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UPF e APAE Passo Fundo propõem uma nova ferramenta para a triagem do TEA

27/09/2024

17:11

Por: Caroline Simor / Assessoria de Imprensa UPF

Fotos: Caroline Simor

Proposta de instrumento para potencializar a identificação do Transtorno do Espectro Autista foi entregue à secretária estadual de Saúde e servirá de modelo no Rio Grande do Sul

Um dos desafios para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é a dificuldade de um mapeamento das crianças e a materialização de ferramentas que possam auxiliar de maneira efetiva nesse processo. Pensando nisso, a Apae de Passo Fundo juntamente com a Escola de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), desenvolveu a Escala Mini-TEA, uma proposta de instrumento para a triagem do Transtorno. O estudo, publicado recentemente, foi entregue para a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann e agora será utilizado como referência para melhorar os índices e possibilitar o tratamento e atenção mais antecipados.

Conforme o professor responsável pela pesquisa, Cassiano Forcelini, a demanda para diagnóstico do TEA é extremamente alta, porém são poucos os profissionais capacitados para fazer a avaliação. Ele explica que existem ferramentas hoje, mas elas são recomendadas para crianças entre um ano e quatro meses até dois anos, ou seja, com a demora na avaliação, esse período não é contemplado. “No mundo ideal, todas as crianças teriam sido triadas até os dois anos, isso é obrigatório, mas no mundo real isso não acontece. Quantas crianças foram avaliadas pelo pediatra para saber se podem ter ou não? A maioria nunca foi avaliada. Então esse é um ônibus que a gente já perdeu, esse ônibus já passou e não tem mais como ele voltar. A gente tem que achar um outro caminho para chegar onde a gente quer. Pensando nisso, nós procuramos ver algum instrumento no Brasil que possa ajudar a viagem”, conta.

Ainda segundo Cassiano, os instrumentos que existem como Escala M-Chat ou CARS (Escala de Pontuação para Autismo na Infância), além de não contemplaram idades mais avançadas, são extensas, subjetivas e algumas são caras. “Se nós combinássemos um instrumento que fosse fácil, que fosse inteligível, que fosse rápido e que ninguém precisasse de treinamento, só lê e aplica? Que o professor pudesse fazer isso, que o profissional da saúde possa fazer isso, que o profissional da assistência social possa fazer isso sempre que tiver o contato. E mais, sem sequer precisar da criança, uma vez que a escala é direcionada para o familiar responsável? Por isso nós idealizamos um instrumento que combinasse as melhores coisas do M-Chat”, explica, destacando que o formulário leva, em média, oito minutos para ser aplicado.

Para testar, o grupo também desenvolveu uma pesquisa inédita em campo, avaliando todas as crianças entre dois anos e meio e 12 anos no município de Coxilha. Os resultados foram significativos, contemplando 474 crianças e tirando da fila de espera dois em cada três que estavam aguardando diagnóstico, se mantendo fiel na repetição da aplicação e com uma sensibilidade de 98%. De acordo com Cassiano, essa pesquisa permite agora buscar um olhar macro para o país, uma vez que não existem dados sobre a quantidade de crianças diagnosticadas com TEA no Brasil.

Modelo para o Estado
A secretária de Saúde Arita Bergmann esteve no evento que também marcou o 2º Encontro Estadual do Programa TEAcolhe, promovido pelo Governo do Estado. Com a presença de representantes de Apaes de vários municípios, além de instituições e centros de referência, ela destacou a importância da união de esforços para que problemas reais sejam solucionados.

Em sua fala, ela falou sobre a preocupação do Governo em oferecer ferramentas adequadas para a saúde em suas múltiplas realidades e pontuou que somente com a parceria de instituições e entidades, como a UPF, será possível evoluir e melhorar o atendimento a esse público. “Hoje, só temos que agradecer essas trocas, esse apoio mútuo, essa rede fantástica que temos no Estado. De fato, o TEAcolhe foi estruturado e é uma grande inspiração para mostrar que é possível que as redes estejam atendidas, apoiadas e fortalecidas. É com alegria que anunciamos hoje que a Escala Mini-TEA será utilizada como ferramenta padrão para todo o Estado e que, juntos, vamos seguir fortalecendo esse estudo, ampliando sua atuação, para que cada vez mais crianças e famílias sejam atendidas e possam ter um diagnóstico do TEA seguro e rápido”, frisou.

Para a reitora da UPF, professora Bernadete Maria Dalmolin, esse trabalho mostra não apenas a importância da pesquisa, mas da academia enquanto espaço de produção do conhecimento e da Universidade enquanto espaço de partilha e construção coletiva. Ela lembrou que no passado, antes de plataformas e ferramentas, o TEA já era uma pauta que pais e familiares buscavam compreender com a ajuda da UPF. “Ali começávamos, por meio dos projetos de extensão, de atividades acadêmicas, os primeiros trabalhos na região, buscando apoiá-los. Por isso, hoje é um momento muito feliz, porque vemos que nós estamos produzindo ciência, produzindo trabalho qualificado e que isso chega na sociedade. Nós precisamos nos olhar cada vez mais para que a assistência, a atenção à saúde, a pesquisa e o ensino qualificado aconteçam de forma sinérgica”, observou.

A atividade contou com a presença da secretária de Saúde de Passo Fundo, Cristine Pilatti; do presidente da AACD, Luiz Otávio Gama; do presidente da Apae Passo Fundo, Marlon Moraes; e das representantes do Programa TEAcolhe Josiana Hertel e Regina Ampese.