“O fim da violência de gênero passa por uma mudança na forma como educamos as crianças”
21/08/2024
14:17
Por: Caroline Simor
Fotos: Caroline Simor
Promotora de Justiça Ivana Battaglin abordou o tema na conferência que celebrou os 20 anos do Projur Mulher e Diversidade
A violência de gênero não é uma novidade na história da civilização. Ao longo dos séculos, mulheres foram perseguidas e mortas apenas por serem mulheres e a luta por direitos e representatividade é uma questão que segue na linha de frente dos principais debates. Ao celebrar 20 anos de atividades, o Projur Mulher e Diversidade, projeto de Extensão da Faculdade de Direito da UPF, trouxe o tema para dentro da academia e reuniu estudantes, professores e lideranças locais para a Conferência Direitos Humanos e Relação de Gênero. Ministrada pela Promotora de Justiça Ivana Battaglin, a palestra apresentou dados e reflexões sobre as causas e as soluções a respeito da violência de gênero.
Entre estatísticas e casos reais de violência no Brasil e no mundo, Ivana destacou que um dos fatores que mais impactam neste cenário é a educação. Segundo ela, ao longo dos anos as mulheres foram transformando suas posturas, comportamentos e ampliando sua inserção na sociedade. Esse empoderamento, visto nas mais variadas áreas, trouxe consigo um novo conflito social: os homens não mudaram na mesma proporção da mudança das mulheres. O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado em julho deste ano, reforça a ideia trazida pela palestrante: todas as formas de violência contra mulheres tiveram aumento de casos. Ainda, segundo a Agenda 2023 de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2022, o país é o 5º do mundo no ranking de violência contra a mulher.
Embora existam muitas leis para o enfrentamento da violência, Ivana ressalta que é preciso mais. Para ela, o fim da violência de gênero passa pela forma como as crianças são educadas e o fim da reprodução de comportamentos tidos como naturais no passado. “Nenhum de nós, nem mesmo vocês, que são tão jovens, vão viver num mundo com equidade de gênero. Não vão. Mas daí a gente se pergunta: o que estamos fazendo aqui, então? É por conta do que nós estamos fazendo agora, cada um de nós, nos empenhando por essa igualdade de gênero, que os nossos descendentes poderão viver um dia num mundo com igualdade de gênero e, portanto, sem violência”, disse.
Um debate permanente na Universidade
Presente no evento, a reitora da UPF, Bernadete Maria Dalmolin, ressaltou o compromisso da Universidade em trazer para as salas de aulas discussões sobre temas de relevância social. Conforme ela, o perfil comunitário e a preocupação da Instituição com questões que implicam na vida das pessoas, fazem da UPF um espaço aberto ao diálogo e as transformações. “Somos uma Universidade comunitária e temos um compromisso na construção de uma sociedade melhor. Não podemos nos calar diante de uma situação tão dramática quanto essa da violência contra a mulher e aqui registro o reconhecimento do trabalho da Faculdade de Direito e da própria Universidade na luta por um mundo sem esses cenários de violência. Precisamos falar sobre isso, precisamos debater e enfrentar isso de forma coletiva para que possamos juntos encontrar as ferramentas capazes de avançar”, frisou.
O diretor da Faculdade de Direito, Rogério da Silva, destacou a importância do Projur Mulher e Diversidade e ressaltou a criação do projeto antes mesmo da Lei Maria da Penha. Para o professor, a temática tem sido cada vez mais abordada, mas na UPF, esse assunto sempre foi uma preocupação. “Hoje se fala muito na pauta da violência contra a mulher, mas quando o Projur Mulher começou a trabalhar, sequer existia a Lei Maria da Penha. Isso mostra o protagonismo dessa Universidade Comunitária, isso mostra o protagonismo do curso de Direito, que tem muito enraizado nos seus projetos de extensão a sua relação com a comunidade e a formação e a experiência de formação dos nossos alunos, que passam por dentro dos projetos”, destacou.
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