Social da Violência, perspectiva interpretativa que concebe a cultura como parte da estrutura. A partir de um diálogo com o Direito e, fundamentalmente, com a Sociologia de Pierre Bourdieu, buscamos compreender quais foram os elementos estruturais e subjetivos que influenciaram os indivíduos e grupos sociais a incorporarem o habitus da violência como parte de suas relações sociocotidianas.
14 - Título: Sons da contracultura: o rock no Brasil nas décadas de 1960 e 1970
Autor: Alexandre Saggiorato
Orientador: Gerson Luis Trombetta
Banca: Christopher Dunn (Tulane University/EUA), Gérson Werlang (UFSM), José Adriano Fenerick (Unesp), Gizele Zanotto (UPF)
Defesa: 01/10/2019
Resumo: O presente estudo pretende compreender e analisar as características da linguagem musical das bandas de rock brasileiro das décadas de 1960 e 1970, formando a hipótese de que esse movimento, dentro de um contexto político e social da época, possibilitou a concepção de uma sonoridade impar, que, por sua vez, contribuiu para a formação de uma identidade contracultural no país. Nesse período, os artistas de rock se colocaram em contraposição ao regime militar de uma maneira transgressora envolvida nas atitudes comportamentais e musicais dos grupos que caracterizaram naquele momento um ato subversivo à censura e à repressão. No entanto, os músicos não se aliaram às propostas de setores de resistência ao regime, em contexto em que buscavam uma arte engajada politicamente que abarcasse apenas uma música, segundo eles, genuinamente brasileira. Outra questão importante é que os grupos fizeram parte da indústria musical no Brasil, porém, em alguns casos, se colocaram à margem desta, devido à incorporação de elementos sonoros híbridos como a música erudita e também de diversas regiões do país, fazendo com que parte da sociedade brasileira não compreendesse os ideais dos roqueiros. Os artistas mencionados nesse trabalho são Os Mutantes, Tutti-Frutti, Novos Baianos, O Terço, Módulo 1000, Os Brazões, Brazilian Octopus, Som Imaginário, Sá, Rodrix e Guarabyra, Raul Seixas, Liverpool, Bixo da Seda, A Bolha, Almôndegas, Secos & Molhados, Moto Perpétuo, Rita Lee, Arnaldo Baptista, Ney Matogrosso, Gerson Conrad, A Barca do Sol, Perfume Azul do Sol, Guilherme Arantes, Som Nosso de Cada Dia, Casa das Máquinas, Made in Brazil, Terreno Baldio, Joelho de Porco, Ave Sangria, Cezar de Mercês, O Peso, Recordando o Vale das Maçãs, Vímana, Spin, Veludo e Apokalypsis. Para melhor entendimento da sonoridade contracultural no Brasil, a metodologia de análise utilizada, será a do musicólogo Philip Tagg. A sonoridade analisada através de diversas músicas de rock gravadas no período em questão será contextualizada transversalmente pelos conceitos de território e desterritorialização.
15 - Título: Relações de poder, elites políticas e imprensa no norte do Rio Grande do Sul (1950-1967)
Autor: Gabriela Tosta Goulart
Orientador: Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Fernando Camargo (UFPel), Marlise Regina Meyrer (PUC/RS), Alessandro Batistella (UPF), Ironita Policarpo Machado (UPF)
Defesa: 18/10/2019
Resumo: O objetivo desta pesquisa é analisar e compreender as disputas políticas entre a elite passofundense no período que se estende de 1950 a 1967, elegendo como eixo de análise o debate relacionado ao estabelecimento de uma instituição de ensino superior. Como fonte de pesquisa, a imprensa local constituiu o principal corpus documental. Os dois jornais locais Diário da Manhã (DM) e O Nacional (ON) representaram uma espécie de tribuna na qual eram expostas as ideias que moviam o debate sobre a questão do ensino superior. Localizouse, no ano de 1950, as primeiras manifestações noticiadas nessa imprensa que diziam respeito às iniciativas de fundação do ensino superior, como o Instituto da Liberdade de Conhecer (ILC) e a Sociedade Pró-Universidade (SPU), acompanhando o Modus Operandi, as relações de poder e as disputas políticas dessa elite local até a concretização do projeto da instituição de ensino superior, em 1967, com a consolidação da Fundação Universidade de Passo Fundo (FUPF). Aproximações e desencontros contribuíram para moldar o perfil de uma geração política que poderia ser associada às novas ideias, em contraponto com outra que se mantinha atrelada aos grupos tradicionais, em um momento no qual se posicionavam politicamente os recém-criados partidos, PTB e PSD, e, a partir de 1949, o MTR. Isso posto, esta proposta é analisar como a instalação do ensino superior mobilizou a política em uma disputa que se deu através do debate na imprensa, procurando responder à questão: de que maneira o debate sobre a instalação do ensino superior evidenciou um movimento de diferenciação entre os grupos de poder tradicionais e os novos grupos em ascensão? Como metodologia, utilizou-se a análise de conteúdo com base nas variáveis de inferências apoiada em Laurence Bardin e a análise do discurso, a partir dos estudos de Patrick Charaudeau, voltados a compreender como as mídias são levadas a tomar posicionamentos sobre as informações emitidas. No suporte conceitual, utilizou-se Vilfredo Pareto para definição do conceito de elite política; John Thompson para análise dos fatos comunicacionais, ideologia e formas simbólicas; Pierre Rosanvallon para conceito do político.
16 - Título: RELAÇÕES DE PODER ACERCA DA PROPRIEDADE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE MACHADINHO/RS (1980-2010)
Autor: Fabio Roberto Krzysczak
Orientador: Ironita Adenir Policarpo Machado
Banca: Elenise Felzke Schonardie (UNIJUÍ), Claiton Marcio da Silva (UFFS), Cláudia Petry (UPF), Marcos Gerhardt (UPF), Felipe Cittolin Abal (UPF
Defesa: 27/11/2019
Resumo: A Usina Hidrelétrica Machadinho, localizada no Norte do Rio Grande do Sul, fazendo divisa com o estado de Santa Catarina, entre os municípios de Maximiliano de Almeida/RS e Piratuba/SC, é considerada como um marco, tanto no que se concerne à engenharia mecânica e civil e quanto às políticas públicas e econômicas. Ela remete, no imaginário coletivo, à ideia de modernização e progresso, com produção de energia limpa e geração de empregos. Contudo, concomitantemente a esse pensamento de modernização e progresso, os ribeirinhos tiveram que deixar suas propriedades para a sua instalação e, como consequência, gerou uma gama de impactos socioambientais e culturais compostos por fenômenos irreversíveis. Nesse sentido, esta tese tem como objetivo analisar as relações de poder acerca das propriedades desapropriadas para a construção da Usina Hidrelétrica de Machadinho/RS, que ocorreram no período de 1980 a 2010. Com base nesse contexto histórico, propõe-se problematizar conceitos de propriedade, desapropriação, modernização e função social à formulação do conceito de função socioambiental. Pois, como um problema histórico e recorrente, há a dicotomia do nosso ordenamento jurídico, quando trata das desapropriações por utilidade pública, como é o caso das desapropriações para construção da UHE Machadinho, ignorar o princípio da função social da propriedade, desapropriando as de interesse público sem verificar as especificidades dessas propriedades e de seus possuidores. Somando-se a isso, a declaração de utilidade pública do bem a ser desapropriado, realizada pelo poder discricionário do agente administrativo, não é passível de arguição no judiciário. Para esta análise as fontes de pesquisa utilizadas são o processo de concessão para a construção da UHE Machadinho, o de declaração de utilidade pública das propriedades necessárias para a construção da UHE e os processos judiciais civis de desapropriação postulados na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul e na Justiça Federal do Rio Grande do Sul Subseção de Passo Fundo, as informações obtidas são tratadas através dos pressupostos da pesquisa qualitativa, as quais indicam que permeia a falta de consideração dos empreendedores com a função social e o equilíbrio ambiental das propriedades dos sujeitos impactados pela construção da UHE Machadinho, devido às intensas relações de poder que as concessionárias possuem tanto no aspecto político quanto econômico no processo de construção do empreendimento.
17 - Título: Nenhuma vontade do povo – O Rio Grande do Sul na Guerra contra o Uruguai e o Paraguai (1863-1870)
Autor: Wagner Cardoso Jardim
Orientador: Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Diego Marcelo Buffa (UCO), Paulo Marcos Esselin (UFMS), Mario José Maestri Filho (UPF), Adelar Heinsfeld (UPF)
Defesa: 16/12/2019
Resumo: Entre 1863 e 1870 a então província do Rio Grande do Sul esteve envolvida diretamente na retomada do status belicoso na região platina. A investida de setores dos fazendeiros, criadores de gado e produtores de charque, situados no sul do Rio Grande do Sul e norte do Uruguai contra as políticas estatizantes do governo blanco de Bernardo Berro e, depois Atanásio Cruz Aguirre, estavam de conformidade com a intenção de Venancio Flores, caudilho oriental, ligado ao presidente argentino Bartolomé Mitre, de retomar o poder no Uruguai. Desde muito cedo, nesta contenda entre os orientais, fazendeiros rio-grandenses armaram centenas de homens em apoio a Flores. Não demorou muito, o novo governo imperial, nas mãos do Partido Liberal, retomou investida sobre a região platina. Desejavam garantir, de vez, os limites com o Paraguai, em suspenso há tempos. Instituiu-se assim um ambiente de guerra. Guerra esta que se materializou com a frustrada submissão uruguaia por via diplomática e invasão daquele país, sem declaração de guerra, com forte aparato militar, em apoio a Venancio Flores. Com isso, o governo imperial atraiu a tão desejada guerra paralela com o governo paraguaio. A província do Rio Grande do Sul foi inicialmente pensada como base de operações contra o Paraguai e principal bastião militar imperial. Finalizada a questão no Uruguai, com a participação efetiva de forças terrestres enviadas desde as fronteiras rio-grandenses, preparava-se a invasão ao Paraguai. Isso não ocorreria devido a entrada paraguaia em território sulino. As forças de defesa da província, lideradas pelos mais experientes chefes militares, foi insuficiente. Os paraguaios permaneceram por quase dois meses. Rendidos em Uruguaiana, a guerra continuaria em território paraguaio. O Rio Grande do Sul manteve sua importância. Foi a província que mais homens enviou ao conflito, em proporção ao número de habitantes. A vida na província, neste período em que durou o conflito seria profundamente alterada. Milhares de homens chegando, acampando e marchando pela província. Centenas morreria de enfermidades antes mesmo de cruzar a fronteira. Recrutamento forçado; por consenso; em substituição ou voluntariado. Pelas fazendas e vilas refugiavam-se os que se escondiam dos agentes do recrutamento ou os desertores. As mãos que seguravam fuzil soltavam as enxadas. Milhares de homens foram arrancados de seus afazeres para lutar uma guerra que não lhes dizia respeito. Enquanto isso, setores da classe proprietária rio-grandense que provocaram e incentivaram a guerra não a lutaram. Esta pesquisa pretendeu analisar de forma ampla as implicações diretas e indiretas da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai para o Rio Grande do Sul.
18 - Título: Não é só futebol: a rivalidade Brasil X Argentina no Clarín e n’O Estado de São Paulo durante a Copa de 1978
Autor: Luciano Anderson Breitkreitz
Orientador: Adelar Heinsfeld
Banca: Cesar Augusto Barcellos Guazzelli (UFRGS), Gerson Wasen Fraga (UFFS), Gerson Luís Trombeta (UPF), Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 17/12/2019
Resumo: A Copa do Mundo de Futebol de 1978, realizada da Argentina pode ser considerada uma das Copas que mais gerou polêmica e é o objeto principal deste estudo. Nessa competição, aconteceu uma das partidas mais controversas da história das Copas, quando a Argentina venceu o Peru pelo placar de 6 a 0, que eliminou o Brasil da competição, deixando a suspeita de que o Peru havia facilitado o jogo para o selecionado local. A seleção da Argentina conquistou o título da competição em meio a uma série de divergências dentro e fora de campo, principalmente com suspeitas de manipulação de resultados. Pesquisadores analisam que essa competição foi amplamente utilizada pelo governo do General Videla como propaganda de uma “Nova Argentina”, que estava sendo construída pelo regime militar. Neste estudo, é feita uma análise da rivalidade entre o Brasil e a Argentina durante o período em que se realizou a competição. Para atingir esse objetivo, são comparadas as notícias que circularam nos jornais Clarín, da Argentina, e O Estado de São Paulo, do Brasil, em junho de 1978, período em que aconteceu a competição. Além da disputa pelo título da Copa do Mundo de Futebol, o Brasil e a Argentina também disputavam espaços geopolíticos, e esses embates trouxeram atritos em diferentes áreas, sendo a principal delas concernente às divergências acerca da construção da hidrelétrica de Itaipu, localizada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Também houve disputas relacionadas à soberania alimentar – já que o rebanho suíno brasileiro foi sacrificado devido à “Peste Africana” – e se estabeleceram concorrências por parcerias comerciais com países da região, tais como o embate envolvendo a compra de gás da Bolívia. Esta pesquisa põe em evidência fatores que revelam que a rivalidade entre os dois países não se limita ao esporte. Ao contrário, os embates nos quais esses dois países se encontram são muito mais profundos e não podem ser revolvidos em 90 minutos, com uma disputa de 11 contra 11. Assim, esta tese considera que a rivalidade entre o Brasil e a Argentina não começou no futebol, tampouco encerra no futebol, mas destaca que foi por meio desse esporte que foi possível tornar mais visível esse conflito, uma vez que o futebol acontece em um código de linguagem bastante simples e comum a todos, independente de escolaridade, classe social ou gênero.
19 - Título: Mazelas sociais nos Archivos Brasileiros de Hygiene Mental: os discursos sobre alcoolismo, sífilis e imigração (1925-1947)
Autor: Mateus Tatsch De Mello
Orientador: Gizele Zanotto
Banca: Dr. Artur César Isaia (Unilasalle/UFSC), Dra. Beatriz Teixeira Weber (UFSM), Dra. Maria Lúcia Boarini (UEM), Dra. Jaqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 13/04/2020
Resumo: A Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), fundada em 1923, colaborou para a consolidação da psiquiatria no Brasil através do seu modo de atuar junto aos governos, pela ação reflexiva divulgada a partir de seu periódico, pela sua inserção comunitária e investimento nas análises em diversos campos da sociedade que extrapolaram os limites da medicina (sociedade, cultura, educação, política, sanitarismo, etc.). A Liga buscou atuar na prevenção das doenças nervosas, proteção e amparo aos doentes mentais e implantação de um programa de higiene mental e eugenética com foco na profilaxia dos fatores considerados disgênicos. Na tentativa de implementação dessas propostas, lançou mão de recorrer à imprensa escrita, a emissoras de rádio ou a ações como palestras em escolas e empresas. Atuou junto ao Governo com o intuito de adequar as leis em vigência no Brasil. Em 1925, iniciou a publicação de um periódico próprio, o Arquivos Brasileiros de Higiene Mental, sendo essa a fonte primária e principal desta tese. Na leitura e no acompanhamento de todas as publicações veiculadas no período de 1925 até 1947, elencamos três categorias para submeter à análise do discurso: alcoolismo, sífilis e imigração. Essa escolha foi pautada no fato de que o alcoolismo seria um fator degenerativo não transmissível do ponto de vista contagioso. A sífilis foi escolhida por ser exclusivamente contagiosa, inclusive com transmissão vertical e que, na sua forma mais avançada, ocasionava sintomas no sistema nervoso central. A terceira e última categoria escolhida foi a imigração, devido ao fato de não ser um vício ou uma doença, mas um fator social, como consideravam muitos autores. Para cada texto, destacamos um fragmento que contivesse a base da proposta do todo, e aplicamos a fórmula, adaptada das metodologias apresentadas por Eni Orlandi e Michel Foucault, para proceder a análise do discurso: Quem fala? O que fala? De que maneira? De qual local? Para quem (interlocução)? Quando? Com isso, desvendamos o discurso por trás do texto e demonstramos como a Liga conseguiu se estabelecer e funcionar no Brasil por várias décadas colaborando na consolidação da psiquiatria brasileira e ampliando seu escopo de atuação para além dos espaços de cura.
20 - Título: A Convenção Batista Independente de Língua Alemã (CIBILA) e a reprodução cultural do tradicionalismo pentecostal (1989-2009)
Autor: Josemar Valdir Modes
Orientador: Gizele Zanotto
Banca: Dra. Renata Agnieszka Siuda-Ambroziak (Universidade de Varsóvia, Polônia/UERJ), Dr. René Ernaini Gertz (PUCRS/UFRGS), Dr. David Mesquiati Oliveira (UNIDA), Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 25/05/2020
Resumo: Esta tese analisou a Convenção das Igrejas Batistas Independentes de Língua Alemã (CIBILA), que se manifesta num espaço cultural singular, originador de uma região cultural, mas que pela mobilidade populacional da pós-modernidade está imersa em trocas constantes, diluentes das fronteiras estabelecidas, transformando o espaço em uma zona/faixa de fronteira cultural. A tese orientadora da pesquisa foi: A CIBILA, fundada em 1989, é propagadora de uma cultura específica oriunda do entrelaçamento das culturas alemã, russa e sueca, com requintes de adaptação à realidade brasileira, cultura esta que foi elemento constituinte da Convenção e que já foi manifesta pelas igrejas fundadoras inclusive no período em que a Convenção não existia de forma oficial, mas se fazia presente pela integração de igrejas com práticas semelhantes, perpetuando-se nas igrejas que constituem a Convenção na atualidade e que foi denominada de tradicionalismo pentecostal. Para esta análise foi feito um estudo dos imigrantes teuto-russos que chegaram ao noroeste do Rio Grande do Sul e estabeleceram as primeiras comunidades, que fomentaram a CIBILA como também serviram de experimento para a prática convencional. As igrejas que compõem o organismo convencional estão situadas na atualidade nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso. Para um discurso hegemônico em meio a tantas trocas e para a manutenção desta cultura vetorizada, a CIBILA se valeu de um veículo de imprensa, o Boletim Informativo, fundado em 1989, capaz de divulgar e consolidar a cultura singular destas comunidades, e que funcionava como caixa de ressonância dos seus pensamentos. Seu jornal foi de fundamental importância para a manutenção dos vínculos e a propagação das novas formas de pensar. A cultura propagada por esta Convenção foi denominada no trabalho de Tradicionalismo Pentecostal devido ao hibridismo cultural experimentado e manifesto pela CIBILA, que tem traços das teologias batista alemã tradicional, da teologia pentecostal sueca, adaptados a dois grandes momentos de mobilização social: a migração para a Rússia e a migração para o Brasil.
21 - Título: A MORTE EM SÃO BORJA: RELATÓRIOS E REGISTROS DE ÓBITOS NUMA REGIÃO DE FRONTEIRA (1889-1930)
Autor: Janilton Fernandes Nunes
Orientador: Gizele Zanotto
Banca: Dr. Ronaldo Bernardino Colvero (Unipampa, São Borja), Dra. Glaucia Vieira Ramos Konrad (UFSM), Dr. Luiz Carlos Tau Golin (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 26/05/2020
Resumo: A presente tese aborda as formas de viver e morrer em São Borja na República Velha, defendendo que essas foram marcadas pela situação de fronteira entre países, pela divisa fluvial e sua singularidade, mas, principalmente, pelas formas de gestão políticoadministrativas dos gestores da municipalidade, após a criação da Lei Orgânica local. Considerando os registros cartoriais que certificam os óbitos no município, o estudo analisa as deliberações políticas, orçamentárias, fiscais, etc., que tornam possível aprofundar o entendimento sobre o cotidiano citadino. Juntas, essas fontes foram essenciais para a compreensão das formas do viver cotidiano e do modo como o morrer se configurou de modo singular na localidade de São Borja, no período da chamada República Velha (1889-1930). Para a organização e o desenvolvimento da pesquisa, foi gerado, com os dados dessas principais fontes primárias, um conjunto de informações dinâmicas, sob forma de um banco de informações baseado em uma planilha eletrônica, capaz de articularse com outras fontes. Nesse sentido, foram observados os trabalhos existentes que envolveram a localidade e o período, bem como pesquisas em outras localidades com métodos semelhantes. Para tanto, abre-se – através de uma catalogação, criada pela pesquisa – a possibilidade de conhecer os pormenores dos registros de óbitos, tornando viável analisar seus significados, como o que revelam os registros de óbitos e a inconsistência das informações perante os registros diários da Administração municipal dos acontecimentos na comunidade por outras formas de obtenção de informações. A pesquisa partiu de fonte primária, neste caso, os registros de óbitos do cartório local, para fazer contraponto e avaliar suas informações sobre o cotidiano envolvendo a morte, trazendo tais dados e informações para dar mais subsídio ao estudo, sucedendo a procura de esclarecimento perante a crítica e a comparação de atos e fatos semelhantes na localidade ou em outras comunidades. Como aportes teórico-metodológicos, recorreu-se a discussões sobre registros civis, a elementos de história serial e quantitativa e a estudos demográficos, além de discussões sobre história da saúde e análises sobre fronteiras e abordagens preexistentes acerca de São Borja. A investigação evidenciou a situação e as dificuldades do tempo vivido no espaço delimitado dos indivíduos da fronteiriça São Borja através dos registros legais, de autores e historiadores ligados ao estudo da região de fronteira do Sul do Brasil, confirmando a hipótese da articulação entre as mortandades e o investimento público realizado na municipalidade.
22 - Título: SONORIDADES FRONTEIRIÇAS CONTEMPORÂNEAS: CONEXÕES, DIÁLOGOS E RECONHECIMENTO IDENTITÁRIO EM GÊNEROS MUSICAIS PLATINOS
Autor: Gadiego Cararo Ribeiro
Orientador: Gerson Luis Trombetta
Banca: Dr. Acácio Tadeu de Camargo Piedade (UDESC), Dr. Haroldo Loguercio Carvalho (UFRN), Dr. Luiz Carlos Tau Golin (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 02/06/2020
Resumo: A tese em questão objetiva compreender aspectos da historiografia dos gêneros musicais presentes entre o espaço fronteiriço sul-americano, particularmente voltado para os diálogos e para as conexões entre músicos, compositores e intérpretes latino-americanos. O enfoque se baseia na ideia de uma fronteira simbólica alicerçada na perspectiva de pertencimento e latinidade, que parte da escolha dos sujeitos pela integração nas relações músico-culturais. A argumentação é de que, no âmbito musical, a fronteira projeta diálogos e conexões peculiares que ultrapassam os limites nacionais, formando uma espécie de fronteira sonora, híbrida e transnacional. Ao observar a tríplice fronteira (Rio Grande do Sul – Uruguai – Argentina), percebe-se um espaço marcado por características climáticas (frio e vento), modos de vida (isolamento e melancolia) e encontros culturais distintos, elementos que refletem perspectivas do imaginário fronteiriço. Uma conjuntura importante que envolve processos híbridos muito proeminentes capazes de impulsionar diferentes relações e diálogos no campo musical. Destaque para gêneros musicais como a milonga, chacarera e o chamamé, entre outros amplamente difundidos e partilhados no contexto sul-americano. Diante disso, o aspecto fronteiriço constitui uma marca identitária que remete a círculos de ancestralidade cultural indígena, africana e europeia, estabelecendo intercâmbios para além de uma fronteira geográfica, mas simbólica, que possui reconhecimento na ideia de latinidade. A pesquisa consiste em observar e tentar compreender os fatores que circundam a sonoridade presente nesse contexto. Para isso, divide-se em dois eixos principais. O primeiro eixo se concentra na discussão de conceitos chave utilizados na investigação e dedica-se a esclarecer aspectos relacionados à conjuntura social e cultural que compõem o espaço fronteiriço. O segundo eixo aprofunda elementos de compreensão identitária com foco no discurso musical e aspectos simbólicos que integram as sonoridades fronteiriças. Para isso, são realizadas análises no intuito de identificar possíveis conexões e diálogos musicais que envolvem artistas sul-americanos e os gêneros musicais fronteiriços. O estudo apontou que, em meio aos gêneros musicais fronteiriços, existe um vasto conjunto de elementos identitários compartilhados promovidos por artistas latino-americanos. Com esses artistas, propaga-se um conjunto de vertentes musicais que converge para diferentes expressividades sonoras, as quais formam redes de diálogos e conexões que integram o universo das sonoridades fronteiriças.
23 - Título: A DISSOLUÇÃO DA CONJUGALIDADE NO RIO GRANDE DO SUL (1965-2015): História e relações de poder na transição do “até que a morte os separe” para “até que o mal-estar os divorcie”
Autor: Maristela Piva
Orientador: Janaina Rigo Santin
Coorientador: Dra. Irene Maria de Montezuma de Carvalho Mendes Vaquinhas (Universidade de Coimbra, Portugal)
Banca: Dra. Silvia Maria Favero Arend (UDESC), Dra. Charlise Paula Colet Gimenez (URI, Santo Ângelo), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 22/07/2020
Resumo: Família e casamento sempre estiveram em transformação. No século XX, a ruptura conjugal, possibilitada pelo divórcio, contribuiu para dar novos contornos à família e aos arranjos amorosos. Este estudo buscou fazer uma análise histórica sobre o processo de dissolução da conjugalidade no Rio Grande do Sul, especialmente na Comarca de Passo Fundo, tendo como marco temporal o período de 1965 a 2015. Partiu-se da problematização: a Comarca de Passo Fundo teria um modo peculiar de lidar/enfrentar a questão da dissolução conjugal? O que caracterizava os pedidos de dissolução conjugal? E como os representares do Direito acompanharam em suas decisões a evolução do Direito Civil? O método mesclou pesquisa qualitativa e quantitativa, apoiando-se nos pressupostos da história cultural. As fontes de pesquisa compreenderam a análise documental de dez processos judiciais referentes à dissolução conjugal da comarca de Passo Fundo, das décadas 1966 a 1975, 1976 a 1985, 1986 a 1995, 1996 a 2005 e 2006 a 2015. Nesses processos, buscou-se identificar os atores, as motivações para o fim do casamento, as peculiaridades e como o Judiciário respondia a tais solicitações. Entrevistou-se também cinco operadores do Direito, para identificar o que caracterizou os processos de dissolução da conjugalidade no RS ao longo desses cinquenta anos. As entrevistas foram submetidas à Análise de Conteúdo. Os dados indicaram que diversas mudanças aconteceram na família sul-rio-grandense e na região de Passo Fundo, semelhante ao que ocorreu no restante do Brasil após 1977. As taxas de divórcio cresceram vertiginosamente. As famílias reconstituíramse, modelos de casamento mudaram, as mulheres cada vez mais trabalham fora de casa, e o número de filhos, entre casais que buscam o divórcio, diminuiu. Na região de Passo Fundo, esse número é de 1,1 filhos por casal, menor que a média nacional, de 1,7 filhos por família, refletindo, pois, uma transição demográfica. Identificou-se a predominância das mulheres como autoras dos processos de dissolução conjugal na Comarca de Passo Fundo, perfazendo 44% dos pedidos (em contraste com 14% de pedidos de divórcios encaminhados por homens, e ainda, 42% encaminhados em comum acordo pelo casal). Os dados demarcaram o protagonismo das mulheres na decisão da dissolução da conjugalidade, fenômeno similar ao restante do Brasil. Constatou-se uma tendência, ao longo das décadas, das mulheres voltarem a usar os seus nomes de solteiras após o divórcio (80% dos casos entre 2006 a 2015). Mas situações conflitantes que demarcam questões de gênero permaneceram: a maioria das mulheres ainda é responsável pela guarda da prole, e a violência doméstica perdura, incidindo sobre os relacionamentos, especialmente, sobre a mulher. A opinião dos entrevistados apontou para avanços no Direito de Família, igualando direitos de homens e mulheres no âmbito da relação conjugal. Acolheu-se a diversidade dos novos arranjos conjugais, reavaliando-se a noção de família para além do casamento. Mudaram-se os “sentidos” do casamento. Se antigamente era indissolúvel, atualmente, busca-se nele realização pessoal, sexual, cumplicidade e felicidade. Se tal busca não se realiza, o casamento é facilmente desfeito, dispensando perquirir culpados. O divórcio figura-se na história e nas memórias da família contemporânea.
24 - Título: “AS TERRAS ENGUIÇADAS”: A INTRUSÃO E A RECONFIGURAÇÃO AGRÁRIA NAS CERCANIAS DE CAMPO ERÊ – SC
Autor: Luiz Fernando Ferrari
Orientador: Joao Carlos Tedesco
Banca: Dr. José Carlos Radin (UFFS), Dra. Arlene Renk (UNOCHAPECÓ), Dra. Ironita Policarpo Machado (UPF), Dra. Gizele Zanotto (UPF)
Defesa: 14/08/2020
Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo analisar a problemática fundiária no oeste de Santa Catarina, ou mais precisamente a apropriação privada da terra, desencadeada pela intrusão de pequenos agricultores nas cercanias de Campo Erê nas décadas de 1970 e 1980. O que se quer é compreender e problematizar a estruturação da terra no oeste de Santa Catarina no início do século XX. Este trabalho analisa o processo de atuação do Estado na implementação de políticas públicas que promoveram a ocupação do oeste catarinense como forma de inserção da região na produção capitalista. O estudo analisa como a colonização transformou a terra em mercadoria em uma grande área de atuação da Companhia Territorial Sul Brasil nas cercanias do município de Campo Erê. A companhia buscou implementar a mercantilização das terras, principalmente para os pequenos agricultores. A partir do momento em que as relações de mercado passaram a conquistar sua hegemonia na região oeste catarinense aconteceram mudanças significativas em relação à concepção da terra, passando a ser colocada num patamar de mercadoria que se pudesse trocar e vender. A colonização tinha como proposta promover a reocupação de seus imóveis com objetivo de formar núcleos coloniais que atendessem à premissa das relações de mercado. Os grupos que não possuíam o perfil estabelecido por lei podiam ser excluídos, ou seja, passaram para a condição de intrusos. A migração desses grupos aglutinou pequenos núcleos agrícolas, passando por dificuldades semelhantes, demonstrando que esse cenário foi o espaço onde se desenvolveram os conflitos pela posse da terra. Volta-se o olhar sobre a desapropriação por interesse social nas várias faces desses conflitos e o contexto dos olhares dispensados pelo Incra nessa região. Para a análise, considera-se a metodologia da História Social e da História Cultural como uma proposta que discute as relações dos sujeitos, as práticas sociais, a formação de espaços sociais de um território que se fragmenta, se conecta e faz parte de um mesmo conjunto relacional. Obteve-se fontes no Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (Ceom), Museu Municipal Padre Fernando, Maravilha (SC) e a Coordenadoria Regional de Santa Catarina (CR10) (Incra) de Chapecó, as quais permitiram obter informações que pudessem compreender esses conflitos nessa região. Os fatores simbólicos e subjetivos, as características relacionais, produziram suas lógicas e suas multiplicidades de intrusão. Dentro dessas perspectivas, a análise evidencia aspectos mais específicos da realidade dos conflitos agrários. A presença de determinados grupos de pequenos agricultores na região resultou em sérios conflitos, processos judiciais e despejos. Conclui-se com essa análise que a intrusão ocorreu de forma relacional, considerando as multi-identidades e a multidimensionalidade do pequeno agricultor intruso e das formas de intrusão, nas cercanias de Campo Erê nas décadas de 1970 e 1980.
25 - Título: A IMPLANTAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO NOVO MODELO AGRÁRIO NO PARANÁ: AÇÕES DO GOVERNO DE BENTO MUNHOZ DA ROCHA 1951-1955
Autor: Rene Wagner Ramos
Orientador: Joao Carlos Tedesco
Banca: Dr. Niltonci Batista Chaves (UEPG), Dra. Roseli Boschilia (UFPR), Dra. Rosane Márcia Neumann (UPF), Dr. Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 18/08/2020
Resumo: A pesquisa mostrou, historicamente, as mudanças ocorridas na agricultura paranaense anteriormente ao final de 1960. A tese discute a partir da história política a questão agrária no Paraná e a modernização do campo, tendo como referência o conceito de Modernização Conservadora. O projeto foi fruto da visão de um Paraná moderno, que teve sua gênese entre 1951 e 1955, no governo de Bento Munhoz da Rocha Netto. Apresenta como se estruturou um novo modelo de exploração econômica e industrial do campo. O modelo atrelou o agricultor ao cooperativismo agroindustrial. Ocorreu a partir da implantação de três colônias: Witmarsum (Palmeira), Entre Rios (Guarapuava) e Castrolanda (Castro), que funcionaram como laboratórios, como difusoras do modelo agrário com características da monocultura, mecanização, seleção de sementes, agrotóxicos, agroindústria e cooperativismo. O governo usou a propaganda nos meios de comunicação escrita e falada para apresentar e defender o projeto de modernizar o campo, amplamente divulgado pela propaganda oficial, contando com uma ampla rede de jornais, rádios e revistas. A razão para a criação da Casa Rural e os investimentos em pesquisa agropecuária foram explicados na pesquisa. A tese demonstra que existia uma conexão lógica nos investimentos em energia, transporte (rodovias, ferrovias e portos), assistência ao trabalhador rural, as casas rurais, as colônias e o cooperativismo. A pesquisa também repercute sobre as consequências, sobretudo sociais, da desagregação de uma economia voltada para a produção de subsistência, identificada pela chegada da industrialização do campo e suas consequências. Discutimos que o sistema cooperativista incentivado pelo governo de Bento Munhoz da Rocha Netto foi, na verdade, uma forma de inserção do grande capital no campo, apesar de que a propriedade da agroindústria estar nas mãos dos agricultores colonos, pois a chegada do capitalismo trouxe no campo um conjunto de mudanças, além das técnicas na produção, principalmente a introdução do agricultor no mercado capitalista da produção, além da perda do controle da comercialização, e na relação com a terra como elemento econômico.
26 - Título: SELBSTSCHUTZ: ASSOCIATIVISMO COLONIAL E A EXPERIÊNCIA DA AUTODEFESA NAS COLÔNIAS TEUTO BRASILEIRAS DO RIO GRANDE DO SUL (1890-1930)
Autor: Paulo Rogerio Friedrichs Adam
Orientador: Rosane Marcia Neumann
Banca: Dra. Érica Sarmiento da Silva (UERJ), Dr. René Ernaini Gertz (UFRGS/PUCRS), Dr. João Carlos Tedesco (UPF), Dr. Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 25/08/2020
Resumo: A pesquisa trata da trajetória e das transformações da organização associativa dos colonos teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul, principalmente aquele associativismo político e de autoproteção que existiu do final do século XIX e o primeiro terço do século XX. Para tanto formulou-se um problema relacionado a trajetória deste associativismo e como ele se conecta com a proposta de uma organização abrangente e qual foi o papel da organização de um movimento de autodefesa (Selbstschutzverein) neste processo. Parte-se do pressuposto de que em meio a estas complexas relações dos colonos com a realidade sociopolítica, no rumo de sua autonomização política, existe uma conexão que liga a história do associativismo que se desenvolveu na região colonial, envolvendo a formação do Partido Colonial (Koloniepartei) e das Associações Coloniais (Kolonieverein), passando pela Associação Riograndense de Agricultores (Bauernverein) até chegar as Selbstschutzverein e a constituição das Uniões Coloniais; processo no qual foi fundamental a formação dos Selbstschutzvereine dos anos 20, da região serrana. Defende-se a tese que as Selbstschutzvereine da década de 20 exerceram um papel fundamental na rearticulação do associativismo colonial em torno da proposta de uma grande associação de colonos, convergindo na formação da União Colonial, isto porque o esforço organizativo que elas representaram possibilitou um acúmulo importante na forma de lideranças e estruturas organizativas. O recorte espacial envolve a região de colonização do Rio Grande do Sul, conhecidas como colônias velhas e novas, enquanto o temporal cobre o período de 1890 até 1930, sendo coincidente o período de início da fase republicana na história do Brasil com o aparecimento do Koloniepartei, e de seu primo católico, o Partido do Centro (Zentrumpartei). A demarcação final do período de estudo também é dado pelo encerramento de um período da história do Brasil, com a Revolução de 30, e que é coincidente com a estruturação das Uniões Coloniais como movimento estadual, o que ocorre a partir de 1929, quando foi fundada na cidade de Santa Maria, a Liga das Uniões Coloniais Riograndenses. A Tese foi desenvolvida por meio da pesquisa documental e bibliográfica, com a leitura, análise e compilação da documentação primária e secundária, seguida da análise crítica das informações obtidas à luz da literatura historiográfica. A Tese tem uma contribuição a fazer no campo da história da migração, voltada ao estudo dos movimentos associativos de colonos, pois que são poucas as pesquisas sobre o associativismo político e de autoproteção e não há nas pesquisas conhecidas uma explicitação do nexo entre o partido colonial, as associações coloniais, o desenvolvimento das Selbstschutzvereine e das Uniões Coloniais. Especificamente, o tema dos Selbstschutzvereine é praticamente inédito.
27 - Título: MODA, ARTE E HISTÓRIA: UM ENCONTRO NA OBRA DA ESTILISTA REI KAWAKUBO
Autor: Camila Carmona Dias
Orientador: Gerson Luis Trombetta
Banca: Dra. Renata Pitombo Cidreira (UFRB), Dra. Marlise Regina Meyrer (PUCRS), Dra. Gizele Zanotto (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 31/08/2020
Resumo: Atualmente, a pergunta “Moda é arte?” não se sustenta mais. O único questionamento possível na contemporaneidade fundamenta-se em: “Quando e como moda é arte?”. Partindo dessa questão, a presente pesquisa investiga a diluição das fronteiras entre moda e arte, pontuando algumas considerações históricas. A questão central deste texto é demonstrar que arte e moda têm se aproximado, progressivamente, de modo especial no século XX, e que, a partir do pós-Segunda Guerra Mundial, mais especificamente a partir da década de 1980, existe a possibilidade de algumas obras de moda funcionarem como obras de arte. Argumenta-se que tal fenômeno foi construído historicamente e que só foi possível a partir da segunda metade do século XX, graças à expansão dos conceitos de arte e moda. Entre as possibilidades de experiências contemporâneas que podem funcionar como arte, a presente pesquisa focará na peça Lace Sweater da coleção outono/inverno de 1982-1983, intitulada Hole, e nas imagens da coleção primavera/verão de 1997, Body meets dress, dress meets body, da designer Rei Kawakubo, fundadora da marca Comme des Garçons (CDG). O estudo centrou-se em dois objetivos principais: 1) compreender o impacto das obras da designer nas últimas décadas do século XX; 2) entender como se deu o funcionamento das obras de Rei Kawakubo em obras de arte por meio das teorias de Arthur Coleman Danto e Nelson Goodman. Para isso, apresentam-se a designer japonesa Rei Kawakubo e sua marca Comme des Garçons, localizando, historicamente, as suas obras nas décadas de 1980 e 1990; aborda-se de que maneira a questão entre arte e moda se delineou na história com foco no século XX; investigam-se categorias teóricas para explicar os rumos da arte contemporânea; em seguida, analisam-se as obras de Kawakubo com foco na filosofia analítica de Nelson Goodman por meio de pressupostos teóricos sobre os sintomas do estético. Em relação às obras analisadas da designer a pesquisa detectou que essas possuem os sintomas do estético, além disso, elas foram exibidas e implementadas. Entendemos que essas peças possuem seu funcionamento como obras de arte, o que só foi possível graças à historicidade baseada no “quando”; a partir da década de 1960 e que teve sua consolidação na década de 1980.
28 - Título: PROPRIEDADE URBANA E RACIONALIDADE CAPITALISTA: DO ASSENHOREAMENTO AO CRESCIMENTO CITADINO DE PASSO FUNDO ENTRE 1800 E 1950
Autor: Diego Jose Baccin
Orientador: Ironita Adenir Policarpo Machado
Banca: Dra. Carmen Margarida Oliveira Alveal (UFRN), Dra. Marcia Maria Menendes Motta (UFF), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 16/11/2020
Resumo: Este estudo busca identificar e compreender o modelo de apropriação de terras que se aplicou no norte do estado do Rio Grande do Sul. Baseia-se, para tal, em uma investigação documental serial que possibilita analisar o processo de ocupação, apossamento e assenhoreamento das terras em Passo Fundo, o qual legitimou a formação da propriedade privada citadina e seu processo de urbanização entre os séculos XIX e XX, desde a tomada de posse da região pelo Capitão de milícias Manoel José das Neves, aproximadamente em 1827/1828, até a organização do primeiro Plano Diretor urbanístico da cidade, na década de 1950. Diante do fenômeno do assenhoreamento dos espaços na formação do território regional, compreende-se a dinâmica das condições sociais, econômicas, políticas, culturais e jurídicas, a partir das quais se efetivou e organizou eficazmente os apossamentos, estabelecimento dos domínios que legitimaram-se em propriedade privada urbana. Percebe-se, além disso, que os processos de ocupação e urbanização citadinos estão permeados por uma concepção de modernização da estrutura fundiária urbana, principalmente em Passo Fundo, relacionado à questão dos terrenos municipais que constituíram a propriedade foreira na cidade. Essa perspectiva modernizante insere-se em uma conjuntura de desenvolvimento de uma racionalidade capitalista no incremento de uma força civilizatória em prol do crescimento urbano municipal que ensejou relações distintas com as terras, em especial, aquelas administradas pela Intendência e depois pela Prefeitura municipal, questionada e reivindicada pela Mitra Diocesana. Essas relações foram vivenciais no decurso de mais de um século, período em que as disputas por legitimidade possessória da propriedade foreira municipal acirraram-se, especialmente em um conflito estabelecido entre a Mitra Diocesana e a Administração pública municipal, que arrogavam para si os direitos sobre essas glebas urbanas. A análise e a compreensão da propriedade foreira, no contexto do crescimento citadino de Passo Fundo, possibilitam um olhar mais fiel acerca do processo de assenhoreamento do solo regional realizado no século XIX e acerca do crescimento citadino no contexto urbanístico das primeiras décadas do século XX. Tudo isso se efetivava a partir da expectativa do desenvolvimento regional, almejado sob a égide paradigmática de uma racionalidade capitalista em consonância a princípios civilizatórios ambicionados pelas elites locais.
29 - Título: “POLITICALHA DE ALDEIA”: OS CRIMINALIZADOS DO ESTADO NOVO NO OESTE DE SANTA CATARINA À LUZ DOS PROCESSOS-CRIME DO TRIBUNAL DE SEGURANÇA NACIONAL
Autor: Leandro Mayer
Orientador: Adelar Heinsfeld
Banca: Dr. José Carlos Radin (UFFS), Dra. Eunice Sueli Nodari (UFSC), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Dr. Felipe Cittolin Abal (UPF)
Defesa: 14/11/2020
Resumo: O propósito deste estudo é investigar, através de um conjunto de inquéritos policiais instaurados contra indivíduos estabelecidos no Oeste de Santa Catarina, cujos autos foram transformados em processos-crime junto ao Tribunal de Segurança Nacional no Rio de Janeiro, as medidas repressivas decorrentes da campanha de nacionalização naquela zona fisiográfica durante o Estado Novo (1937-1945). O Oeste catarinense, delimitação espacial do estudo, sentiu profundamente os efeitos das ações da campanha de nacionalização, visto que registrava, a partir do início do século XX, intenso processo de fixação de colônias de (i)migrantes teutos e ítalos. Esses núcleos “desnacionalizados” eram vistos, aos olhos do governo varguista, como “quistos étnicos” e acusados de transmissores de ideologias estrangeiras que colocavam em risco a segurança nacional do país, portanto necessitavam experimentar as medidas nacionalistas, devendo ser combatidos e assimilados. Partindo do entendimento de que a temática da nacionalização está intimamente relacionada com a imigração e a identidade étnica, encontramos nos processos-crime importantes elementos para compreender como o processo de nacionalização atingiu as comunidades interioranas, revelando o modo como as medidas repressivas (institucionalizadas) da campanha de nacionalização foram sentidas pela população do Estado de Santa Catarina. Nesse contexto, os processos-crime do TSN são a materialização da ação repressiva instaurada por meio da política autoritária do Estado Novo. Em tese, o curso dos processos costumava ser idêntico: iniciava com inquérito policial e culminava no TSN, onde os autos eram transformados em processo-crime. Em comum, a “politicalha de aldeia”: a Polícia contava com as delações e denúncias irrompidas dentro das comunidades, onde intrigas, desentendimentos, desavenças e desafetos banais resultavam em rigorosos inquéritos policiais, que, por sua vez, alcançavam o Egrégio Tribunal de Segurança Nacional, um tribunal condenatório para comunistas e integralistas, que agia como instrumento político-jurídico e legitimava as práticas repressivas e autoritárias do governo varguista.
30 - Título: ORIENTALISMO IMPRESSO: A REVOLUÇÃO ISLÂMICA IRANIANA SOB O PRISMA DOS JORNAIS CLARIN E FOLHA DE S. PAULO (1979-1981)
Autor: David Anderson Zanoni
Orientador: Adelar Heinsfeld
Banca: Dr. Renato José da Costa (UNIPAMPA), Dr. Murilo Sebe Bon Meihy (UFRJ), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Dr. Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 16/12/2020
Resumo: A presente tese de doutoramento tem o propósito de analisar e compreender o processo de mudança governamental iraniana a partir de 1979 através da imprensa periódica. Para tanto, foram escolhidos como objetos e fonte de pesquisa os jornais Clarin, da Argentina, e o diário brasileiro, a Folha de S. Paulo. O processo de queda da monarquia regida autocraticamente por Mohammad Reza Pahlavi, o xá do Irã, entrou em colapso após 37 anos de manutenção no poder. Seu regime foi substituído por uma república, capitaneada pelo aiatolá Ruhollah Musavi Khomeini. O processo de queda da monarquia e ascensão da República Islâmica do Irã foi noticiado por veículos de comunicação do mundo inteiro. Interessa-nos, neste estudo, através da análise de conteúdo dos periódicos já referidos, analisar de que maneiras tais meios midiáticos produziram notícias que reportaram o Irã e seu processo político aos leitores. Objetivamos observar se e como ocorreu a produção de sentidos ou representações do Irã, seu povo, cultura e religiosidade a partir dos desdobramentos da revolução iraniana. A história do Irã contemporâneo, sobretudo a partir da dinastia Pahlavi (1925-1979), período em que o país foi governado primeiramente pelo pai Reza Khan Pahlavi, e depois, por seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, até a instauração da República Islâmica, são elementos apresentados para entendimento do contexto em que se insere este estudo. As relações geopolíticas estabelecidas entre o Ocidente, primeiramente pela Inglaterra e, após a Segunda Guerra Mundial, pelos Estados Unidos com o Irã também se constituem elementos de análise, uma vez que contextualizam as relações Ocidente e Oriente islâmico. Por fim, todas as questões aqui apresentadas estão inseridas no campo de debate do Orientalismo, ou seja, conceito cunhado por Edward Said que trata da construção do Oriente pelo Ocidente através de um minucioso arcabouço intelectual que legitima a dominação ocidental sobre territórios do Oriente islâmico. Assim sendo, pretende-se compreender a História através da imprensa com um referencial teórico que reúne a História do tempo presente e a História Política, tendo como pano de fundo a Revolução Iraniana de 1979 sob o prisma dos jornais que foram selecionados para este estudo.
31 - Título: “ENTRE O FARFALHAR DAS PALMEIRAS E O RAMALHAR DOS CARVALHOS”: O OLHAR DA IMPRENSA CATARINENSE SOBRE A QUESTÃO GERMÂNICA DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)
Autor: Rogerio Augusto Bilibio
Orientador: Adelar Heinsfeld
Banca: Dr. Delmir José Valenini (UFFS), Dr. João Klug (UFSC), Dra. Janaína Rigo Santin (UPF), Dr. Alessandro Batistella (UPF)
Defesa: 18/12/2020
Resumo: O presente estudo se propõe, a partir das publicações catarinenses no período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), observar os textos, artigos, matérias, que tratam da relação da guerra com os alemães, tanto em Santa Catarina quanto nos fatos ocorridos no cenário das batalhas, e sua repercussão para a imprensa catarinense. Utilizando dos jornais como fonte principal, a amostragem esta ancorada em quatro periódicos, dois deles semanais (O Clarão e A Época) e dois de circulação diária (O Estado e O Dia), no intuito de perceber a conduta ideológica de cada periódico, para, assim, poder compreender no todo como os alemães e seus descendentes foram alvo de atenção da mídia impressa. O critério de escolha desses periódicos obedece, na quase totalidade, ao da continuidade, pois são os jornais que circularam nos anos em que ocorreu a guerra, exceção feita ao jornal O Estado, que iniciou suas atividades em 1915. O estudo está estruturado em quatro momentos, nos quais são descritos as fontes utilizadas, as metodologias, as categorias criadas para a análise do conteúdo jornalístico, bem como um capítulo para cada categoria, a saber: os fatos da guerra e a forma como foram noticiados; os alemães em Santa Catarina e o tratamento dispensado a eles pelos jornais; e, por fim, um capítulo destinado a analisar se a responsabilidade pelo conflito pertence aos alemães ou aos aliados. A descrição das matérias jornalísticas, sua classificação e apreciação crítica são conduzidas a partir das categorias fundamentadas na proposição de Laurence Bardin, em uma metodologia alinhada à análise de conteúdo. A discussão da imagem germânica em Santa Catarina repercute os movimentos de cunho nacional em relação ao conflito, onde se destacam três posições: a corrente alinhada aos alemães, chamada de germanófila; a corrente mais próxima aos aliados, chamada de aliadófila; e a corrente da neutralidade. Como objetivo principal da tese, pretende-se observar como se construiu a imagem dos alemães em Santa Catarina.
32 - Título: “AS SANTINHAS DE CASA QUE FAZEM MILAGRES”: DEVOÇÕES À MARIAZINHA PENNA (SANTA MARIA) E MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA (PASSO FUNDO)
Autor: Francielle Moreira Cassol
Orientador: Gizele Zanotto
Banca: Dr. Lourival Andrade Júnior (UFRN), Dra. Fernanda Kieling Pedrazzi (UFSM), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF), Dr. Gerson Luís Trombetta (UPF)
Defesa: 16/04/2021
Resumo: Maria Zaira Cordova Penna, mais conhecida, na região central do estado do Rio Grande do Sul, como Mariazinha, faleceu aos vinte anos de idade no ano de 1953, vitimada por um doloroso câncer no fêmur. Maria Elizabeth de Oliveira, jovem passo-fundense de quatorze anos e vítima de um atropelamento, teria previsto a sua morte, escolhendo seu caixão dias antes do acidente, no ano de 1965. A história de vida e o que aconteceu no pós-morte dessas jovens é, hoje, motivo de intensa devoção e comoção nos cemitérios das cidades onde estão sepultadas, em Santa Maria e Passo Fundo/RS. As duas jovens se encontram eternizadas nas memórias e nos corações dos que nelas creem. Atualmente, Mariazinha e Maria Elizabeth são dois dos maiores expoentes tratando-se de devoções populares do interior do estado. Diante disso, o presente trabalho busca analisar a criação e o desenvolvimento das duas devoções, bem como a consolidação dos discursos fundadores das santinhas nos ex-votos bibliográficos: hagiografias como vetor de agradecimentos e crença. Para isso, encontra-se embasamento na corrente historiográfica, conhecida como História Cultural; assim como, segue-se, metodologicamente, a História Regional. No que se referem as fontes de pesquisa, o trabalho baseia-se em livros biográficos, fontes jornalísticas e cadernos de memória, estes que foram deixados nos túmulos e preenchidos pelos fiéis com suas memórias e pedidos.
33 - Título: RUTH SCHNEIDER: DIÁLOGOS ENTRE A ARTISTA E SUA OBRA (DÉCADAS DE 1980 E 1990)
Autor: Aline do Carmo
Orientador: Jacqueline Ahlert
Banca: Dra. Cláudia Mariza Mattos Brandão (UFPel), Dr. Eduardo Ferreira Veras (UFRGS), Dra. Gizele Zanotto (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Defesa: 07/06/2021
Resumo: A artista brasileira Ruth Schneider (1943–2003) começou a pintar no final dos anos 1970. Sua trajetória de vida é marcada pelo tema da arte, uma vez que teve uma produção artística pujante. Essas obras foram produzidas até o ano de 2003, quando faleceu, em Porto Alegre/RS. O objetivo da tese é investigar as narrativas presentes na vida e obra da artista que reúnem fatos pessoais e históricos em obras visuais. Por isso, em vez de trabalhar com movimentos e datas, nesta tese, apresento uma visão autoficcional de Ruth Schneider, desenhista, pintora e escultora, construindo-a com base em temas como as “narrativas enviesadas”, o tempo e a memória, a arte e o espaço. A hipótese desta tese é que esses tempos na obra de Schneider são muitos: um tempo é o meu, pesquisadora em frente às obras, documentos, vídeos; o outro é o da própria pintora e da sua produção artística, da técnica que utilizou, suas referências plásticas e estéticas; outro tempo é o da memória de Ruth e de minhas próprias memórias. Com o cruzamento dessas temporalidades, procurou-se as ferramentas mentais da artista, no tempo da produção da obra, para que sejam uma fonte de entendimento do que tornou possível aquela representação. Pretendo estender a análise de Ruth Schneider, pintora passo-fundense, que comecei na dissertação “Arte e história na série Cassino da Maroca de Ruth Schneider”, introduzindo uma mudança de foco no debate, utilizando os arquivos audiovisuais autobiográficos que deram outra perspectiva para a pesquisa: a história das obras contadas pela própria artista. O processo de construção da artista é permeado por táticas que foram sendo tecidas ao longo da sua vida, na experiência concreta da arte. As fontes utilizadas para a pesquisa se constituem, centralmente, de arquivos audiovisuais (74 vídeos VHS do acervo particular da artista), embora também sejam analisadas fontes escritas, entrevistas e materiais iconográficos como: quadros, esculturas, instalações artísticas, diários pessoais, jornais e materiais publicitários. Ao analisar suas ideias, foi possível perceber como ela foi capaz de elaborar obras plásticas que justificam sua forma de existir, bem como sua história. Para tal, foi utilizado o método da história da autoficção, que é “ficção de acontecimentos e fatos estritamente reais”, segundo Doubrovsky (1977), o qual lançou o termo no mercado francês. Vicente Colonna criou uma tipologia da autoficção, usando a autoficção biográfica como um tipo, em que a subjetividade substitui a sinceridade – graças ao mecanismo do “mentir-verdadeiro”. Artista incessante, literalmente conversou com suas obras, deixando o registro deste experimentalismo espontâneo em anotações e gravações audiovisuais. Recortou, pintou, colou, furou e amassou os seus suportes. Desenhava com as mãos, gerando gestos inesperados que explodiam em cores fortes. Sempre pesquisando os processos da forma, utilizou materiais inusitados que estabeleciam entre si relações bastante singulares e criou uma quantidade expressiva de trabalhos que declaram a falência da hierarquia entre pintura, desenho, escultura ou instalação.
34 - Título: “AFOGADOS”: o processo de luta pela terra dos desalojados pela barragem do Passo Real (1967-1988)
Autor: Pedro Vicente Stefanello Medeiros
Orientador: Ironita Policarpo Machado
Banca: Dra. Arlene Renk (Unochapecó), Dr. Ancelmo Schörner (Unicentro), Dr. Marcos Gerhardt (UPF), Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 06/08/2021
Resumo: Esta tese teve como objeto de análise o processo histórico de luta pela terra dos desalojados pela barragem do Passo Real, entre 1967 e 1988. Um processo de luta pela terra que se insere em um conjunto de conflitos rurais gerados pelas contradições das políticas desenvolvimentistas, consolidadas durante o período da Ditadura Civil-Militar. Em 1963, o Estado do Rio Grande do Sul desapropriou cerca de 23.000 hectares de terra para a construção da barragem de acumulação da Central Hidrelétrica do Passo Real (CHE Passo Real), desalojando mais de 2.000 famílias de trabalhadores rurais. A partir de 1967, esses desalojados passaram a constituir ações de luta pela terra. Após as primeiras mobilizações dos desalojados, em 1969, os Governos Estadual e Federal assinaram um Acordo de Cooperação, em que a esfera Federal se comprometeu em reassentar as famílias. Foram pagas exíguas indenizações e, em um primeiro momento, reassentadas apenas uma parte das famílias, com a promessa de reassentamento das outras em uma segunda etapa. Entretanto, o tempo foi passando e o reassentamento do contingente ainda desalojado não se realizou. Assim sendo, os desalojados foram se articulando politicamente para reivindicarem o reassentamento na terra em um crescente contexto de precarização de seu espaço social. Dessa forma, no bojo da conjuntura de reabertura política, desenvolvida a partir do final da década de 1970, o processo de luta dos desalojados do Passo Real passou a ser composto por uma pluralidade de agentes sócio-políticos. Assim, mediante o jogo de forças engendrado pela pluralidade dos agentes envolvidos, identificamos uma problemática caracterizada pela irrupção de disputas externas de articulação política, bem como pelas dificuldades de organização e de coesão internas da luta pela terra dos desalojados do Passo Real, que vivenciavam uma experiência traumática, acumulando mais de uma década sem solução definitiva para o seu problema. Desse modo, o objetivo central desta tese consistiu em compreendermos o sentido do processo de luta pela terra dos desalojados do Passo Real. Metodologicamente, buscamos entender como se produziram as ações de luta pela terra dos desalojados do Passo Real, procurando compreender qual o espaço social dos próprios desalojados, nos discursos e nas práticas desenvolvidas em defesa de sua luta. Assim, constatamos que os desalojados produziram uma memória que deu legitimidade para sua luta e estabeleceu uma identidade simbolizada na alcunha de “Afogados do Passo Real”. Contudo, ainda que esta identidade tenha provido um sentido para sua luta, evidenciamos que os Afogados não conseguiram consolidar uma coerência interna e foram se fragmentando até que seu processo de luta chegou ao fim, sem que todos pudessem conquistar o acesso à terra. Neste sentido, foi possível concluir que a luta pela terra dos desalojados do Passo Real foi um processo de enfrentamento das forças que os afogavam, inserido num campo marcado pela tensão entre relações dialéticas de subordinação e emancipação.
35 - Título: Dom Carlos Duarte Costa: redes de sociabilidade intelectual nas revistas Mensageiro de Nossa Senhora Menina e Luta! (1940-1961)
Autor: Anderson José Guisolphi
Orientador: Gizele Zanotto
Banca: Dr. Cândido Moreira Rodrigues (UFMT), Dra. Renata Agnieszka Siuda-Ambroziak (Universidade de Varsóvia, Polônia/UERJ), Dr. Renato Amado Peixoto (UFRN), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF)
Defesa: 17/08/2021
Resumo: A tese toma o Bispo Dom Carlos Duarte Costa enquanto intelectual engajado na luta antifascista, que ao fundar e dirigir as revistas Mensageiro de Nossa Senhora Menina (1940 a 1946) e Luta! (1946 a 1958), as tornou lócus de sociabilidade e articulação intelectual com outras redes locais e transnacionais também militantes no contexto da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, respectivamente. A partir dos conceitos de Pierre Bourdieu de habitus e de campo, estudamos a posição e movimentos do Bispo no campo religioso e suas interfaces nas redes intelectuais e políticas. A atuação do prelado na imprensa o levou à prisão em 1944 e à excomunhão em 1945, ano em que fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira ICAB. A revista Luta! é estudada enquanto espaço de divulgação de sua nova doutrina e das causas de sua militância e atuação intelectual. A centralidade temporal do estudo está concentrada em dois períodos: a) de 1940 a 1946, período de circulação da revista Mensageiro de Nossa Senhora Menina; b) 1947 a 1961, estruturação da Igreja Católica Apostólica Brasileira, circulação da revista Luta!, e falecimento de Dom Carlos Duarte Costa. No primeiro capítulo abordamos a fase da formação e inserção de Dom Carlos Duarte Costa nas estruturas da Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR, especialmente quando foi Bispo de Botucatu – SP. O engajamento intelectual do prelado tomou visibilidade na imprensa pela luta antifascista durante o Estado Novo no Brasil, simultâneo à Segunda Guerra Mundial na revista Mensageiro de Nossa Senhora Menina, mesmo sob censura do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. O periódico se tornou lócus de sociabilidade e articulação intelectual integrada a redes locais e transnacionais. Objetivamos demarcar o posicionamento e atuação do Bispo nos campos religioso e político a partir do engajamento internacional e local na luta antifascista. Entendemos que as ideias não se desenvolvem por si mesmas e nem tampouco separadas das pessoas que as elaboram e as fazem circular. Estudamos o Bispo enquanto intelectual, com suas ideias produzidas no contexto cultural e histórico em que viveu. O caminho metodológico adotado perpassa pela análise do discurso produzido pelo Bispo e revela a elaboração de redes de sociabilidades intelectuais e seus engajamentos. Para além destes conceitos, nos aportamos no ferramental metodológico da História e Imprensa. Ambas as revistas foram ponto de encontro de intelectuais com itinerários individuais e também coletivos. Elas estiveram envolvidas em processos históricos distintos: Estado Novo e Guerra Fria. As fontes principais da tese foram as coleções das duas revistas associadas ao acervo do Arquivo Secreto do Vaticano, do Arquivo da Arquidiocese de São Paulo, do Jornal Correio Paulistano e outras. O estudo se torna relevante para a compreensão da história da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil e suas relações políticas, econômicas e socioculturais, bem como para o meio acadêmico ao perscrutar redes de sociabilidade intelectual estabelecidas nas revistas analisadas.
36 - Título: PROCESSOS DE GESTÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: O caso da política orçamentária do Instituto Federal Sul-rio-grandense (2008-2016)
Autor: Juliana Favretto
Orientador: Janaína Rigo Santin
Banca: Dra. Maria Augusta Martiarena de Oliveira (IFRS), Dr. José Edimar de Souza (UCS), Dr. João Carlos Tedesco (UPF), Dr. Marcos Gerhardt (UPF)
Defesa: 19/08/2021
Resumo: A educação profissional, no transcorrer de sua história, foi constituída por interesses que atendiam ao sistema político e econômico. Nesse percurso, recebeu várias denominações e diretrizes, bem como atuou na formação profissional para desvalidos, na formação básica, no ensino médio, e, por fim, com a criação dos Institutos Federais, passou a atuar na educação básica, na educação superior, na pós-graduação, na pesquisa e na extensão. A proposta de criação dos Institutos Federais privilegiou a construção de uma nova institucionalidade baseada não somente em mudanças político-pedagógicas, mas também estruturais, inclusive no modelo de gestão. Essas alterações obrigam os gestores a abrir canais para a participação da comunidade escolar e da sociedade civil em seus planejamentos, dada a necessidade de executarem boas práticas de gestão pública, direcionadas à otimização do gasto público e da eficiência na prestação dos serviços oferecidos à sociedade a partir de suas reais necessidades. Sendo assim, esta pesquisa objetivou, na linha de pesquisa Políticas Públicas e Relações de Poder do Programa de Pós-graduação em História, realizar uma análise do modelo de gestão dos recursos públicos na área da educação profissional, utilizando como objeto de estudo a política orçamentária implementada pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), localizado no estado do Rio Grande do Sul, no período de 2008 a 2016. Para tanto, buscou-se identificar como se estruturou essa política no IFSul e como a comunidade escolar e a sociedade civil participaram do processo. A partir da análise, verificou-se como esse processo de democratização da gestão orçamentária da educação pode influenciar na otimização das políticas públicas para a área da educação profissional, a fim de corresponder tanto aos anseios dos estudantes quanto às necessidades da comunidade local. A pesquisa exploratória envolveu uma revisão historiográfica de obras, legislações e documentos internos do IFSul (Planos de Desenvolvimento Institucional de 2009 e 2014, Estatuto, Regimento Geral, Planos de Ação de 2009 até 2016, Relatórios de Gestão de 2008 até 2016, atas de reuniões do Conselho Superior de 2010 até 2016) aliada à realização de pesquisa de campo, a partir dos referenciais da história oral, com a realização de treze entrevistas com representantes institucionais e da sociedade civil sobre o tema. A pesquisa de campo foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo, no ano de 2018, sob o Processo: CAAE 97759818.5.0000.5342. Através das fontes, observou-se que o IFSul foi fruto do processo de remodelação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas (CEFET-RS), o qual possuía um processo de gestão de recursos orçamentários, organizado através do Conselho Diretor. Esse processo foi alterado para adequar-se à nova legislação e às mudanças advindas com o novo formato organizacional dos Institutos Federais. Contudo, essa adequação, apesar de ter oportunizado maior participação da comunidade escolar, não proporcionou maior participação externa nas decisões financeiras e orçamentárias, visto que a participação da sociedade civil somente foi contemplada, conforme definido em legislação, nas reuniões do Conselho Superior, um local mais de ratificação do que propriamente de discussão dos valores e de alocação do orçamento da Instituição.
37 - Título: A PINACOTECA POPULAR: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO NOS ALMANAQUES DE MOLINA CAMPOS (1931-1945) E BEREGA (1979-1999)
Autor: Maria Goreti Baptista Betencourt
Orientador: Gerson Luís Trombetta
Banca: Dr. Ivo dos Santos Canabarro (Unijuí), Dra. Luciana da Costa de Oliveira (IFRS), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF), Dr. Luiz Carlos Tau Golin (UPF)
Defesa: 22/10/2021
Resumo: A presente tese de doutorado tem como objetivo principal analisar o imaginário visual pampeano construído por dois artistas costumbristas, o argentino Molina Campos (1891–1959) e o brasileiro Berega (1934–2012). O estudo se dedica à investigação do imaginário expresso a partir do meio utilizado por ambos os artistas para divulgação de sua obra, os calendários Alpargatas e Ipiranga, respectivamente. A proposta de análise centra-se em uma metodologia criada especificamente para esse fim, que parte de três grandes categorias, chamadas Externa, Interna, e Híbrida, cuja finalidade foi a de colocar todas as imagens as quais foram reproduzidas pelos calendários, Alpargatas, de 1931–36 e 1940–45, e o Ipiranga, de 1979–1999 excetuadose os anos de 1985 e 1987, em que não houve produções. Essas categorias foram lidas através de diferentes aspectos. A saber: a mulher, a parceria, o gaúcho apenas, e o cavalo. Esses elementos foram divididos por sua vez em dois panoramas, Introversão e Extroversão. Com base em conceitos teóricos os quais estruturam as questões levantadas quanto ao imaginário social e às relações arquetípicas, também há o encadeamento desse mesmo imaginário reproduzido no ocidente por obras de arte de diferentes épocas e autores, engendrando uma tessitura que permitiu a identificação do imaginário visual pampeano. Em paralelo e com igual importância está, por fim, a análise do componente estético kitsch, não investigado pelo viés das questões que estruturam a obra kistch e sim relacionado a determinados aspectos das obras estudadas, observado aqui apenas em seu componente emocional que colore tanto as obras dos artistas como um todo, bem como permite entender esse imaginário construído, o qual faz parte do que seria a verdade e a ingenuidade do movimento kitsch, mas que nas obras analisadas não respondem aos quesitos, porém se valem da emocionalidade que faz parte dele e, no caso dos trabalhos analisados, são fonte de produção de sentido.
38 - Título: MARITO E BUOI DEI PAESI TUOI: estratégias familiares de friulanos na região de colonização italiana do Rio Grande do Sul (1880-1964)
Autor: Marinilse Candida Marina Busato
Orientador: Dr. João Carlos Tedesco
Banca: Dr. Javier Pablo Grossutti (UNIPD, Itália), Dr. Antonio de Ruggiero (PUCRS), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF), Dra. Janaína Rigo Santin (UPF)
Defesa: 11/11/2021
Resumo: Por meio da reconstrução genealógica, este trabalho tem como objetivo principal analisar os movimentos de grupos familiares de imigrantes italianos e seus descendentes, principalmente da parte ocidental da região do Friuli Venezia Giulia, localizada ao nordeste da Itália. Para a análise desses núcleos, os sobrenomes são usados como fios condutores do estudo, a começar pela família Santin e suas ramificações. Esses italianos, com experiências anteriores de migrações sazonais para áreas urbanas da Europa Central, a partir de 1880, estabeleceram-se no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, inicialmente na localidade de Dona Isabel, dando vida a uma complexa rede familiar baseada em profissões artesanais. Essa rede se estendeu à localidade de Guaporé, onde o grupo foi analisado até 1964, data do último matrimônio de um descendente da família. Nesse intervalo de tempo, os núcleos parentais fizeram novas migrações para outros pontos da América Latina, mas mantiveram os contatos e laços ainda estabelecidos na Itália. A pesquisa orientou-se, portanto, por este problema central: como se dão os processos de transmutação cultural de friulanos nos espaços de destino migratório, principalmente no campo dos ofícios e das estratégias matrimoniais, para determinar sua fronteira étnico-cultural? Para responder o questionamento prevalecente, foram comparadas as seguintes fontes: registros paroquiais (batismais e matrimoniais) de vários municípios brasileiros e de um município argentino (Mar del Plata); documentos de registro civil brasileiros e italianos (certidões de matrimônio e nascimento); correspondência trocada entre famílias localizadas em diferentes partes do globo; entrevistas concedidas pelos descendentes. A metodologia seguiu a linha da história oral e da micro-história italiana, que, com base em casos específicos, insiste em uma dimensão historiográfica ampliada a nível nacional e supranacional. Não é a falta de estudos sobre a imigração italiana no Brasil que justifica este trabalho, mas o objetivo de demonstrar como a família foi o centro da dinâmica socioeconômica, especialmente em um contexto como aquele de Guaporé, que até o momento tem sido pouco explorado. Compreender as estratégias, os motivos e as especificidades de um processo migratório explica muito das atividades de grupos com profissões qualificadas, ou seja, portadores de características particulares e inseridos em um universo camponês. Evidenciou-se que determinadas tradições laborativas europeias de longa data possibilitaram a reprodução de ofícios na América Latina. Na localidade de Guaporé, por exemplo, emergiram intercâmbios de conhecimentos técnicos e práticos entre grupos de artesãos originários das zonas montanhosas, não só do Friuli, mas também do restante do arco Alpino. Eram grupos originários de regiões italianas vizinhas que apresentavam conhecimentos extra-agrícolas, em grande parte eram alfabetizados e possuíam alguma disponibilidade financeira, o que vislumbrou e viabilizou concretamente novas migrações através de redes ligadas a profissões e relações de parentesco. Alguns se industrializaram, outros, na quinta geração, ainda exercem as profissões herdadas dos antepassados, cada núcleo, porém, procurou conscientemente repropor as redes étnico-culturais e laborativas originárias.
39 - Título: O PROCESSO HISTÓRICO DE REFORMA AGRÁRIA NA FAZENDA ANNONI: da desapropriação à (re)apropriação privada
Autor: Simone Lopes Dickel
Orientador: Dra. Ironita Policarpo Machado
Banca: Dr. Emerson Neves da Silva (UFFS), Dra. Maria Celma Borges (UFMS), Dr. Adelar Heinsfeld (UPF), Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 13/12/2021
Resumo: A presente tese tem como objeto central de discussão o processo histórico de reforma agrária da fazenda Annoni, no norte Sul-rio-grandense, compreendido como uma construção social dinâmica e multifacetada. O processo histórico de reforma agrária na fazenda Annoni congrega uma multiplicidade de experiências, constituídas a partir de determinadas circunstâncias materiais, que engendram uma resposta dos sujeitos às questões do cotidiano que é distinta, uma vez que estes agem com base em certos princípios norteadores que constituem o ser social. A fim de contemplar as três décadas que se passaram desde a implantação dos assentamentos, julgamos pertinente estabelecer como marco inicial o contexto pós 1985, perpassando o processo de titulação das terras, iniciado em 1991 e ainda em curso. Como marco final, estabelecemos o ano de 2015, a fim de evidenciar alguns possíveis desdobramentos do processo de reforma agrária, tendo em vista as mudanças políticas que sinalizam para um processo de retração da reforma agrária, após algumas conquistas importantes dos camponeses. Buscando compreender o processo de reforma agrária em sua concretude, as discussões pertinentes a esta tese giram em torno do tripé que caracteriza o espaço dos assentamentos da Annoni: a emergência de uma questão geracional; a (re) apropriação privada da terra, com o processo de titulação; e as dinâmicas sócio espaciais, que refletem a inter-relação entre esses dois processos. Partindo desses elementos constitutivos do processo de reforma agrária engendrado a partir da inexistência de um projeto que fosse “hegemônico”, julgamos pertinente caracterizar o projeto de reforma agrária do Estado brasileiro (instrumento de revolução passiva) e o projeto de reforma agrária popular (MST), os quais protagonizaram uma disputa simbólica no contexto da implantação dos assentamentos, identificando, para além das divergências entre eles, algumas possíveis lacunas que os constituem. E é diante dessas lacunas, no fazer-se cotidiano da reforma agrária, que se impõem novos desafios e que os assentados buscam concretizar seus próprios projetos, em consonância com as expectativas da família em relação à reforma agrária, mas sob influência de determinadas circunstâncias materiais. A partir da análise de processos de titulação e de outras fontes do INCRA, foi possível apreender uma multiplicidade de trajetórias familiares que reforçam o papel do indivíduo no processo histórico, fazendo da reforma agrária uma construção social complexa, para além das expectativas dos seus agenciadores.
40 - Título: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA SOBRE O CONTESTADO (2001-2019)
Autor: Vanderlei Cristiano Juraski
Orientador: Ironita Policarpo Machado
Banca: Dra. Marcia Janete Espig (UFPel), Dr. Paulo Pinheiro Machado (UFSC), Dra. Gizele Zanotto (UPF), Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Defesa: 14/12/2021
Resumo: Nesta tese, é investigada a formação de um campo de conhecimento histórico sobre o movimento do Contestado, nas duas primeiras décadas do século XXI. O objetivo é identificar tendências da historiografia acerca dos conflitos sociais ocorridos no planalto de Santa Catarina, bem como a formação de um campo de investigação sobre o tema. Essa empreitada se justifica na medida em que o exame do conjunto de teses sobre o assunto é uma contribuição às análises historiográficas, capaz de revelar elementos que transcendem os estudos sobre o Contestado. Pode-se citar, entre outros aspectos, a recente expansão dos cursos de pós-graduação em História no Brasil, as mudanças na epistemologia da Ciência Histórica, além de uma organização institucional por parte dos historiadores em debater a problemática. Já a metodologia utilizada durante esta pesquisa pauta-se na análise historiográfica, empregando como referencial teórico, especialmente, textos de Rüsen (2015), Ricoeur (1994) e Orlandi (2003 e 2005) e como fontes as teses e entrevistas dos quatorze doutores em História cujo objeto de estudo é o Contestado. Por meio dessa investigação, observou-se a constituição de um campo do conhecimento, nos termos de Bourdieu (1989), e uma comunidade de historiadores que compartilham determinados interesses, documentações, referenciais teórico-metodológicos e interpretações sobre o Contestado. De outro modo, as interações entre os intelectuais não estão circunscritas às produções das teses, mas se estendem para a participação em bancas, elaboração de obras coletivas e organização de eventos. Suas interpretações acerca do objeto em análise convergem para dois pontos principais. Inicialmente, esses autores destacam o Contestado como um movimento fluido, dinâmico, integrado às novas demandas sociais – não estando restrito aos anos de guerra (1912-1916). Além disso, ressaltam o caráter popular do movimento social, que se contrapôs de diferentes formas à expropriação das terras e ao cerceamento de direitos como o respeito e a preservação do modo de vida dos caboclos no planalto catarinense. Essas constatações foram verificadas a partir do exame das perspectivas teóricas, métodos e narrativas elaboradas pelos historiadores e identificadas nas carências e funções de orientação das teses produzidas em cursos de pós-graduação em História.
42 - Título: A AGRICULTURA FAMILIAR NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL – REGIÃO DA AMAU (1950-2021): POSSIBILIDADES E LIMITES DE SEU DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Autor: Anacleto Zanella
Orientador: João Carlos Tedesco
Banca: Dr. Everton Lazzaretti Picolotto (UFSM), Dra. Isabel Rosa Gritti (UFFS), Dra. Ironita Policarpo Machado (UPF), Dr. Marcos Gerhardt (UPF)
Defesa: 22/02/2022
Resumo: Esta pesquisa caracteriza-se por uma análise sobre o processo de desenvolvimento da agricultura de base familiar, entre 1950 e 2021, na região da Associação dos Municípios do Alto Uruguai (AMAU), no norte do Rio Grande do Sul – um território caracterizado historicamente pela participação determinante desse setor no seu processo de expansão. No contexto atual, em que o Brasil e o mundo atravessam crises agudas – insegurança alimentar (ampliação da fome), sanitária (pandemia do Covid-19) e climática (aquecimento global), entre outras – este estudo ganha relevância, pois debate o papel multifuncional da agricultura familiar, especialmente para a produção de alimentos saudáveis e para a preservação dos recursos naturais no meio rural. A partir do conceito de desenvolvimento sustentável definido na Agenda 2030 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a pesquisa tem como objetivo central o debate sobre a seguinte questão: quais são as principais potencialidades e limites do desenvolvimento sustentável da agricultura familiar no tempo presente em três dimensões - econômica, social e ambiental – levando em conta tanto a sua trajetória histórica quanto o contexto recente? O desenvolvimento da pesquisa deu-se através de revisão de literatura, sistematização de informações coletadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletânea de notícias nos jornais de circulação local, aplicação de questionário descritivo e de entrevistas orais junto a agricultores (jovens e adultos) e lideranças do sindicalismo e de movimentos sociais. O trabalho sustenta que algumas contradições históricas (como a priorização aos povos imigrantes europeus ou de seus descendentes e a preterição aos povos indígenas, negros e caboclos; a distribuição desigual da terra; o processo de modernização conservadora da agricultura que favoreceu aos agricultores mais bem capitalizados) e outras mais recentes (como o êxodo dos jovens e o envelhecimento da população rural; a concentração das políticas públicas, da produção e da renda agropecuária entre os agricultores consolidados; o avanço do modelo convencional e de produção de commodities agrícolas em preterição aos alimentos saudáveis) bloqueiam o pleno desenvolvimento sustentável da agricultura familiar nessa região. Apesar desses vigorosos limites/contradições, a pesquisa aponta que, no contexto do tempo presente em que há uma necessidade de ampliação da produção de alimentos saudáveis e de enfrentar a crise climática, a agricultura familiar, especialmente nessa região, possui algumas potencialidades singulares - seu papel multifuncional, sua enorme representatividade e a sua forte tradição organizativa (sindicalismo, movimentos sociais e cooperativismo) - que permitem construir uma agenda que mobilize amplos setores sociais no sentido de recolocar a agricultura familiar no centro das políticas públicas do Estado brasileiro e de contribuir decisivamente na perspectiva da efetivação da Agenda 2030 da ONU, especialmente nesse território.
43 - Título: A FRONTEIRA PLATINA: HISTÓRIA E NARRATIVA DA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA NA OBRA DE EFRAÍM CARDOZO “HACE 100 AÑOS: CRÓNICAS DE LA GUERRA DE 1864-1870”
Autor: Jeremyas Machado Silva
Orientador: Dr. Luiz Carlos Tau Golin
Coorientador: Dr. Ronaldo Bernardino Colvero
Banca: Dr. Muriel Pinto (UNIPAMPA), Dr. Adelar Heinsfeld (UPF) adelar@upf.br, Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF)
Defesa: 28/04/2022
A região do rio da Prata é um espaço de arrolamento político-cultural e alteridade, sobretudo, a partir do século XIX. Neste momento histórico, iniciaram-se os processos de independências das colônias de Espanha e Portugal, ocasionando, portanto, um apressado e complexo processo histórico de instauração de nações autônomas que estabeleceram os seus limites fronteiriços nesta região. Neste trabalho, entende-se a região do rio da Prata como um espaço imaginado politicamente e estabelecido pela historicidade de seus agentes, assim, por conseguinte, entende-se esta região através do conceito de ―fronteira platina‖. Sabe se que o maior conflito político-militar ocorrido nesta ―fronteira‖ foi a guerra da Tríplice Aliança (1864 – 1870). Deste modo, estudaram-se as crônicas do historiador e político paraguaio Efraím Cardozo, escritas no recorte temporal de 1965 e 1970. O principal objetivo desta pesquisa foi compreender Efraim Cardozo como expoente de uma nova historiografia sobre a guerra da Tríplice Aliança, passando a influenciar o neo-revisionismo. Ainda que, o autor tenha discutido o tema no transcurso da segunda metade do século XX, cem anos após a consumação da guerra. Efraím Cardozo é pouco estudado no Brasil e suas principais obras que versam sobre a temática: El Imperio del Brasil y el Rio de la Plata: antecedentes y estalido de la Guerra del Paraguay e Hace 100 años: Crónicas de la Guerra de 1864 – 1870 não possuem nenhuma edição publicada na língua portuguesa, entretanto, a sua obra constitui um ―divisor de águas‖ para a historiografia revisionista, principalmente, no Paraguai. Assim, apresenta-se a seguinte problematização: Qual é a abordagem de Efraím Cardozo a respeito da guerra da Tríplice Aliança e como ela se individualiza em relação às abordagens anteriores? Além disso, o enfoque e a narrativa do autor condizem com alguma escola historiográfica? Na metodologia deste trabalho aplicou-se o método hipotético-dedutivo, considerando-se as hipóteses que a historiografia de Efraím Cardozo veiculara aos acontecimentos históricos e, especialmente, ao próprio contexto histórico em que se encontrava o autor estudado. A partir desse ponto, utilizou-se, também, o método dialético. Este método pode ser destacado evidenciando-se a importância de contextualização e investigação de sentidos político-ideológicos nos estudos históricos. Destarte, utilizaram-se como documentação direta as fontes de arquivos (ANA, BNDigital, DAMI e SF) e como documentação indireta as citadas obras de Cardozo e, além disso, outras bibliografias que endossaram a pesquisa. Logo, entende-se que foi imperativo perceber a formação da fronteira platina, a guerra da Tríplice Aliança e, posteriormente, as representações da mesma na obra de Efraím Cardozo considerando a conjuntura política em que este se encontrava no século XX, porquanto, a sua historiografia permanece a influenciando a compressão do tema.
44 - Título: O Choro no Rio Grande do Sul: aspectos históricos, sonoros e socioculturais
Autor: Alexandre Pompermaier
Orientador: Dra. Jacqueline Ahlert
Banca: Dra. Ana Paula Peter (UNESPAR), Dr. Joao Fortunato Soares de Quadros Junior (UFOP), Dra. Gizele Zanotto (UPF), Dr. Luiz Carlos Tau Golin (UPF)
Defesa: 13/10/2022
Esta tese tem como tema a história do Choro no Rio Grande do Sul considerando os processos históricos de chegada, fixação e expansão que se iniciam ainda no século XIX para se consolidarem a partir das primeiras décadas do século XX. Nesta perspectiva propõe-se uma análise que considera os aspectos históricos, socioculturais e sonoros que o gênero apresenta em suas distintas fases considerando tanto os espaços de prática do gênero como a atuação de instrumentistas, compositores, grupos e suas obras. Além disso, busca-se revelar as aproximações e distanciamentos que o mesmo apresenta com as manifestações sonoras de caráter regional, considerando a circularidade destes agentes artísticos conduzidos pela presença do hibridismo cultural como fenômeno intrínseco desta relação. Para realizar tais análises utilizam-se dos conceitos de circularidade cultural, hibridismo, fronteira e noções como a de “síntese” musical e “clivagens históricas” acreditando que somente através desta metodologia que relaciona História e Música enquanto campos de pesquisa será possível compreender este fenômeno musical híbrido e plural sociocultural e sonoramente. Neste sentido, o que se apresenta são os diferentes momentos e acontecimentos históricos que promovem alterações e transformações tanto em sua perspectiva formal quanto estrutural do gênero nas esferas regional e nacional na crença de que no âmbito da cultura essas trocas são constantes e dinâmicas. Em meio à esta abordagem situam-se os elementos essencialmente sonoros que contemplam as relações com as manifestações sonoras regionais representadas essencialmente pela música nativista em seus variados estilos, gêneros e ritmos como vaneira, chamamé, milonga entre outros, que conectam os espaços e artistas que vivenciam o espaço cultural do Rio Grande do Sul. Acredita-se desta forma revelar quando, onde e como o Choro oriundo da capital Rio de Janeiro chega, fixa e se expande pelas mais variadas regiões do Rio Grande do Sul marcando um gênero que nas primeiras décadas do século XXI contava com dezenas de grupos e centenas de instrumentistas e compositores. Artistas que através de suas composições e interpretações abrem caminho para nossas análises acerca da presença ou não de uma vertente estilística marcada por traços socioculturais e sonoros sul-rio-grandenses sustentada nos alicerces das trocas culturais a que a música brasileira como um todo se constitui. Neste sentido, busca-se através de todas essas perspectivas e processos contribuir para a historiografia do Choro no Rio Grande do Sul tendo a ciência de que mesmo contribuindo para diminuir sua lacuna historiográfica muitas portas continuam abertas e outras tantas se abriram e, a partir dessa constatação novas pesquisas devem surgir para que o gênero possa ser ainda mais descoberto e apresentado ao grande público.
45 - Título: PATRIMÔNIO E MEMÓRIA INDÍGENA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO OESTE CATARINENSE
Autor: Valdirene Rotava Tomazelli Chitolina
Orientador: Dra. Jacqueline Ahlert
Banca: Dr. Ronaldo Bernardino Colvero (Unipampa), Dra. Mirian Carbonera (Unochapecó), Dra. Ironita Policarpo Machado (UPF), Fabricio J. Nazzari Vicroski (UPF)
Defesa: 18/10/2022
Esta tese tem como tema o patrimônio e a memória índígena nas escolas públicas do oeste catarinense. É uma resposta ao enfrentamento de muitos desafios em busca de uma educação intercultural, antirracista e humanizada. A pesquisa apresenta uma síntese do patrimônio resultante da longa história indígena dessa região, com base nas narrativas de pesquisadores que versam sobre a história dos caçadores-coletores, Jê Meridionais e Guarani, antes da chegada dos europeus; na produção bibliográfica acerca dos processos de formação territorial que, comumente, invisibilizaram a presença desses grupos; em acervos remanescentes que testemunham parte de seu passado; e, finalmente, em sua representação nos livros didáticos de História, de Educação Básica. Partindo da presença milenar dessas ocupações na região, transpassando o processo colonizador, indaga-se: como a história indígena é abordada no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio nas escolas públicas não indígenas da região Oeste de Santa Catarina? Objetiva-se compreender as abordagens dadas à história indígena de longa duração, observando o passado em conexão com o presente, através das representações da memória e do patrimônio arqueológico (material e imaterial) e em livros didáticos sobre a história e cultura indígena. O estudo justifica-se por diagnosticar e propor uma abordagem significativa sobre a presença indígena histórica e seus sentidos, ancorada na memória, nos remanescentes arqueológicos e demais patrimônios dos povos originários. Destaca-se que é uma investigação exploratória e de campo, com tratamento quali-quantitativo, amparada em fontes documentais, visuais, orais e bibliográficas. Verificou-se que a construção do patrimônio histórico indígena tem diferentes apropriações. No caso da região Oeste de Santa Catarina, ele tem se prestado para cumprir a Lei n. 11.645/2008 e não é partilhado, de maneira efetiva, para o público geral e nas escolas. Muitas vezes a escola, por razões estruturais que perpassam políticas públicas, não trata essa memória e patrimônio de modo significativo, pois, historicamente, não os considera de seus antepassados diretos. Logo, a temática se refere a populações “diferentes” e, até mesmo, “adversárias”, tradicionalmente apresentadas por olhos eurocêntricos; de modo geral, os docentes têm noções científicas limitadas a respeito do assunto, e o material didático acessado não apresenta a complexidade cultural dos povos indígenas.
46 - Título: DA MEDICINA À POLÍTICA: AS DINÂMICAS DA CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIAS DE SI DE NICOLAU ARAUJO VERGUEIRO (1882 - 1956)
Autor: Dhion Carlos Hedlund
Orientadora: Gizele Zanotto
Banca: Dra. Letícia Borges Nedel ( ), Dra. Luciana Quillet Heymann ( ), Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF), Dra. Jacqueline Ahlert (UPF).
Defesa: 01/12/2022
Esta pesquisa discute as circunstâncias e dinâmicas que envolveram a construção de memórias de si de Nicolau Araujo Vergueiro conformadas pelos seus escritos memorialísticos autorreferenciais, vinculadas à vestígios de seu acervo pessoal. Vergueiro foi médico e político da cidade de Passo Fundo/RS, nasceu em 07 de março de 1882 e faleceu em 16 de março de 1956. Sua ascensão para cargos políticos iniciou em 1908 ao ser eleito Conselheiro Municipal de Passo Fundo, posteriormente eleito Deputado Estadual, Intendente Municipal e Deputado Federal; chefe político local do Partido Republicano Riograndense (PRR) e do Partido Social Democrático (PSD); o declínio político ocorre a partir da década de 1930 e o encerramento de suas atividades políticas na década de 1950. Recebeu diversas homenagens em vida e após a morte. Seu acervo pessoal foi doado pelos familiares à Fundação Universidade de Passo Fundo (FUPF) no ano de 2011, sob custódia do Arquivo Histórico Regional (AHR). A pesquisa é de abordagem qualitativa, sob a perspectiva histórica, e se utiliza de revisão bibliográfica e documental para a construção teórica e análise, baseando-se em fontes primárias e secundárias, como os Relatórios da Intendência Municipal de Passo Fundo, dispositivos legais, entrevistas, trabalhos acadêmicos, livros, jornais da época e documentos do acervo. Do ponto de vista interdisciplinar, ressalta-se a relação entre a Arquivologia e a História nos processos de produção, acumulação e tratamento de acervos pessoais, e a influência desses processos no trabalho historiográfico. Os Cadernos de Memórias e os Cadernos de Recortes Documentais dão um sentido próprio à constituição de memória que Vergueiro está estabelecendo e que se sustenta no acervo que acumula, e que depois é doado para a FUPF, assim como as dinâmicas sociais e políticas presentes em acervos pessoais, ao conformarem o patrimônio a ser preservado, assumem um papel importante para a consolidação das memórias de si representadas no acervo e podem afirmar ou silenciar aspectos históricos, inclusive aqueles que o titular projetou para si.