Por: Assessoria de Imprensa
Fotos: Camila Guedes e Luis Henrique de Melo
Ao todo, 33 calouros do curso de Medicina participaram da ação, realizada em parceria com o Hospital São Vicente de Paulo
Um corte de cabelo uniu a estudante Ellen Reichert Parmigiani e a paciente oncológica Elisa Tolomini Schlager. Mas não foi um corte de cabelo tradicional. Elisa foi a responsável por cortar os cabelos que Ellen decidiu doar durante mais uma edição do Trote do Bem. A iniciativa reúne veteranos e calouros do curso de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) para um rito de passagem: durante o Trote, os bixos passam pelo famoso ritual de raspar os cabelos, enquanto as meninas cortam os cabelos, tudo feito por pacientes em tratamento no Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). A ação foi realizada nesta sexta-feira, 1º de março, e reuniu mais de 50 estudantes, entre calouros e veteranos. Ao todo, 24 acadêmicas doaram os cabelos para a confecção de perucas e 9 acadêmicos tiveram seus cabelos raspados pelas crianças e adolescentes, a maior adesão desde que a iniciativa começou.
Após a ação, Ellen não segurou a emoção de participar de um momento tão marcante. Com um histórico de câncer na família, ela conta que não pode doar quando foi bixo do curso porque seu cabelo era curto. Esperou um ano até que ele crescesse e pudesse participar do momento. “Eu estou muito feliz em fazer parte dessa ação. Não foi nada como eu imaginei. Pensei que seria mais tranquilo emocionalmente, mas foi muito emocionante”, pontua. Para a estudante, participar da ação contribui na sua formação, especialmente exercitando a empatia. “É o se colocar no lugar do outro e saber que a gente pode sempre estar a serviço das pessoas. Penso que isso é uma coisa que vai ficar para mim para sempre. Como médica, como Ellen, como pessoa, profissional, é algo que eu vou levar enquanto viver”, garante.
O Trote é, oficialmente para os calouros, mas o acadêmico do quarto nível Pedro Lucas Dross não resistiu ao convite do pequeno Miguel e participou da ação pela terceira vez. O motivo? “Simplesmente não tem um porquê. É só um sentimento, uma alegria imensa estar aqui. Na verdade, eu vim totalmente despretensioso. Não era a intenção de doar e eu criei uma conexão tão grande com o Miguel, que ele mesmo veio até mim, me pegou pela mão e falou ‘vou cortar o seu cabelo’. E diante de um pedido desses não existe eu dizer não. Não há possibilidade de dizer não”, comenta. Para o acadêmico, a ação, apesar de simples, significa uma forma de ser inspiração e dar alegria para outras pessoas. “Como futuro médico, enquanto eu puder lutar e batalhar, seja com qualquer coisa, eu vou dar o meu melhor e eu vou tentar dar pelo menos a minha melhor versão”, complementa.
Para quem está do outro lado, o Trote do Bem também é marcante. Elisa foi uma das pacientes que ajudou nos cortes de cabelo. Aos 17 anos, ela já é veterana na ação, é sua terceira participação: “É algo emocionante! Ver pessoas que estão aqui para, de certa forma, ajudar a dar força também para as pessoas que estão passando pelo tratamento”, comenta. De Santa Rosa, Elisa vive uma rotina exaustiva no hospital, por isso, acredita que ações como o Trote ajudam a melhorar esse processo. “A rotina do hospital é bem cansativa, principalmente para quem é de longe. Apesar de aqui ter todo um cuidado para fazer ficar confortável, não é a mesma coisa que você estar na sua casa. É uma rotina muito diferente, você não vê muitas pessoas. Então, essas ações ajudam no processo, porque são um momento de descontração para todos que estão aqui”, diz.
Ação ocorre desde 2017
O Trote do Bem é uma iniciativa da Associação Atlética Acadêmica Gaúchos de Passo Fundo da Escola de Medicina que ocorre desde 2017. A proposta, segundo o presidente da Atlética Fernando Dezordi, é fazer uma “espécie” de iniciação aos bixos, seguindo uma tradição antiga de raspar os cabelos dos calouros, de forma que o primeiro contato dos novos acadêmicos seja com os pacientes da Oncologia Pediátrica do HSVP. “É uma forma de já entregar o primeiro valor que eles vão levar para o resto da vida deles, pessoal e profissional, que é abrir mão de algo que a gente considera como muito valioso, que é a nossa estética, mas que é supérfluo, e para quem está sendo paciente aqui na oncologia é um ato de entrega, de abrir mão de algo mão daquilo que a gente considera valoroso para se dedicar ao próximo, para os nossos pacientes”, explica.
A iniciativa, inclusive, já ganhou grandes proporções e foi pauta do programa Encontro. “A ideia é manter essa tradição, porque a gente vê que tem um resultado muito bom. O pessoal lembra desse dia para sempre, desde a turma que idealizou o projeto, lá em 2017, as turmas que vieram depois, todos lembram até hoje desse dia. Até mesmo nossos pais, nossos familiares lembram do dia com bastante carinho e isso é bastante importante”, acrescenta.